Escuridão

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Ponto de vista de Gulf
Mew empalidece diante do texto e das fotos. É a primeira vez que eu o vejo preocupado. Passando as mãos nervosamente pelos cabelos, ele anda de um lado para o outro parecendo um leão enjaulado. Depois de várias voltas ele solta um grito frustrado. Mike é quem o segura pelo braço e diz:

- Calma, Mew. Vamos resolver isso.

Antes que ele consiga falar mais alguma coisa, meu celular, o celular de Bui e o de Mike começam a tocar simultaneamente. Ainda segurando Mew, atendemos os três e uma confusão de diálogos toma conta da já tensa situação. Foi Mild quem me ligou, perguntando onde estávamos, dizendo que estava a caminho com James. Pela expressão de Bui, era Boun ao telefone e Mike aparentemente estava falando com Pirat. Em menos de cinco minutos estão todos ali, abraçando Mew e dizendo que aquilo não vai ficar assim. O pai de James é advogado e já foi informado do ocorrido. Quando Mew consegue recuperar novamente a voz, ele diz:

- Não quero nenhum de vocês envolvido nisso. Vou ter que encarar meus pais, mas nada do que fiz foi ilegal. Se vocês continuarem a andar comigo serão marcados e discriminados por associação e eu não vou permitir isso. Tenho certeza de que o reitor vai abrir uma investigação e o melhor para vocês é se afastarem de mim agora mesmo. Você também, Gulf. Para seu próprio bem.

Ele só pode estar brincando comigo. Nem em mil anos eu vou me afastar dele!!!! Eu abro a boca, já pronto para brigar com ele, mas quem fala é Tay.

- Deixe de ser idiota Suppasit. Ou você realmente acha que nós todos não sabíamos que você é o Ílios? Como pode ser tão inteligente e tão burro ao mesmo tempo?

Eu e Mew nos olhamos completamente atordoados. Tay é doce e inocente, só que quando usa sua inteligência e perspicácia, se torna imbatível. Pirat dá um tapinha no ombro de Mew e continua de onde Tay parou.

- Companheiro, nos conhecemos sua voz, seus trejeitos e até suas aventuras. Você realmente achou que não saberíamos? Bom, o Bui não sabia, mas o resto de nós, que convive com você há anos sabe dizer como está o seu humor apenas pela forma como você caminha.

- Além disso, somos seu amigos. Estamos envolvidos até o pescoço! Nenhum de nós vai largar você. Principalmente não agora que precisa da gente! Ou você não escutou o James dizendo que já falou com o pai dele e que ele vai conversar com você ainda hoje? E é como você disse, você não fez nada ilegal!

Boun parece um pouco exasperado por conta da preocupação com seu amigo. Eu percebo que todos eles estão pensando em maneiras de ajudar e apoiar Mew. Desistir e dar as costas à ele está completamente fora de questão.

- Eu nem sei o que dizer. Vou ter que ligar para os meus pais. Contar o que aconteceu. Eles não são puritanos, mas têm uma imagem a zelar. Isso os afetará negativamente. Céus! Eu devia ter imaginado que isso aconteceria...

- Ei! Estou desconhecendo o Mew que anda conosco desde sempre! Você nunca foi de abaixar a cabeça e nem de permitir que a culpa o consumisse. Vamos lá! Você não fez nada ilegal! Meu pai vai ajudar a resolver essa confusão. Ânimo! Estamos juntos nessa!

- Vocês são minha família! Obrigado! De verdade! Mesmo estando disposto a enfrentar isso tudo sozinho, confesso que a presença e apoio de vocês é mais do que  bem-vinda!

Com um abraço coletivo, nos preparamos para enfrentar a batalha que vem ao nosso encontro, esperando que o destino não seja tão cruel conosco.


Narrado em terceira pessoa

Apesar do apoio incondicional de seus amigos, a grande maioria dos estudantes se afastou do grupo. Alguns ainda demonstraram apoio, mas passaram a também sofrer bullying. Fofocas, cochichos, olhares assustados e outros tantos maldosos seguiam o grupo por onde quer que eles fossem. Tentaram inclusive imputar a Boun, Mike, Tay e Pirat comportamentos e ações que nenhum deles teve. Inventavam estórias, anônimos escreviam calúnias nos quadros de avisos do campus e até mesmo Bui, Gulf e Mild foram pegos no fogo cruzado entre o grupo e seus inimigos invisíveis. Todos os oito começaram a receber cartas ameaçadoras, mensagens de ódio e repúdio, sugestões de que era melhor saírem da universidade para seu próprio bem...

Os pais de Mew souberam da situação pelo próprio filho, mas ao invés de explodirem e brigarem, como Mew acreditou que fariam, eles simplesmente entraram em contato com a reitoria, demandando uma conversa com o reitor, que não estava nada satisfeito com a conduta imoral de um de seus alunos, afinal o prestígio da universidade estava em jogo. Ameaças de expulsão foram feitas, vários professores se dirigiram a Mew expressando seu desagrado e decepção com o aluno brilhante que ele sempre fora.

O próprio reitor teve uma dessas conversas com Mew, que já não aguentava mais a situação e quase estava concordando com a idéia dos pais de ser transferido para uma universidade nos Estados Unidos para terminar seu curso. Ele estava aguentando aquilo apenas porque sabia que Gulf não poderia ir com ele. Não havia nada no mundo que fosse mais importante que permanecer ao lado de Gulf. Havia também a culpa que o consumia por ter envolvido seus amigos numa intricada teia de ódio e intolerância.

Entretanto, o orgulhoso reitor precisou capitular e desistir das ameaças, já que após o contato com a polícia e o advogado dos Jongcheveevat, foi informado de que nenhuma lei havia sido infringida. Mesmo inconformado, ele precisou abaixar a cabeça e se resignar. Contudo, Mew perdeu as monitorias e atividades extras que seu talento e carisma haviam conquistado.

Claro que as lives terminaram completamente. Os fãs de Mew mandavam mensagens de apoio, fizeram até um abaixo-assinado e mandaram para a universidade, condenando a atitude hipócrita das pessoas em relação ao suposto comportamento devasso do rapaz. Apesar de grato pela onda de apoio, Mew já não queria mais nada daquilo. Ele apenas desejava sua vida de volta e a paz e tranquilidade que experimentava antes do escândalo.

Como se não bastasse a pressão e o repúdio que sofriam na faculdade, Mew e Gulf passaram a ser vítimas de atos de vandalismo. A porta do apartamento de Mew foi pixada com palavras de ódio. O responsável conseguiu passar pela portaria e pelas câmeras de segurança usando um capuz e seu rosto nunca foi descoberto. A moto de Mew foi depredada no estacionamento da universidade e ninguém viu nada. O quarto de Gulf e Mild no dormitório foi saqueado e suas roupas foram rasgadas. O laptop de Gulf foi destruído e Mild teve quebrados seus troféus de competições de futebol. Até mesmo o café onde Gulf trabalhava foi vandalizado e Gulf foi obrigado a pedir demissão, perdendo a pequena renda extra que ganhava.

Os pais de Mew e de James correram em socorro dos meninos. Mew se mudou para outro prédio e Gulf foi com ele, a pedido dos Jongcheveevat. Já Mild se mudou para a casa dos Hansen Panchan, que processou a universidade por não fornecer segurança aos alunos.

Nem mesmo o restaurante da mãe de Bui escapou da onda de ódio pelos supostos transgressores. As portas foram arrombadas e muita coisa foi quebrada. Os pais de Mike correram em socorro de Bui e sua família, ajudando-os a repor o que fora destruído, além de seguranças para ficar de olho no lugar dia e noite. Por sorte a clientela da mãe do pequeno Bui nada tinha a ver com o ambiente universitário e  nenhum deles realmente se importava com o suposto escândalo. Eles conheciam a família de Bui há muito tempo para acreditar em mentiras de estranhos.

Neste período, Nongmai atacou, se aproximando de Mew e oferencendo ajuda e "conforto", apenas para ser rechaçada com firmeza novamente. O ódio em seu olhar dizia muito mais do que se supunha. Ofendida e humilhada, ela correu para Pat e exigiu dele que fizesse o que tinha prometido. Só que Pat, como bom estrategista que era, pediu paciência, pois as peças ainda não estavam na posição certa. Pat havia conseguido a monitoria no lugar de Mew, sendo que Chai havia ficado com a monitoria no lugar de James. Ambos estavam orientando os calouros. Era só uma questão de tempo. 

Três longos meses infernais se passaram, que mais pareciam anos. Mas o que deixava o grupo deveras irritado era o fato de Pat e seus comparsas terem se tornado os heróis da faculdade. Calouros os adoravam e essa adoração passou a ser regada a festas e mais festas. O apoio a Pat e sua gangue crescia de forma proporcional ao repúdio e desprezo por Mew e seus amigos. Quem pensa que Gulf, Bui, Mild e Tay foram esquecidos por conta da popularidade de Pat, Chai, Niran e Tod, ainda não viu as portas do inferno se escancarando para que os piores demônios por ela possam sair...

N/A

Amores, aguentem aí porque ainda vem sofrimento. Vou fazer uma pequena enquete aqui, ao mesmo tempo em que estou dando um spoiler horrendo... vocês vão me matar se eu matar um dos meninos? Não estou falando de Mew e Gulf...

Votem e comentem! Amo vocês! ❤️

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