Capítulo X

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    Quando chegaram, Brigite foi deixada aos cuidados dos criados e Oli voltou para cidade para cuidar desses assuntos. Olivier iria se certificar de que os seis rebeldes fossem punidos de forma devida.

     Brigite passou a tarde lendo na biblioteca na qual o lorde permitiu acesso, lá havia contos históricos, romances, clássicos, livros de filosofia, sociologia e história.

     Ela quase sempre lia escritos iluministas, sempre gostou dessa ideologia. Égalité, liberté et fraternité: esse lema estava marcado em seu coração.

     Dessa vez, não leu filosofia iluminista, dessa vez leu Razão e sensibilidade, de Jane Austen. Estava no meio, quando aquela criada, daquela vez, a chamou.

— Senhora Cartier. — zombou com deboche. — Seu amado lhe pede uma audiência em seus aposentos.

     A moça sentiu suas pernas ficarem bambas.

— Como?

     A ruiva riu descaradamente.

— Ele está te chamando, meretriz de quinta. — Era como a ruiva a chamava quando queria irrita-la.

— Calada. — Brigite se levantou.

     E dessa vez, teve uma reação. Ela a empurrou.

— Nunca mais me chame assim.

— Por que eu deveria ter medo da senhorita sem título?

     Com uma brutalidade que até agora, a própria não sabia que tinha, agarrou os cabelos vermelhos da empregada e os puxou. Fazendo a mulher se levantar, Brigite bateu a cabeça dela repetidas vezes na parede. Até um fio de sangue escorrer de sua testa.

— Por isso, vagabunda.

     A largou ali mesmo. E prosseguiu para os aposentados de lorde Cartier, agora tinha algo mais importante para se preocupar agora.

     Hesitou quando encarou aquela porta, teve medo do que viria a seguir. Ela fechou a mão em punho e bateu, uma, duas, três vezes.

— Entre. — Cartier diz com voz rouca.

     Ela abriu as duas grandes portas. O quarto é grande, suas paredes pintadas em maracujá e uma cama de casal, no centro. Em frente à cama, um baú. Dos lados dessa, uma mesinha de cama para cada. Do lado esquerdo à ela, uma poltrona.

     Lorde Cartier se sentava nessa poltrona azul marinho. Com aquele rosto frio e afastado, os olhos azulados impenetráveis.

     Tensão vagava no ar.

— Mandou me chamar, Oli? — Talvez chamá-lo assim o fizesse acabar com essa expressão tão séria.

     Como se essa face impiedosa fosse uma barreira que o impedia de ser atacado pela emoção, pela imprudência e pela impulsividade.

     Ele virou o rosto para vê-la, e Brigite sentiu suas estranhas comoverem em prol do amor por ele.

     Ele a olhou, de cabeça aos pés. Ele reparou que era o mesmo vestido de cedo, reparou em como seu cabelo está bagunçado, em como os seus olhos parecem cansados de tanto ler.

— Venha. — é o que disse.

     Ele não a chama mais de “mon chéri”.

     Brigite obedece, ficando de frente a ele.

— O que eu não consigo entender? — ele questionou, novamente.

     Como questionara de manhã, ele não ficaria em paz até saber.

— É como eu disse. Você não pode entender.

     Ele ergueu o olhar para olha-la nos olhos, aquele olhar calmo e sereno retornou.

— Mostre-me. Mostre-me que não posso entender.

     O coração dela disparou,
     Errou uma batida,
     e quase parou.

     Como Brigite poderia dizer isso? Dizer que o ama? Como ele poderia entender? Como ele poderia entender o sentimento que ardia dentro dela? Que a fazia ama-lo, apesar de ele ter ou não ter defeitos.

— Eu... Eu... Am... — A palavra amor engasgou em sua garganta. — Eu gosto muito de você.

     Ele ergueu o canto da boca.

— O quanto você gosta de mim?

— Muito. — é o que disse.

     É o que conseguiu dizer. Sem que engasgasse na garganta, o que seu coração quis dizer e o que seu cérebro deixou que dissesse.

Minha mulher.

— Você me ama, mon chéri?

     Pela primeira vez, Brigite ouviu chamá-la assim. Ela assentiu.

— Você me ama o suficiente para ficar comigo? — perguntou.

— Sim. Mil vezes sim.

— Interessante... — disse, pegando as mãos de Brigite. — Eu também a amo, e sempre quis ouvir isso de você. Desde a primeira vez que te vi, mon chéri. Você estava lendo política e eu achei isso maravilhoso. E agora, te conheço tão bem e...

     Sua garganta fechou por um instante, as palavras fugiram do seu alcance.

— E agora eu só quero te beijar. — ele afirmou. — Eu posso te beijar?

— Sim. Por favor.

     Um sorriso maroto surgiu nos lábios de Oli, ele a puxou pela cintura, para que ela se sentasse em seu colo. Então, depositou um beijo em sua boca.

     Outro, dessa vez urgente e intenso. Ele mordisca a boca de Brigite, e beija sua mandíbula.

     Eles se levantaram, e cambalearam até a grande cama enquanto se beijavam.

     E eles se amaram a noite toda.


     Brigite tinha seus membros emaranhados com os dele, na cama, quando acordou ao amanhecer. Ela ainda não acreditava que havia feito isso, mas fez.

     Oli ainda dormia ao seu lado, ela depositou um beijo em seus lábios. Só lhe restara a chemise, pois as suas outras peças, seu companheiro as rasgara na força do ódio.

     Rezava para que os criados não estivessem acordados, pois iria correndo para seu quarto apenas de roupas íntimas.

A Duquesa Perdida (NOVELETA)Onde histórias criam vida. Descubra agora