XVIII

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- Nós prometemos que casaríamos um dia lembra? - pergunto a Laura, que está deitada sobre o meu peito,

- Lembro, é claro. - responde ela.

- Pelo visto não poderemos cumprir.

- É... - as palavras dela ecoam como se sua mente estivesse vagando pelo tempo.

O quarto está frio e estamos deitados na cama de Laura, nos cobrimos com um mesmo edredom composto por uma grossa camada de tecido. Há poucas horas beijei uma garota pela primeira vez, mas me sinto como se isso tivesse acontecido a muito tempo. Estamos juntos como sempre sonhei, exceto pelo fato de estarmos prestes a sermos mortos. Não quero pensar nisso.

****

Laura e eu estamos em uma floresta e só sobrou nós dois. Meu rosto está irreconhecível, meus braços estão erguidos para cima e estou segurando uma grande e pesada pedra. Laura está deitada no chão logo à minha frente implorando para que eu não a mate. O ser que no caso sou eu, não dá a mínima para os gritos angustiantes dela. Meus dedos se abrem e a grande pedra cai das minhas mãos esmagando sua cabeça.

- Não! - grito ofegante.

- Nicolas o que foi? - pergunta Laura.

- Oh meu Deus, eu a matei!

- Matou quem Nicolas?

Laura, ela é quem me faz perguntas? Eu não a matei. Eu não estou na arena.

- Você teve um pesadelo. - fala Laura.

Sou incapaz de responder. Esse no sonho realmente sou eu? Eu seria capaz de fazer algo assim? Não sei, respondo para mim mesmo. Minha resposta me arrepia. O que na arena seria tão terrível que poderia mudar meus princípios, meu caráter? Me tornar um assassino.

Paro de olhar fixamente para frente e encaro os lindos olhos castanhos de Laura. Ela me observa cuidadosamente, não está com medo. Ela confia em mim. Deveria mesmo confiar?

Laura cuidadosamente ergue seus braços a minha volta me envolvendo em um abraço suave.

- Foi muito ruim? - pergunta ela.

- O pior de todos. - respondo.

- Esquece isso, deite aqui comigo.

Ela passa a mão em meus cabelos e eu recuo ainda assustado com a imagem do seu rosto me implorando para viver.

- Ei, ei. - chama ela puxando levemente meu queixo.

A encaro.

- Confie em mim. Confia? - pergunta ela se aproximando.

- Confio. - respondo.

Ela encosta seus lábios aos meus docemente.

Aconteça o que acontecer, eu protegerei Laura, mesmo que isso signifique minha morte. Independente das circunstâncias, ou do meu nível de insanidade, ela confia em mim e eu confio nela.

70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora