Outubro

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Sem Revisão

***

Outubro
Lauren

Eu acho que todas as coisas boas tem seu propósito.
Todas as coisas ruins também, é claro.
Mas e quando não há tempo suficiente para decidir o quem é bom e o que é ruim?

Camila tinha sido algo ruim?

Eu não tinha mais notícias dela. O outono ficava cada vez mais frio. Dominic continuava andando com Julian Hansen. Todas as coisas seguiam o ritmo.

Então o que faltava?
O que estava havendo?

Estava sentada no sofá, assistindo um documentário que eu não sabia do que se tratava porque não sabia onde estava minha mente. De vez em quando me via afirmando para mim mesma:

"Eu sou Lauren Michelle Jauregui Morgado, filha de Michael e Clara Jauregui Morgado, irmã de Taylor Jauregui Morgado, tia de Dominic Philips Jauregui Morgado."

Repetia a mesma frase, todos os dias desde que não a encontrei mais sentada , com seus livros e os laços tolos, para me assustar adivinhando a hora do meu relógio de pulso. Aliás, o relógio de pulso...

Ele agora marcava as horas corretamente, nunca mais havia deixado de funcionar. Então por que eu esperava pelo mínimo sinal de defeito?

Tia? — alguém chamou. — Tia Laur. — mais uma vez. — Tia... — uma mão tocou meu ombro. Ah, era comigo que estavam falando. Tia, você precisa comer.

— Não sinto fome. — e realmente não sentia.

— Você não come a dois dias! — a voz dele estava tão preocupada. Eu sentia muitíssimo por não ser a tia que queria ser para ele. Digo, eu estava para cuidar dele, não o contrário...

— Prometo comer quando sentir fome, Domi. — pude ouvi-lo suspirar, ele sentou-se ao meu lado.

— O que está assistindo?

O que eu estava assistindo?

— Ah... — forcei-me a ler o nome do documentário na televisão. - Algo sobre carros antigos.

— Você gosta de carros antigos?

Eu gostava?

— Não, na verdade. — Eu sou Lauren Michelle Jauregui Morgado, filha de Michael e Clara Jauregui Morgado, irmã de Taylor Jauregui Morgado, tia de Dominic Philips Jauregui Morgado.

— Então... Por que está assistindo isso?

— Eu não sei. — Eu sou Lauren Michelle Jauregui Morgado, filha de Michael e Clara Jauregui Morgado, irmã de Taylor Jauregui Morgado, tia de Dominic Philips Jauregui Morgado.

Ele respirou fundo.

— Tia, você precisa sair.

Outubro
Camila

Estava sentada ao lado da cama, ela não abrira os olhos desde o incidente. Sentia-me inútil. Ela estava ali, deitada, imóvel. Eu queria poder fazê-la abrir os olhos, queria usar dos meus poderes. De quê eles adiantavam se não conseguia sequer curar minha irmã?

Normani disse que ela estava naquele estado por não usar a forma demoníaca com frequência, e que era exatamente necessário não interferir no descanso dela. Confirmou as próprias suposições quando eu disse que Sofia nunca houvera sucumbido a forma demoníaca antes daquele dia. Maldito dia.

Ele estava ali, do outro lado da cama. Sentado como eu. Preocupado como eu. Eu o odiava e amava.
Eu queria matá-lo.
Eu queria que ele continuasse vivo, para sempre.

Ele deveria nos proteger, protegê-la. E agora veja, ela estava ali, sem dizer nada, sem comer nada, só sabíamos que estava viva pela respiração tranquila.
Me perguntava se ela estava tranquila nos próprios sonhos.

Não estávamos mais na nossa casa em Pensilvânia. Estávamos em Morningstar Reside: O Primeiro. Um castelo.
Ficava à 30km de Pensilvânia. Só pessoas ligadas ao submundo conseguiam vê-lo. Usávamos para nada além de eventos importantes referentes à nossa espécie, como A Grande Alvorada, que já teria acontecido se não fosse o sono profundo que Sofia estava.

Por um lado eu agradecia. A Grande Alvorada era o baile dos demônios, em celebração ao despertar dele. Do meu pai. Eu não queria comemorar. Eu queria que ele voltasse a dormir.

De nada faria falta. Quando ele não estava, eu protegi a casa, a família, o trono. Eu estava lá quando todos queriam nos atacar em sua ausência, quando planejavam matá-lo enquanto hibernava. Eu estava lá para protegê-lo.

Por que ele nunca estava para mim?
Sequer uma vez, por que não gritou à todos os pulmões em minha defesa?

"Mas ele sempre esteve." Uma voz sussurrou em meus pensamentos. Eu sei que todas as coisas que ele fizera, o comportamento, as decisões, tudo era pensando em nós. Eu sabia que parte dele era total e genuinamente devota à nós.

Mas o que estava acontecendo? Estávamos desmoronando.

— Desculpe. — a voz dele soou tão repentina e baixa que, por pouco, não acreditei que fosse apenas um delírio da minha cabeça.

Encarei-o. Cabeça baixa, camisa social branca, calça slim cinza, cabelos caindo frente o rosto, a mão direita enroscadas aos dedos de Sofia.

— Existem tantas coisas pelas quais você precisa se desculpar, que me aflige decidir por qual está se desculpando. — murmurei e ele sorriu. Ainda de cabeça baixa.

— Você cresceu. — ajeitou a postura, os olhos agora em Sofia. — Vocês duas cresceram.

Crescemos?

— Eu não estava aqui para ver. E eu sinto muito por isso.

Crescemos?

***

isso, os capítulos seguintes também serão curtos. De propósito.
Amaram Outubro?

Mistérios em PensilvâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora