Capítulo 18 - Geary Boulevard

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A lua estava tão bonita para uma noite tão cruel.

Dentro do carro, o silêncio era cortado apenas pelo som distante das buzinas e motores engasgando, um rugido constante, abafado pelas janelas fechadas. John mexia nos dedos nervosamente enquanto observava o reflexo das luzes vermelhas do tráfego embaçando o para-brisa, espalhando-se como sangue fresco. Ao seu lado, Albert fitava os retrovisores com olhos inquietos, alternando entre o espelho lateral e o retrovisor central, como se esperasse que algo surgisse das sombras atrás deles.

— Está acontecendo alguma coisa? — John perguntou, sem desviar o olhar da avenida à frente.

Albert hesitou, como se ponderasse a resposta.

— Ainda não — respondeu, seco. — Por quê?

— Você não para de olhar nos retrovisores. Parece preocupado... sei lá.

Albert inspirou profundamente, os dedos tamborilando no volante. — Estou tentando entender este congestionamento. Nunca, em toda a minha vida, vi a Geary Boulevard assim... parada desse jeito.

John soltou um suspiro pesado, apoiando a cabeça contra o encosto.

— E o que me diz do meu bairro? Laurel Heights. Sempre foi calmo, tranquilo, e de repente, numa noite em que todos deveriam estar comemorando... — Ele fez uma pausa, os olhos vagando para a lua através do vidro. — Acontecem tantas tragédias.

— Hoje não é uma noite comum — disse Albert, com a voz baixa, quase um sussurro. Ele segurou firme o volante, como se as palavras carregassem um peso que ele mal podia suportar.

John riu, um som amargo e desprovido de humor.

— Eu já odiava Halloween. Depois dessa noite, ele vai desaparecer de vez do meu calendário.

Conectado ao centro comercial da cidade pela ampla Geary Boulevard, o bairro de Laurel Heights mantinha uma comunicação prática com o coração pulsante de San Francisco, sem sacrificar sua tranquilidade. A Geary, uma longa avenida de duas pistas, separadas por um estreito canteiro central, subia em uma suave inclinação de morro, algo típico da cidade. Suas ruas ofereciam uma vista generosa do céu e da lua, como em uma pintura pacífica. Ali, qualquer tipo de confusão parecia fora de lugar. A harmonia do bairro, com sua arquitetura e atmosfera serena, fazia de Laurel Heights uma joia isolada, onde a vida seguia em um ritmo ordenado e previsível — até o Halloween dessa noite, quando a calma do bairro se transformou em algo inesperado e sinistro.

Ao início da rua, Albert notava uma grande movimentação, uma massa desorganizada de carros e pessoas se amontoando na confusão. Os postes de iluminação estavam todos desligados, mergulhando a rua em uma escuridão perturbadora, quebrada apenas pelos faróis dos veículos presos no engarrafamento. A luz trêmula que emanava dos carros era insuficiente para revelar completamente o que acontecia mais adiante, na interseção entre a Geary Boulevard e a Anza Street. A própria rua Anza, estreita e ladeada por prédios, bloqueava a visão de Albert, tornando tudo ainda mais enigmático.

Ele abriu o vidro do carro e colocou a cabeça para fora, o ar noturno frio batendo em seu rosto. O som das buzinas, estridentes e incessantes, reverberava pelo ar, irritando os nervos já desgastados pela tensão. Mas, ao fundo, por trás da cacofonia, um som mais grave e perturbador se destacava: gritos. Não eram gritos comuns de frustração pelo trânsito; havia algo mais primitivo, visceral, naquela mistura de vozes, como se a própria rua estivesse clamando por socorro.

 Não eram gritos comuns de frustração pelo trânsito; havia algo mais primitivo, visceral, naquela mistura de vozes, como se a própria rua estivesse clamando por socorro

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