Lance

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Sem Revisão
***

Eu sentia seu sangue correndo mais rápido, o coração bombardeando. Como da primeira vez.

Ele estava diferente, mais alto, os ombros mais largos também. O rosto era o mesmo, tão doce, quase juvenil. Ele tem quantos anos? O que está fazendo? Como ele age agora que é britânico?

— Camila. — a voz do meu pai soou ao fundo, chamando a minha atenção.

— Ah, sim. Desculpe. — percebi que segurava sua mão forte demais para uma desconhecida.

Ele sorriu. Amoleceu meu coração inteiro.

— Tudo bem, eu vou indo, estou atrasado para o trabalho. Foi um prazer, Srta. Cabello. — acenou, e deu as costas mais uma vez. Só então eu me dei conta da logo desenhada em suas costas.

Patricio's e uma xícara de café. Uma panificadora?

— Vamos embora. — meu pai disse mais uma vez e ouvi seus passos atrás de mim, mas não me movi.

— Vamos, Kaki. — Sofia quem disse, num suspiro, me puxando carinhosamente pelo braço.

Ela sabia a razão do meu estado, todos sabiam.

Meus nervos ferviam, minha garganta queimava em ansiedade. Eu o encontraria de novo, eu tinha certeza que sim.

Por dias procurei aquele nome nos jornais. Patricio's. Não me era familiar.
Até que, finalmente, algo apareceu.

"Quer ter um ótimo início de dia?! Venha agora tomar o seu café da manhã no Patricio's". Era isso que estava escrito na página de propagandas.

Ficava na passarela antiga, próximo a baixada, no setor comercial. Eu estava nervosa, muito nervosa. O encontraria naquele mesmo dia, não poderia esperar mais.

Coloquei o meu melhor vestido e o meu mais lindo par de saltos, as luvas tão reluzentes quanto as pérolas em meu pescoço.

O que ele acharia de mim? Me acharia bonita? Me daria mais um daqueles sorrisos?

— Não vá. — foram as palavras que soaram no timbre da voz do meu pai, quando eu estava prestes a cruzar a porta.

Ele estava sentada na poltrona da sala, com calça preta social, suspensórios e uma camisa branca de botões e mangas longas.

— Não tente me impedir, por favor. — supliquei, olhando para ele.

— Você lembra o que aconteceu da última vez?! Não permitirei que veja este garoto! — ele se levantou, exasperado.

— Não foi culpa dele. Não foi culpa nossa. Não temos nada a ver com isso! — retruquei, incisiva.

Meu pai ergueu o queixo, por um momento pensei ter passado dos limites. Ouvi quando sua respiração ficou mais calma e profunda.

— Camila... — aproximou-se. — Me diga, em uma situação dessas, sabendo o que já aconteceu, mesmo que não seja culpa de vocês, um pai não ficaria preocupado?

Meus ombros caíram, o que ele dizia tinha sentido e eu não queria deixá-lo aflito, mas o que poderia fazer?

— Eu não o procurei. Ele me encontrou. Sem sequer saber, ele me encontrou. — girei sobre meus calcanhares, virando de costas para o meu pai. — Espero que o senhor me perdoe mas eu não posso ignorar isso tão facilmente.

E sai, sem ouvir mais objeções. Eu sei que ele se importava com a minha segurança e por isso não queria que eu evitasse. Mas era o meu amor, assim, de repente, frente a frente comigo. Depois de tantos anos.

Mistérios em PensilvâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora