08 | Pequenos infernos por toda parte

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Os dois saíram rapidamente da sala e foram para o camarim ao lado. Os olhos de Neil se arregalaram assim que viram a cena. Riko estava lá e prensava Kevin contra a parede, sussurrando alguma coisa em seu ouvido, seus olhos cortantes carregados de repulsa e ódio.

Andrew reagiu mais rápido e arrastou Riko pelo ombro, o jogando com força na outra parede. Riko fez uma careta de dor, mas riu alto, se levantando logo depois.

— Ah, claro, o seu drogadinho de estimação está aqui — seus olhos se voltaram para o ruivo. — Nathaniel, como é bom te ver.

Neil fechou os punhos, controlando as mãos para não tremerem. Ele sentiu uma ligeira falta de ar. De esguelha, viu Andrew agachado ao lado de Kevin, o verificando.

O corvo se aproximou e Neil ficou paralisado no mesmo lugar, impossibilitado de fazer algo se não surtar internamente. A expressão que Riko sustentava era insana e era possível perceber uma afetação adquirida por meio de drogas. Suas pupilas quase rodavam pelos globos oculares.

— Relaxa, eu não estou aqui para terminar o que eu comecei naquele dia. Eu só quero conferir se sua coleira continua firme no pescoço porque, meu caro amigo, você pode brincar nesse time condenado o quanto quiser, eu deixo. Quando eu me cansar dessa nova diversão de ver você e Kevin como dois fracassados, eu volto para interromper seu descanso. E aí você será um corvo de novo, tudo bem? Kevin é uma causa perdida, mas você não — Ele apertou o ombro de Neil com força e deu dois tapinhas na bochecha do garoto. — Seu lugar é do meu lado, você sabe disso, e eu estou disposto a conceder todo o perdão do mundo para você porque sei que você vale a pena. Somos amigos desde pequenos, lembra? Sempre estivemos juntos — o garoto abriu um sorriso alucinado. — Então aproveite suas férias enquanto pode, Nathaniel.

E, com essas palavras, esbarrou no ombro de Neil e saiu da sala sem olhar para trás.

— Onde ele pensa que vai? — Os olhos de Neil se voltaram para Andrew. Ele não tinha percebido antes, mas o loiro já estava em pé, perto dele, pronto para seguir Riko.

— Não! — Neil segurou Andrew pelo ombro, instintivamente, mas logo soltou, como se tivesse tomado um choque, ao ver a expressão colérica do outro. — Desculpe, eu não quis... — Ele percebeu que aquilo tinha sido um erro, é claro, mas não era o momento mais adequado para se explicar. — Ir atrás dele só vai piorar as coisas. O Kevin...

Andrew se virou, seguindo o olhar de Neil, e os dois puderam ver que o mais velho ainda se mantinha no chão, encolhido contra a parede. O ruivo se adiantou e se ajoelhou ao lado de Day.

— Kevin, ei, olha para mim — Neil levantou o queixo dela com a mão, o obrigando a aceitar o contato visual. — Está tudo bem, isso não é um sonho. Respira fundo. Ei, presta atenção. Conta comigo — Neil levantou seus dedos e foi guiando Kevin. — Um...dois... — O mais velho inspirava e expirava de acordo com as instruções do amigo. — Três... isso, quatro...

Neil tinha perdido a noção do tempo. Não sabia até quando estivera ali, sentado na frente de Kevin e nem se estava ajudando o amigo ou a si mesmo. Tudo que podia pensar era em Riko e no que ele tinha falado. Neil estava fazendo de tudo para não se afogar, mas sentia sua respiração entrecortada e o nó na garganta. Tinha sido um erro achar que tudo poderia ficar bem por um tempo. Ele nunca seria livre e isso era aterrorizante.

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Depois do encontro com Riko, Kevin e ele ficaram abalados. Nenhum dos dois, muito menos Andrew, contou à Wymack ou à outra pessoa o que havia acontecido, mas o comportamento anormal dos garotos não passou despercebido. Kevin foi visto mais frequentemente com alguma garrafa de uma bebida alcoólica qualquer e reclamou menos nos treinos da semana seguinte, o que era uma reação inusitada, já que normalmente ele descontaria no time sua raiva. Neil conseguia esconder melhor suas emoções, mas estava fumando mais compulsivamente. Toda vez que esbarrava com Andrew, os olhos do loiro iam direto para o cigarro, como se ele soubesse que a nicotina estava sendo usada como sua válvula de escape. Neil se sentia completamente exposto e odiava isso. O loiro não tinha expressado suas suspeitas abertamente desde a entrevista, mas parecia mais atento a Neil do que de costume.

HURT ROADOnde histórias criam vida. Descubra agora