06 | Finalmente Neil Josten

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Nathaniel estava sedento para jogar, mas tinha esquecido o quanto Kevin podia ser insuportável em quadra. Como já o conhecia, tinha uma boa preparação psicológica para se segurar e não dar um soco nele, contudo, não conseguia parar de rolar os olhos a cada frase que saía da boca do mais velho.

Ele tinha entregue a mala de dinheiro à Ichirou e acabou decidindo ficar com seu antigo celular. Uma das razões foi que o Moriyama havia deixado alguns contatos que poderiam ser úteis, de acordo com ele mesmo. O ruivo sabia do que aquilo se tratava. Ele era um investimento e Ichirou facilitaria sua vida até ele conseguir retornar toda a "gratidão". Nathaniel não fez questão de olhar a lista, desejando que nunca precisasse daquilo.

Ele também tinha aceitado a proposta de Wymack. O garoto era a mais nova raposa de Palmetto. Ele ainda não conseguia processar a informação e não sabia se logo se acostumaria, mas era o que tinha no momento. Agora ele era um atacante e, assim sendo, passava a maior parte do tempo com Kevin no estádio. Com ele e Andrew. Nathaniel não pensou que seria diferente, visto que os dois praticamente não se desgrudavam. Quando ele deixava Kevin treinar um pouco sozinho para descansar, já que, por mais que tivesse tirado seus pontos, não estava em sua melhor forma, e se sentava na arquibancada, ele e Andrew sempre engatavam em algum assunto. Normalmente trocavam ofensas, um costume agora adquirido, mas às vezes o curso se desviava e eles acabavam falando de alguma outra coisa.

— Por que não treina com a gente? — perguntou, uma noite, curioso com a rotina de Andrew de dirigir até o estádio e simplesmente ficar o tempo todo sentado, como uma estátua. O loiro estava de lado, dando ao ruivo a visão de seu perfil. Os olhos de Nathaniel voaram para os pontinhos prateados brilhantes na orelha de Andrew. Ele ostentava um brinco no lóbulo e três piercings na cartilagem. Antes, ele não havia percebido, mas agora, que sempre ficavam tão próximos na arquibancada do estádio, era impossível não reparar. Ele sempre ficava com uma estranha vontade de tocar as joias, mas se continha no mesmo instante que o pensamento vinha em sua mente. Com certeza o loiro o mataria se ele se atrevesse a tocar nele.

— Nem todo mundo é obcecado por exy igual vocês dois. Na verdade, acho que ninguém é, além de vocês dois.

— Não fica entediado?

— Eu sempre estou entediado.

— Menos quando conversa comigo — ele provocou, se lembrando da conversa de outro dia.

— Não lembro de ter te dado passe livre para ficar falando comigo — Andrew estreitou os olhos.

— Então por que está respondendo? Ah, sim, você não consegue ficar calado sem me retrucar.

— Você fala quinze mil idiotices por segundo, é difícil não discordar.

— Viu? Como eu disse — Nathaniel provou seu ponto.

— Acho que você está com a impressão errada de mim — o loiro se aproximou, os olhos frios encarando os azuis vívidos do outro. — Só porque está no time agora pode pensar que somos amigos, mas adivinha? Não somos. Espero que entenda isso sozinho ou eu posso te fazer entender de outros jeitos.

Nathaniel abriu um sorriso sacana.

— Desculpe, mas você está me ameaçando ou flertando comigo?

Andrew sorriu com escárnio.

— Depende do ponto de vista.

— Qual você acha que é o meu ponto de vista?

— Vendo que você não cala a boca, deve ser o segundo — Andrew parecia prestes a perder a paciência.

— E, por acaso, o seu ponto de vista é diferente do meu?

— Com certeza, eu tenho padrões elevados. Agora, fica quieto, você pode tentar não ser insuportável, pelo menos por um dia?

HURT ROADOnde histórias criam vida. Descubra agora