02 | Cicatrizes de Evermore

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Assim que Kevin abriu a porta do quarto 317, dois novos pares de olhos os encararam. Nathaniel reconheceu apenas um, o gêmeo de Andrew, mas todos os dois se levantaram de imediato, os rostos surpresos em reconhecimento. Sua tatuagem não deixava espaço para dúvidas.

— Temos uma visita especial! — o tom de Andrew deixava o ruivo nauseado. Ele nem queria saber o quão drogado ele estava.

— O que um corvo está fazendo aqui? — o garoto que ele não soube identificar perguntou.

— Pois é, o que um corvo está fazendo aqui? — Andrew lhe deu um sorriso grande sem mostrar os dentes, gesticulando para o quarto. Ele parecia um apresentador peculiar de algum canal televisivo fracassado. Nathaniel teve uma estranha vontade de pegá-lo pelos ombros e sacudi-lo.

Génial. Mais deux personnes pour le public. As-tu peur de moi Kevin? (Excelente. Mais duas pessoas para a plateia. Por acaso você tem medo de mim, Kevin?)

— É falta de educação falar em um idioma que as outras pessoas no local não entendem. Sem francês por aqui, tudo bem? — Andrew o olhou, com os olhos cerrados, e seu tom parecido com o de uma professora do primário não serviu para amenizar a desconfiança de Nathaniel.

Mon Dieu Kevin tu n'as jamais su choisir des amis n'est-ce pas? (Meu Deus, Kevin, você nunca soube escolher seus amigos, não é mesmo?) — Nathaniel soltou uma risada cínica.

Oui tu en est un bon example (Sim, você é um bom exemplo disso) — Kevin respondeu, ácido.

Sob o olhar assassino de Andrew, Nathaniel o olhou e, como se falasse com uma criança, mentiu: — Eu disse para ele que seus novos amigos são extremamente cativantes e ele concordou.

— Tá, isso foi bem falso — o garoto moreno cruzou os braços. — Ninguém nunca nos elogiaria e Kevin nunca concordaria mesmo se alguém elogiasse.

— Gênio — o gêmeo de Andrew disse sarcasticamente para ele, rolando os olhos.

— Aaron! Kannst du bitte an meiner seite bleiben? (Você pode, por favor, ficar do meu lado?) — Nathaniel reconheceu o alemão naquele tom irritado.

— Nicky, cala a boca — Andrew apontou um dedo para o garoto e depois o encostou na boca, pedindo silêncio, como se Nicky fosse uma enorme dor de cabeça que não passava.

— Foi um prazer conhecer vocês, — Nathaniel deixou cada palavra pingar com zombaria excessiva. — mas meu assunto é com Kevin.

— Logo, seu assunto é comigo — Andrew retrucou, passando a mão pelas braçadeiras pretas nos braços.

— Nathaniel... — Kevin puxou a mão dele, fazendo com que o garoto se virasse e o encarasse, com um aviso reluzente nos olhos, e Kevin o soltou, sabendo que havia pego o caminho errado. — Riko vai te matar.

Nathaniel respirou fundo e mordeu a língua, impedindo a si mesmo de falar tudo o que tinha vontade. Com as mãos em punhos nos bolsos do moletom, ele analisou o ex-companheiro atentamente.

— Quando foi que você ficou tão mole? — cuspiu a pergunta. O mais alto abriu a boca para responder, mas logo fechou. Nathaniel balançou a cabeça em negativa. — Talvez quando Riko quebrou sua mão?

Kevin deu um passo para trás e agarrou a bancada da cozinha ao seu lado, como se tivesse levado um soco.

Nathaniel vacilou por um instante e engoliu em seco.

— Então é verdade — não era uma pergunta, era uma afirmação amarga demais. — Riko... não. Por quê?

— Achei que todos soubessem que Riko é um babaca. Você está mesmo surpreso? Ele deve ser bem legal com os corvos, então. É claro, menos com Kevin. — Nicky comentou desnecessariamente, prestando atenção na conversa como se estivesse lendo um tablóide.

HURT ROADOnde histórias criam vida. Descubra agora