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Mais uma noite em que nenhum dos dois conseguiu dormir.

Desde que ela retornou à sua vida e passaram a viver debaixo do mesmo teto, o sono havia se tornado um luxo raro para ambos.

Ele mergulhou no passado, revivendo sua trajetória. Lembrou-se do momento em que descobriu onde ela estava, que tinha um filho e vivia sozinha.  Tinha a certeza de que Loreto havia lhe usado e depois abandonado.

...

- Me promete que vai cuidar delas. – Pediu Diana Elisa, se preparando para a cesariana após passar mal.

- A senhora não vai morrer. – Disse Inês, tentando tranquilizá-la, mesmo consciente da gravidade.

No quarto, Diana Elisa não permitiu a presença do marido, que nem estava ao lado dela quando passou mal durante a madrugada. E menos ainda a mãe, que só complicou sua vida e, de certa forma, foi responsável pela perda de seu único e verdadeiro amor.

-  Por favor, pare de me chamar de senhora. – Ela pediu de novo, com a voz cansada.  – Estou exausta, Inês. E a última coisa que quero é que minhas filhas sejam criadas pela minha mãe. – Era uma suplica. - Elas merecem mais.

- Vai dar tudo certo! - Inês apertou suavemente sua mão e ofereceu um sorriso encorajador.

- Tá bom! – Respondeu sem fé. – Mas me promete. Promete que, se algo me acontecer, você vai cuidar delas. Como se fossem suas.

- Senhora... –  Inês queria deixar a fazenda o quanto antes e esperava que, com o nascimento da bebê, as coisas se ajeitassem entre eles. Não podia continuar ali, amando-o.

- Eu sei sobre vocês dois. - Confessou Diana Elisa, encontrando o olhar de Inês. - Sei do amor que existe entre vocês.

- Eu... eu...

- Está tudo bem!

- Eu nunca lhe faltei com respeito. - Afirmou Inês, sentindo-se constrangida.

- Eu sei! - Respondeu com um sorriso fraco. - Quando te trouxe para cá, pensei que, ao dar a ele o que ele amava, a convivência seria mais fácil. Acreditei que talvez ele pudesse prestar um pouco mais de atenção nas meninas. - Ela sorriu ao lembrar das filhas. - Mas sabe? Mesmo com o clima esquisito entre vocês dois, ele tem passado mais tempo com as filhas recentemente. - Acrescentou com um suspiro. - Pelo menos com elas.

- ... Ele te ama. – Inês a interrompeu. – Do jeito dele, mas ama.

- Não, ele não me ama. – Respondeu, desviando o olhar enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto e por sua alma. – Eu também não o amo. Nosso casamento é uma farsa. Casei-me grávida de outro, e ele nunca me perdoou por isso. - Secou o rosto, e Inês ficou sem saber o que dizer. – Eu também amava outro, e nunca neguei isso.

- E-eu... sinto muito...

-  Não precisa dizer nada. Só quero que saiba que, assim como você tem sua história, eu também tenho a minha. - Ela suspirou, as lágrimas ainda caindo. - O pai de Diana morreu na prisão. - Confessou, a voz embargada. Não conseguia tirar da cabeça que sua mãe havia mandado colocar drogas na mochila de João Paulo. - Joguei essa responsabilidade em cima do Victoriano, sem que ele quisesse. E no fim, mesmo tendo prometido a ele que seria uma boa esposa, eu falhei. Não consegui dar a ele o que ele queria.

- Diana...

- Mas a ti, ele ama. - Interrompeu, olhando-a com seriedade. - Mesmo que se tratem com indiferença e até algum ressentimento, é evidente que há algo mais entre vocês...  Vocês precisam resolver o que quer que seja isso.

- ... Inês baixou o olhar, ciente de que ele nunca a perdoaria.

- Ele pode ser teimoso e rude, mas te ama. Só não está sabendo lidar com esses sentimentos. - Diana apertou a mão de Inês, como se lesse seus pensamentos, e lhe deu um pequeno sorriso. - Além disso, minhas filhas vão precisar de você.

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