XXII

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- Sim Annie, sou eu. - falo ainda em cima dela.

- Por favor não me mate Nicolas! - ela me olha apavorada.

A meu Deus, estou em cima de Annie e todo coberto de sangue da garota do distrito 2.

- Não Annie, eu não vou te matar!

Uma forte pancada na parte de trás da minha cabeça, me surpreende, vários pontinhos pretos escurecem devagar minha visão. Apago.

****

- Nicolas? Acorda! - alguém me chama.

Minha cabeça está latejando, abro os olhos devagar e uma Annie em versão embaçada está à minha frente.

- Oi... Você está bem? - pergunta Annie.

- O que estamos fazendo aqui? Onde estamos? - pergunto, não consigo me lembrar de nada.

Minha memória volta rapidamente e sinto inveja daqueles poucos segundos de esquecimento.

- Acho que ele perdeu a memória Annie. - diz Tranks, encostado em uma estante, logo atrás de Annie.

- Não se preocupe com isso, estou bem. - falo.

- Ah Nicolas, nos perdoe. Tranks achou que você ia me matar e lhe acertou na cabeça. - Annie segura minhas mãos.

Suas mãos são macias e quentes.

- Está tudo bem, ele fez o que era preciso para te proteger.

- Está tudo bem? Você se esqueceu onde estamos? - Tranks franze a testa enquanto fala.

Ele tem razão, só um sobrevive. Nada está bem.

- Tranks! - Annie olha para ele com desaprovação.

- Ele está certo Annie. - falo. - Não está tudo bem.

- Nicolas, onde está Laura? Ela está bem? Ouvi vários canhões hoje. - Annie muda de assunto.

- Você ouviu canhões? - pergunto.

- Sim, o barulho de canhão que é acionado quando um tributo morre. Ouvi vários quando estava fugindo da cornucópia, depois daquela hora não escutei mais nenhum.

- Estranho, eu não escutei barulho nenhum de canhão. - falo abismado.

- Talvez não tenho ouvido porque estava muito ocupado matando algum tributo. - Tranks fala encarando as manchas de sangue pelo meu corpo.

Não confio nele, assim como ele não confia em mim.

- Tive que matar sim. - me levanto. - Se eu não matasse, teria minha garganta estraçalhada.

Annie me segura, me impedindo de avançar até Tranks.

- Levantou por quê? Vai me matar também? - pergunta ele.

- Já chega! Não é hora disso. Nós precisamos ficar juntos. - interrompe Annie.

- Até quando Annie? Dentro de alguns dias um só entre todos aqui estará vivo. - fala Tranks, revoltado.

Annie se afasta de mim, vai até Tranks e segura o rosto dele, olhando com carinho para seus olhos.

- Infelizmente isso irá acontecer. E nós não podemos fazer nada. Mas por enquanto precisamos de nos aliar, para que pelo menos um de nós possa voltar vivo para casa. - Annie termina de falar e o abraça.

Ouço um som de trombeta ecoando pelo espaço.

- Os mortos. - fala Annie.

Avançamos até uma vidraça, limpo o vidro com minha mão para que possamos olhar para o céu. A luz da lua ilumina levemente toda a arena.

70ª Edição, Jogos Vorazes (CANCELADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora