09 | Espírito de equipe

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Dor.

Ao contrário do que muitos acreditavam, a adrenalina de bater em alguém não libertava Neil da dor. Talvez com outra pessoa isso acontecesse, mas não com ele.

Seu punho pulsava com a dor e ardia como o inferno. Tinha certeza de que não havia dado um bom golpe, talvez pudesse ter realmente ferrado com sua mão.

Ele amaldiçoou Nicky internamente. A grande questão sobre dar um soco em alguém é que você quer que a pessoa sinta dor. Se não for por isso, não há motivos para dar. E ele esperava muito que Nicky estivesse chorando de dor no momento, principalmente para compensar sua mão machucada.

Já fazia um tempo que ele não batia em ninguém. Não que as pessoas à sua volta não merecessem. Pelo contrário, em todos seus anos de vida ele sempre esteve muito mal acompanhado.

O grande problema é que a violência é um vício. Ela te alimenta até um ponto e depois você que tem que alimentá-la. Além disso, Neil se odiava nessas horas porque suas semelhanças com seu pai se acentuavam de um jeito que ele mesmo não conseguia se distinguir do outro. Depois que a adrenalina passava, o medo se apoderava dele. Medo de ter ido longe demais, de não poder mais se separar de Nathan, de estar virando ele. Por isso era grato pela dor. Ela o impedia de perder o controle.

Em Evermore, a violência era a resposta para tudo.

Lá, havia duas personas diferentes dentro dele. A que se ajoelhava e a que fazia os outros se ajoelharem. A semelhança entre as duas era que ambas estavam com uma coleira no pescoço sob o nome de Riko.

Os corvos não eram apenas um time, eram praticamente uma seita. Era irônico, diante das coisas que aconteciam por lá, os jogos eram de menor importância. A sujeira estava nos bastidores, nos dormitórios, nos vestiários fedendo a sangue, nas festas, nas drogas, nas bebidas e no sexo. Era o pequeno paraíso de Riko e o grande inferno de qualquer um que não se drogava o suficiente para passar por aquilo tudo.

Neil estava no automático. Não se lembrava de ter saído da boate ou de ter entrado no táxi. Sua mente apenas despertou quando o motorista estacionou no dormitório das raposas. Era frustrante que aquele era o único lugar para o qual ele podia voltar, mesmo sendo onde ele menos queria pisar no momento.

A viagem ficou um pouco cara demais, mas ele tinha levado uma boa quantia de dinheiro e não se importou. Pelo menos com isso ele podia contar, afinal.

Subiu as escadas da torre e abriu a porta do dormitório, pronto para se enfiar no chuveiro.

— Cansou de seguir os monstros?

Ele não estava sozinho. Ele deixou seus olhos se moverem, focalizando Seth sentado no sofá, mais ao fundo. Não era nenhuma surpresa ele estar acordado, afinal.

— Por que você não cuida da própria vida?

Seth sorriu.

— Pelo mesmo motivo pelo qual você não arranja uma namorada para si mesmo.

Neil soltou uma risada.

— Então é disso que se trata, não é? Claro, a Allison — Ele deu um passo em frente. Neil poderia apenas ter dado meia volta, mas toda sua paciência tinha evaporado naquela madrugada. Talvez fosse bom resolver suas pendências com Seth, seja lá quais fossem. Era um bom dia para botar os pingos nos is. — Tem alguma coisa que você queira me dizer?

Seth piscou os olhos e se levantou, jogando o controle da televisão no sofá.

— Só fica na sua.

— Ou o que?

— Ou eu acabo com você. — O sorriso sumiu do rosto do camisa 6. — E eu não estou brincando, pode apostar.

Neil abriu um lento sorriso e disse a palavra que, ele sabia, acenderia a raiva de um cara como Seth: — Tenta.

HURT ROADOnde histórias criam vida. Descubra agora