Capítulo 1 - O festim dos Corvos

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San Francisco, 31 de outubro


Os primeiros raios de luz atravessavam as cortinas, pintando o pálido rosto de Nick com toques de luminosidade quando ele finalmente abriu os olhos. O sol já havia se posto, marcando o fim de uma noite tumultuada. Com um misto de letargia e uma incômoda dor de cabeça, ele se ergueu da cama e, com passos desanimados, dirigiu-se ao banheiro. Inclinando-se sobre a pia, observou seu reflexo no espelho. Seus cabelos castanhos pareciam um emaranhado caótico, e as olheiras revelavam a escassez de sono. Um tom avermelhado em seus olhos indicava a razão provável para sua mãe começar a lhe dar sermões em breve.

Ele esfregou o rosto com água gelada e ensaboada, tentando afastar o torpor. Uma rápida passada de dedos através dos cabelos ondulados ajudou a domar o caos, e antes de descer, se cobriu com o roupão que pendia atrás da porta. Era hora de encarar o pouco entusiasmante ritual do café da manhã na casa dos Summers.

No fim do corredor, deparou-se com seu pai emergindo do escritório, teclando a recém-trocada senha pela enésima vez para trancar a porta. Quase dezoito anos vivendo sob o mesmo teto, e Nick nunca havia sequer posto um pé dentro daquele escritório. Seu pai parecia passar mais tempo ali do que no seu trabalho de verdade, lecionando bioengenharia na Universidade de San Francisco. As atividades que ele realizava ali permaneciam envoltas em mistério, apesar das repetidas explicações de sua mãe de que eram projetos sigilosos em colaboração com o governo californiano. Mesmo curioso, Nick sempre evitou questionar o pai diretamente sobre isso.

– Sua mãe esteve preocupada com você na noite passada – disse Christopher, seu pai, sem tirar os olhos da fechadura eletrônica da porta.

– Um bom dia para o senhor também – respondeu Nick com uma certa petulância em seu tom de voz.

Descendo as escadas, os murmúrios da conversa entre sua mãe, Laura, e seu irmão, Bruce, chegaram aos seus ouvidos. As palavras giravam em torno das planejadas férias no Caribe em novembro, mas a falta de entusiasmo na voz de Bruce era evidente. À medida que ele alcançava a cozinha, a conversa minguou de forma abrupta, substituída pela ilusão do que estavam fazendo – Bruce tomava uma xícara de café enquanto percorria as mensagens em seu celular, e Laura, sua mãe, cuidadosamente preparava ovos com bacon na frigideira. Nick atravessou silenciosamente a cozinha, sentindo os olhares que o acompanhavam, até se acomodar à mesa e mergulhar no jornal diário para esconder seu rosto.

– Onde esteve na noite passada? – ela indagou firme, mas com a voz suave de sempre.

– Isso importa? – ele a ignorou, afundando-se na cadeira à mesa, e procurando algo de interessante naquele jornal. Havia uma manchete sobre três adolescentes que estavam desaparecidos há quatro dias em San Francisco.

Não contente com a resposta de seu filho, Laura jogou a frigideira sobre o fogão, e caminhou em direção a ele, arrancando-lhe o jornal que segurava.

– Não respondeu minha pergunta. Onde estava ontem à noite?

– Pedindo doces na vizinhança – Bruce o provocou, com uma piscada descontraída para a sua mãe.

– Não tem graça, idiota – retrucou Nick, apesar de acostumado com as provocações do seu irmão mais velho.

– A conversa ainda é comigo, Nicolas – Laura aumentou o tom de voz e se colocou entre eles. – Já te disse diversas vezes para avisar para onde vai e voltar antes da meia-noite. Essa época é muito perigosa para ficar perambulando por aí.

– Eu já vou fazer dezoito anos – Nick se manteve petulante, mas prosseguiu após o silêncio e a seriedade de sua mãe. – Eu estava na casa do Bobby. Foi aniversário dele ontem, você sabe. Ou não viu os stories da senhora Hawnes?

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