II

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- Nicolas Stronger! Onde está você querido?

Meu nome, ela acabou de dizer o meu nome. Um rápido e idiota instinto me faz correr, todos os garotos abrem espaço para mim. Consigo ver Charlie em meio a multidão, seu semblante demonstra grande tristeza e muita piedade.

Eu realmente pensei que conseguiria fugir daquela sentença de morte. Até que algum passificador disparou seu raio paralisante em mim. A tensão foi tão forte que senti meus músculos enrijecerem, até meu corpo perder completamente os sentidos e tudo se apagar.

Abro os olhos, logo sinto um delicioso cheiro de flores e amaciante para roupas. Estou deitado em uma cama que caberia tranquilamente toda minha família. O lustre logo acima de mim reflete a luz em milhares de pedaços sobre os cristais. Pelo leve zumbido que escuto, deduzo que estou em um trem. Eu nunca entrei em um lugar tão bonito como esse, o colchão é tão macio que meu corpo implora para que eu permaneça deitado. Mas não posso, sei o porquê de eu estar aqui. Vou ser levado à arena para morrer como um animal!

Levanto bruscamente da cama, o que faz com que minha cabeça quase exploda de dor. Me forço a continuar em pé e procuro um jeito de fugir daquele quarto. Não posso usar a porta, pois com certeza vários passificadores estarão me esperando. As janelas! Vou até uma delas e percebo que não são janelas comuns, o vidro é inteiriço e as extremidades são fixadas no aro. Uma idéia me vem à cabeça, pego distância e jogo meu ombro direito sobre o vidro. Não causa um arranhão, ao vidro. Pego distância e me jogo sobre a janela novamente. O segundo impacto foi tão forte que caio no chão segurando meu ombro, estou gemendo de dor.

Clap, clap, clap. Esse é o som das palmas de Haymitch logo na entrada do quarto.

- É exatamente desse jeito que se vence os Jogos Vorazes! - pelo seu tom de voz percebo que ele está embriagado.

O que ele disse, me deixou extremamente envergonhado. Estou tão desesperado que nem percebi o quão idiota foi a minha ação.

- Quem disse que eu quero vencer a porra desses jogos? - tento levantar meu orgulho.

- Ual! - ele finge surpresa. - Ficou esquentadinho? É melhor você guardar sua raivinha para arena, já que para pensar você não é tão bom assim.

Meu sangue ferve, não consigo evitar. Corro para perto dele e acerto seu maxilar com os nós dos meus dedos. O forte barulho é acompanhado com o movimento involuntário do seu rosto para o lado direito. Ele volta a olhar para mim e passa a mão sobre os lábios sujos de sangue.

- Então você gosta de bater? Quer saber? Eu também adoro. - foi o que ele disse antes de segurar meus ombros e me atingir com o joelho no meio das pernas.

- Arghh - caio no chão de tanta dor, o pior de levar um golpe desse é a dor que vai se alastrando para o abdome, chega na cabeça e depois a vontade de vomitar.

A única coisa que sai da minha boca é um líquido amarelo no tapete felpudo com cheiro de pinho.

70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora