Moça

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SEM REVISÃO

Lembro do dia em que me sentei no sofá, estressada. Já não fazia minha caminhada matinal à três dias pois o que meu sobrinho tinha me dito, de fato, tinha me deixado cabreira. Se não morava ninguém naquela casa estranha, então quem era aquela garota?

Estava nublado aquele dia, como se o tempo fosse reflexo de meus pensamentos conflituosos. Eu havia acabado de chegar, e já estava impressionada demais com algo para poder sair na vizinhança e socializar com alguém. Após meus afazeres domésticos, já que Taylor não tinha serviçal, resolvi assistir algum programa que pudesse estar sendo realizado na rede local.

Era um filme, muito dos assustadores por sinal, que me deixou completamente presa na trama. Tanto que mal percebi quando Dominic chegou esbaforido de sua saída com alguns amigos para jogar futebol em um campo não muito próximo. Ele estava levemente molhado pela garoa que se tornava cada vez mais forte do lado de fora, e sua respiração descompassada era consequência da velocidade que ele impôs para não se encharcar mais na recente chuva.

Vi de canto de olho ele subir as escadas para o segundo andar. Não dei muita importância e continuei assistindo. Ouvi a água do box ser liberada e presumi que ele estava em um bom banho. Dominic não mais desceu, o que me fez acreditar que ele estava em seu quarto. A chuva aumentou, lançando grandes e estrondosos trovões aos meus tímpanos. Resolvi desligar a televisão.

Estava tudo parcialmente escuro, embora a maioria das luzes estivessem acesas. Segui para cozinha, tratando de preparar um bom chocolate quente para mim e para o meu sobrinho. Deixei o líquido marrom obter uma temperatura agradável e esperei sentada em um dos banquinhos do balcão. Enquanto fazia isso, meu celular vibrou em algum canto da casa, na mesa de jantar para ser mais específica, e eu fui ver o motivo para tal. Era uma ligação, feita de Dominic para mim. Estranhei mas não relutei em atender.

Quando o fiz, juro que tremi de medo.

Oi, tia. Você poderia vir aqui me buscar na casa de Julian, um amigo meu? É perto do campo de futebol. Me desculpe estar à essa hora fora de casa, mas é que a chuva engrossou e eu preferi esperar.

Acordei apavorada no braço do sofá. Realmente filmes de terror não eram muito recomendados para mim.

Estava mesmo caindo um temporal do lado de fora, e após uma rápida checada por toda casa, presumi que Dominic ainda não havia chegado. Busquei meu telefone, a fim de ligar para ele e questioná-lo sobre onde ele estaria àquela hora da noite. Afinal, já eram 20h:02m, e de acordo com Taylor, o perigo vinha após das sete.

Acabei ligando para ele, e me assustei ao saber que o mesmo estava na casa de um amigo, e que esse amigo era Julian. Afinal, eu havia previsto isso?

Preferi não pensar muito sobre e passei a verificar se tudo estava em seu devido lugar antes de pegar o carro – este que Taylor havia deixado conosco – e ir buscar meu sobrinho.

Louças limpas; Ok.

Casa arrumada; Ok.

Choveiro e torneiras fechados; Ok.

Aparelhos eletrônicos desligados; Ok.

Luzes desligadas; Ok.

Ao me certificar que tudo estava perfeitamente bem, me dirigi para porta dos fundos trancando-a. Após isso, segui para porta principal, também a trancando e indo até a garagem, saindo com o Mustang de minha irmã – e não se iluda pensando que é um carrão daqueles, está tão velho que sua tintura está descascando dos lados. Assim que entrei no carro, posicionei a chave na ignição, pronta para dar a partida, resolvi voltar dentro de casa novamente, apenas para checar se estava mesmo tudo certo.

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