XVII

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"É amanhã, logo pela manhã já estarei na arena." - penso enquanto tiro o figurino que fez a platéia ir ao delírio.

Vou para cama e ergo as cobertas até a altura do queixo. Por mais que eu precise dormir, essa noite meus pensamentos me assombrarão. Não me forço ao sono, apenas deixo a mente fluir trazendo os pensamentos.

A uma semana atrás eu e Charlie meu melhor amigo estávamos nas ruas do distrito 12 procurando qualquer trabalho rápido em que ganhássemos um pouco de comida ou qualquer outra coisa que pudesse ser trocada por um pedaço de pão. Sabia que não conseguiria muita coisa, mas se desse para alimentar minha família já bastava.

Minha família... Meu coração se aperta ao lembrar do pequeno Billy me acordando pela noite com medo de dormir sozinho. Eu sou mais que um irmão para ele, sou o referencial, o pai dele. E agora eu fui embora, não sei se ele será capaz de entender. Nem eu sou capaz de entender.

Canso de pensar, olho para cima e apenas observo o teto bem acabado. Viro para o lado e vejo as horas em um pequeno painel em cima do criado. O pouco tempo que pensei ter passado, foram na verdade duas longas horas. Meu tempo está passando, minha vida está acabando. Não vou ficar aqui sem fazer nada no pouco tempo que me resta.

Levanto, vou até o enorme armário e visto roupas comuns e sem graça. Passo pelo espelho e me observo sobre a fraca luz refletida. Meu cabelo bagunçado é a moldura perfeita para o semblante triste, esqueço minha aparência e vou em direção a porta. Abro-a bem devagar para não fazer barulho e caminho em passos leves até o final do corredor, desço as escadas e chego na sala.

Me aproximo do elevador e aperto o botão para descer. As portas simplesmente não se abrem, aperto novamente e nada.

- Já tentei. - a voz de Laura soa em um tom desanimador atrás de mim.

- Pelo visto, eles nos querem presos aqui. - digo me virando.

- Não é aqui que eles nos querem presos. - fala ela a alguns metros de mim.

- Na verdade eles não nos querem presos, nem aqui e nem em lugar algum. Eles nos querem mortos. - falo fixo aos olhos dela.

- Me perdoa. - diz ela.

Não sei o que responder, sinto como se ouvisse a voz de um velho amigo que não via a muito tempo.

- Senti saudades de você. - falo.

Laura corre rapidamente em minha direção e me envolve em um abraço apertado. Ouço seu choro enquanto meus braços se cruzam sobre suas costas.

- Eu sinto muito, você nunca mereceu as coisas horríveis que te falei - ela sussurra.

- Xiii, não fala nada - peço a ela.

Ela tira o rosto dos meus ombros e encara meus olhos. Laura chega mais perto, se aproximando cada vez mais, até que seus lábios se encontram aos meus.

O tempo congela para que possamos apreciar um ao outro. Nossas bocas se movem em um ritmo devagar. Sinto seu cheiro e o gosto de seus lábios, eu a desejo como nunca desejei.

É engraçado, vivemos longos anos de amizade, depois longos anos de repulsa e agora, prestes a sermos mortos, nos apaixonamos. E dessa vez não foi só eu que desejei um beijo.

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Estamos na cobertura, deitados no chão, nossas mãos estão entrelaçadas pelos nossos dedos. Ninguém fala nada, apenas observamos as poucas estrelas que brilham devido as luzes da Capital.

- Tudo que estiver ao meu alcance para nos proteger, eu irei fazer. - falo.

- Não, você não... - tenta Laura.

- Não é uma opção. Já decidi. - interrompo.

Ficamos ali por mais algumas horas, até decidirmos que deveríamos dormir. Descemos o primeiro lance de escadas e já estamos no corredor. Paramos na porta do quarto de Laura.

- Obrigada. - diz ela apertando levemente minha mão.

- Eu não fiz nada. - retruco.

- Você sempre faz tudo.

- Boa noite Laura. - lhe beijo no rosto e me viro em direção ao meu quarto.

- Nicolas! - chamou ela.

- Oi?

- Você pode dormir aqui comigo? Não sei se conseguirei dormir nesse quarto sozinha.

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Gente mil perdões pela demora, estava estudando para um concurso.

Agradeçam a Soraia, minha amiga super fã da Fic, que está sempre me pedindo para postar novos capítulos.

Até o próximo!!

70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora