70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)

IV

Depois do discurso revoltante, o jantar foi servido. Ai meu Deus! Eu nunca vi tanta comida assim. Uma Grande costela de carneiro está ao centro, contornada por diversos tipos de carnes. Na parte esquerda, acompanhamentos como purê ao molho e batatas assadas com queijo exalam um delicioso cheiro. Na parte direita da mesa, molhos e condimentos estão organizados como obras de arte. Sento e sou servido com um generoso pedaço de costela por um avox de cabelo ruivo. Diversos tipos de talheres contornam meu prato, eu não sei como usar isso. Que se dane! Pego o pedaço de costela com as mãos e mordo com toda vontade. A carne macia e suculenta faz magica em minha boca.

Effie está me olhando, completamente assustada. Ela posiciona um guardanapo sobre a boca, enojada com a situação. Começo a gargalhar sem qualquer pudor, pedaços de comida mastigada saltam pela minha boca. Ela se levanta e sai correndo com o guardanapo ainda sobre a boca.

-Não vai esperar a sobremesa Effie? - grita Haymitch, morrendo de rir.

- Você é realmente nojento garoto. - disse Laura, olhando para mim.

Parece um flashback, eu sendo menosprezado pela Laura. Só que dessa vez não tem ervilhas na história, mas sim um delicioso carneiro assado. Ela também se levanta e sai.

- Não se preocupe garoto, são só mulheres, sendo mulheres. - começo a criar um pouco de simpatia pelo Haymitch.

- Quando vamos chegar na Capital? - pergunto para ele.

- Provavelmente amanhã, no começo do dia. Está ansioso?

- Gostaria que esse trem nunca chegasse lá.

- É melhor você começar a encarar a realidade garoto. Não vai ser fácil.

- Jura? Pensei que ser assassinado em transmissão nacional seria moleza. - arrisco o sarcasmo.

- Você pode até ser assassinado, mas vamos fazer de tudo para que isso venha ser adiado o quanto for possível. - ele pode ser o bêbado mais idiota do mundo. Mas não é como os habitantes da capital, que encaram como diversão a chacina sangrenta que os jogos são.

O resto do meu dia se resume a comer até não caber mais. Já pela noite, antes de irmos para nossos quartos, Effie nos convoca no vagão com TV para assistirmos a transmissão que mostra como foi a colheita em todos os distritos.

Assistimos a todas as colheitas nos distritos, crianças e adolescentes com os olhos cheios de medo, choram em silêncio quando seus nomes são sorteados de dentro da urna. Quando chega na parte de nossa colheita, vejo Effie chamando Laura e logo após me chamando pela primeira vez, ninguém se apresenta. Ela chama novamente e todos os meninos olham para mim. Me vejo correndo e depois debatendo no chão por conta do raio paralisante. Effie desliga a TV.

Vou para o meu quarto tiro toda minha roupa e parto para de baixo dos macios edredons. Penso em como será o dia de amanhã. Até que começo a lembrar da minha família. Minha mãe, Lisa minha irmã do meio e Billy o caçula. Meu peito se aperta quando penso que agora minha mãe e Lisa terão que trabalhar em dobro, já que não vou voltar. Minha mãe é passadeira de roupas e Lisa faxineira do edifício de justiça. Espero que elas consigam sobreviver sem mim. Não consigo conter as lágrimas, choro até pegar no sono.

Acordo com Effie batendo na porta e me chamando para o café. Tomo meu banho e visto as roupas que estavam separadas para mim no armário. Blusa cinza, calça cinza e sapatos cinza. Não ligo para a falta de cores melhor do que minhas roupas furadas.

Chego no vagão onde fazemos as refeições. Effie está vestida com um vestido curto repleto de estrelas amarelas. Sua maquiagem é tão pesada que ela parece uma boneca de cera sem qualquer imperfeição. A não ser pelos cílios gigantescos, o cabelo verde de meio metro todo empilhado e os brincos de estrelas gigantescas. As pessoas da capital se vestem assim. Nos distritos, se você veste algo, já pode se considerar um sortudo.

Laura olha para mim e vira o rosto. A roupa que ela veste é completamente cinza, como a minha. Ela sempre foi linda. Seu cabelo castanho claro está preso em um rabo de cavalo, sua boca delicadamente rosada faz contraste com sua pele branca e macia. Eu sempre desejei beija-la, mas com certeza ela nunca irá me considerar, afinal eu sou o garoto nojento.

Haymitch,está com seus cabelos loiros que chegam até o queixo totalmente desgadelhados, suas roupas de dormir estão cobertas por um roupão verde escuro. Estamos em plena manhã e ele já está sentado ao redor da mesa se embebedando.

Pela janela, avisto silhuetas de diversas formas e tamanhos, são prédios enormes e magníficos.

- Ual! - chego perto da janela para enxergar melhor.

Bem Vindos a Capital queridos! - Diz Effie.