XXI

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15...14...13...

Olho para todos os ângulos possíveis. Estou no meio de um gigantesco cruzamento, de uma cidade em ruínas. Consigo ver quatro espaçosas avenidas interligadas pelo cruzamento. Prédios com estruturas antigas, manchados e destruídos, contornam essas avenidas. O chão é de asfalto, velho e desgastado.

Eu e os outros 23 tributos estamos em cima de uma base, que nada mais é do que outro círculo de metal. Nossas bases estão a uns cinco metros de distância umas das outras, posicionadas em quatro fileiras que formam um quadrado exato. Bem ao centro do quadrado de tributos avisto a cornucópia, um grande monumento em formato de um cone deitado, deve medir uns dois metros. O cone é revestido de um tipo de metal escuro. Mochilas e armas estão posicionadas uma atrás das outras, como um caminho para dentro da cornucópia, que com certeza deve ter coisas muito melhores empilhadas lá.

7... 6... 5...

O tempo está passando, logo o jogo começará oficialmente. Procuro por Laura e a encontro. Ela está em uma fileira a minha esquerda, ao seu lado consigo ver Annie Cresta.

3... 2... 1.

Os tributos saem de suas bases correndo ferozmente em direção a cornucópia. Eu não sei o que devo fazer. Preciso pensar, mas não tenho tempo! Olho para frente e em meio a vários tributos lutando, vejo Laura correndo em direção a uma das avenidas. Brad, o garoto do distrito 1, surge atrás dela e a pega de uma vez pelos cabelos jogando-a no chão.

Corro intrepidamente em direção a ela, mas estou muito distante, a uns cinquenta metros dela. Eu não vou conseguir salva-la, eu não vou cumprir minha promessa. Brad pula para cima de Laura com um machado na mão. Ele passa a ponta do machado levemente sobre o queixo dela, ela se contorce, seu rosto implora por piedade. Ele ergue o machado, mas ela grita algo para ele que o faz parar com o machado no ar.

Isso Laura, enrola ele até eu conseguir chegar por trás e o matar, estou agora a uns dez metros de distância deles.

Uma faca passa por mim cortando meu braço esquerdo. Me viro e vejo que a garota de olhos puxados do distrito 2, está lançando várias facas em minha direção. Tropeço em alguma coisa e caio no chão. Meu braço arde muito e o sangue já começa a escorrer. Vejo que a coisa em que tropecei nada mais é do que uma garotinha, que deve ter uns 12 anos, seus olhos estão vidrados e um profundo corte em sua garganta cria uma enorme poça de sangue ao seu redor.

A garota do distrito 2 está muito perto, ela pula selvagemente caindo de uma vez com os joelhos sobre meu abdome. Seus olhos fitam os meus como uma víbora. Ela gira habilidosamente uma faca sobre seus dedos.

- Será uma pena desperdiçar um rosto como o seu. - diz ela com um sorriso malicioso. - Quem sabe se eu começar pelos braços, depois o pescoço e por último seu lindo rostinho.

Tento me mexer para que ela saia de cima de mim, mas suas pernas são fortes e me imobilizam facilmente. Ela passa sua faca por dentro da ferida no braço, fazendo com que o corte fique mais profundo. Grito de dor e ela sorri satisfeita.

Não sei o que fazer, mas essa puta não vai me matar! Olho para o lado em busca de opções e nas mãos da menina morta em que tropecei, vejo um punhal. Meus dedos vão em busca dele minuciosamente, arrasto meu braço direito pouco a pouco até agarra-lo.

- Doeu muito querido? Aposto que sim, vamos testar agora como é a dor no pescoço?

- Com certeza! - em um movimento rápido, enfio a ponta afiada do punhal em sua garganta.

Ela tenta buscar o ar sem sucesso, suas pernas afrouxam enquanto o sangue jorra de sua garganta sujando todo meu rosto. Tiro ela de cima de mim. Seu corpo cai de bruços no chão, pego a mochila em suas costas e corro para salvar Laura.

Ah meu Deus! Onde está Laura? Não a vejo mais! Brad e ela sumiram! Preciso procura-la.

Vários corpos estão no chão. E vários tributos ainda estão lutando. Um garoto alto todo coberto de sangue olha para mim. Ele começa a correr em minha direção. Sem pensar escolho uma das avenidas e corro em sua direção o mais rápido que posso.

Posso ouvir os passos do garoto atrás de mim ecoando pela enorme avenida, vejo uma rua a direita e entro nela, pulo para dentro de um beco escuro entre dois prédios e me abaixo atrás de várias caixas de lixo. Olho por entre o espaço das caixas e vejo o garoto correr pela rua sem nem olhar para o beco. Fico ali imóvel e aliviado.

Depois de um longo tempo me levanto e dou uma olhada nos arredores. Nenhum tributo a vista. Saio lentamente do beco olhando para todos os cantos e sigo em direção ao final da rua. Não posso ficar exposto aqui, preciso achar um lugar para passar a noite.

Com passos rápidos, ando pela calçada suja e cheia de buracos. Uma loja do outro lado da rua com várias placas de madeira fixadas sobre a vidraça, me chama a atenção. Seria o lugar ideal para me esconder durante a noite. Atravesso a rua e giro a maçaneta da porta, está emperrada, pego distância e forço meu ombro contra ela. A porta se abre, revelando uma pequena mercearia fantasma. Lembro de Haymitch no trem falando que eu nunca sobreviveria na arena fazendo isso. Espero que ele esteja assistindo isso agora.

Empurro uma das estantes vazias contra a porta, para me assegurar de que eu não tenha visitantes. Sento no chão e deixo que minha mente repasse esses piores minutos da minha vida.

Laura... Será que Brad a matou? Mas eu não vi o corpo dela! Ela conseguiu fugir? Não, seria impossível alguém como Laura sair de baixo de alguém como Brad. Será que ele a sequestrou? Mas para quê? Para eu poder procurar por ela fazendo com que eu vá direto à ele, assim ele me mata como prometido. Tenho que pensar em um plano... Com certeza ele não irá matar ela agora, afinal é eu quem ele quer. Talvez eu consiga trocar minha vida pela a dela, mas para isso eu não posso morrer até os encontrar, por que se eu morrer antes dele me matar, ele matará Laura sem hesitar. Estou proibido de morrer por enquanto, a única pessoa que irá me matar será Brad, do contrário ele matará Laura e eu não deixarei que isso aconteça.

Preciso me hidratar e me alimentar, nas edições anteriores vários tributos morreram por desidratação e desnutrição. Não há nada que eu possa comer nessa mercearia, as estantes estão vazias, os freezers estão desligados e com mofo proliferando por dentro. Tudo aqui está coberto de poeira.

A mochila! Talvez eu tenha sorte.

Me sento encostado em uma das paredes, tiro a mochila das costas e começo a ver o que tem dentro dela. Retiro primeiro uma garrafa cheia de água, minha boca saliva só de vê-la, logo após retiro um pequeno cubo de borracha escrito em um dos lados ''bote inflável'', para que vou usar isso aqui? Essa não é o tipo de arena com rios e água em abundância, ainda bem, pois eu não sei nadar. Tiro também um pequeno extintor, que poderá ser útil se acontecer um incêndio em um desse prédios, um par de luvas e botas com presilhas aderentes ao que parece ser todo tipo de material, uma longa e resistente corda, um grande saco de dormir e graças a Deus, 3 pacotes de biscoito.

Como alguns biscoitos e tomo um gole de água. Meus músculos começam a doer devido aos esforços que fiz para sobreviver. Me lembro dos olhos da garota em quem eu tropecei... Ela era tão jovem que podia ser minha irmã Lisa. Lembro também da garota do distrito 2 que tive que matar, seu sangue ainda está sobre minha pele. E com certeza estará para sempre em minha alma.

Afasto os péssimos pensamentos e me concentro em lembrar da minha família. Lembro dos cachos dourados de meu irmão Billy que ficavam bagunçados pela manhã, já até posso sentir o cheiro do café que minha mãe fazia bem cedo, antes de Lisa e eu levantar-mos.

As boas lembranças me acalmam e acabo pegando no sono.

****

Ouço um barulho estranho vindo dos fundos da loja, me levanto devagar, carregando o punhal em minha mão. Percebo que o dia já se foi e a noite escureceu a arena. Fico entre duas estantes e ouço passos leves se aproximando.

Estou alerta e preparado para um combate. Não posso morrer agora, isso seria o fim de Laura.

A pessoa avança lentamente pelo corredor de estantes. Está alguns passos de passar por mim.

O tributo mal aparece e eu já estou em cima dele, pronto para lutar.

- Tranks socorro! - grita a pessoa com uma voz feminina.

- Annie? - pergunto tentando ver seu rosto no escuro.

- Nicolas? É você? - pergunta ela.

70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora