Capítulo I

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Versalhes, 1876, vinte e um anos depois.

     Brigite acordou sobressaltada, com o mesmo sonho que anda tendo a dias, na escuridão da madrugada, pode apenas tatear a cama, em busca de confirmação de que era seu quarto. Sua cama, sentiu, “ufa!”. Sonhara um sonho confuso e ao mesmo tempo terrível, estava em um cemitério e viu dois túmulos. Camille Laurent, minha eterna esposa. Desirée Laurent, minha filha que virou estrelinha. Amo você.

     Aqueles nomes não saíam de sua cabeça.

     Fechou os olhos e colocou a mão sob seu peito, que subia e descia sem parar, seu coração palpitava fortemente. Seus olhos estavam lacrimejando e nem sabia o porquê.



     O sol adentrava a casa pela manhã, o dia estava contente desta vez. Na casa, era a mesma agitação de sempre, empregados para lá e para cá, mesmo assim, todo aquele barulho não escondia o canto dos passarinhos que se aninhavam nos galhos das árvores do jardim ou nas janelas da cozinha.

     Havia um pequeno grupo de empregadas que estavam ajudando Brigite a se aprontar naquela manhã, lhe oferecendo um banho primeiro, ajudando-a a vestir e arrumando os cabelos.

     As mulheres sempre prezavam pelo conforto da senhorita, que já queria o contrário. Amava as crinolinas, e adorava usar bumpads, quanto mais apertado o corset... Melhor! Não por vaidade, e sim pelo desejo de parecer impecável. Aprendeu com sua mãe.

     As paredes do quarto eram cor de maracujá. Havia uma grande cama com cortinas , duas mesinhas de cabeceira cor de pinheiro de cada lado com lindas jarras de flores azul marinho, um grande tapete felpudo cinza... Havia uma penteadeira de madeira da cor das mesinhas, com um banquinho para que se sentasse, também uma pequena estante com alguns livros ao lado, e na parede contrária a porta. Enquanto, a parede contra a cama, a porta para o closet.

     Mesmo que nunca fosse lá, já que sempre as roupas apareciam magicamente no manequim. Tudo era organizado e planejado pelas suas criadas, mas mesmo assim, arrumava um jeito de questionar e fazê-las escolher outro, ou, a mesma escolher algo.

     Estava sentada na penteadeira encarando seu reflexo. Seu cabelo castanho cor de açúcar queimado formava cachos abertos — até porque dormiu com rolinhos — que destacavam suas maçãs do rosto, seu nariz empinado era bem harmônico com seus olhos grandes e redondos, que eram verdes como a sorte, seus lábios eram grossos do mesmo jeito que sua sobrancelha. E tudo acabava com seu queixinho pontudo, que deixava seu rosto parecendo um coração.

— A senhorita acordou esplêndida hoje, talvez devamos trocar seu vestido para uma cor mais viva... — a mulher que arrumava seu cabelo opinou. — Talvez um azul bebê. — Brigite assentiu em concordância.

     Sentiu uma pontada quando ela lhe puxou uma mecha. Estava fazendo uma trança simples, para aproveitar o cabelo. Deixando algumas mechas da frente livres.

— Jane, traga o azul bebê. — a criada falou para a colega.

     A outra assentiu e trouxe um lindo vestido esvoaçante, com um decote quadrado, suas mangas bufantes chegavam no cotovelo, no body, havia alguns lacinhos brancos, enquanto na cintura uma faixa que o amarrava. A saia era volumosa, com anáguas brancas por de baixo.

— Os patrões vão partir logo de manhã, de certo, é uma viagem longa à residência dos Laurent. — Uma delas borrifou um pouco de perfume no pescoço da moça. — A senhorita sabe, miss Moreau?

     Ela virou o rosto para fitar a empregada, com aqueles grandes olhos transparecendo curiosidade e sede do saber.

— Não tenho certeza. Espero que não, odeio viagens longas. — ela revelou. — Sempre acabo a ficar enjoada.

     A voz dela era uma voz doce e agradável de ouvir, mas ela não dava o prazer de ouvi-la sempre. Já que preferia o silêncio do que conversar desnecessariamente, além de que não gostava de falar muito alto. Era uma falta de educação e a mesma parecia ter uma audição muito sensível — até mesmo para sua voz.

     Brigite colocou em sua cabeça um chapéu fascinator daqueles ingleses, que seu pai trouxe de uma de suas viagens à Londres. Era azul bebê, como o seu vestido, enquanto o véu que lembrava uma gaiola, era preto.

     Deram uma última batidinha de pó em seu rosto, assim que terminaram, a moça se levantou e se apressou em ir a encontro de seus queridíssimos pais. Abriu a porta de seu quarto e saiu em passos rápidos pelos corredores da casa, avistando seus pais na sala de visita, ela desceu a escada rapidamente.

     Sua mãe ao vê-la sorriu, abrindo os braços para receber a filha. As duas se apertaram uma contra a outra, e antes de se separarem, a mais velha depositou um beijo na testa da mais nova.

— Bom dia, meu doce. — Alisou a saia do vestido da filha com a intenção de desamarrota-lo. — Coma um pouco, a viagem é longa.

— Bom dia, mamá. — Sorriu à sua mãe. — Bom dia, papá.  — Sorriu ao seu pai. — A viagem será muito longa?

— Nem tanto. — o pai respondeu. — Meio dia de viagem, deveremos chegar à noite. A partir do dia seguinte, contaremos os cinco dias de estadia.

     A moça assentiu, com a feição aparentemente decepcionada, e se sentou no sofá. A sala era espaçosa, com paredes amarelas como a de seu quarto, dois sofás em frente ao outro cor de pêssego, com uma mesinha de centro quadrada de vidro. No cantinho, havia um piano clássico de cor branca, com um suporte para partituras. As paredes eram decoradas por quadros, uma com um quadro de Brigite.

     Era muito recente, de quando debutou, no início da temporada. Ela estava sentada numa cadeira, com um vestido de gola alta branco, mangas compridas e mais robustas no pulso. A saia descia com babados e laços, como o que havia em sua cintura. Seu cabelo estava preso em um coque típico de uma debutante, sua cara estava pintada. De forma que não fosse exagerada, um sorriso meigo e misterioso em seu rosto que estava levemente inclinado. Suas mãos estavam sob seu colo, com um ou dois anéis de ouro com pedrinhas preciosas.

     Brigite saltou de alegria no sofá quando viu algumas mini tortinhas de blueberry em uma bandeja sob a mesinha. E uma jarra de leite, com alguns copos para servir. Lhe serviu um pouco de leite e pegou uma tortinha com alegria nos olhos.

     Ela devorou rapidamente o alimento, bebendo todo o leite de seu copo logo em seguida. Sorriu, pegando um lenço e limpando com leve batidinhas no bigode de leite no qual tinha certeza que estava presente.

— Melhor irmos agora, não podemos chegar de madrugada. — gracejou o homem, se levantando após. — Espero que tudo esteja em ordem, Brigite, é a sua honra que está em jogo.

Brigite Moreau

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Brigite Moreau

A Duquesa Perdida (NOVELETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora