Futuro

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SEM REVISÃO.

***

"Oi.

Não sei se você irá receber isso, mas se, nesse exato momento, estiver lendo isso, saiba que sinto muito. É provável que já tenha ciência do meu desaparecimento, e bom, eu sinto te dizer, mas estou bem acompanhada. Sei que falei à você que não sentia atração por loiros, mas Iorran Prescott é uma exceção. Me desculpe por dizer isso, mas talvez nesse exato momento, eu esteja transando com ele nos bancos traseiros de uma caminhonete vermelha. Não me leve à mal, sei que estou quebrando e dilacerando todas as coisas boas que você pensou sobre mim, mas não poderia te levar junto comigo ao precipício que estou caindo desde que me entendo por gente.

É algo complicado, Laur. Não é como se eu pudesse simplesmente te contar tudo sobre mim e confiar de que nós poderíamos levar uma vida feliz juntas, porque haveriam consequências para minha boca grande. Não iria também cogitar a proposta de fugir com você, o risco de que tudo desse errado era grande o suficiente para me fazer vacilar em minhas certezas. Não me julgue por estar, agora, longe de casa com um ninfomaníaco idiota como companheiro. Ele é apenas uma diversão, e um cara que está abrindo as portas para um mundo até então desconhecido por mim, e não estou dizendo que você também não é capaz de fazer o mesmo que ele. Oh, claro que é! E acredito que é capaz de fazer melhor ainda. Mas você merece coisa melhor do que uma garota idiota como eu. Divirta-se e transe muito, assim como eu estou fazendo com Iorran.

De Camila Cabello

Para Lauren Jauregui."

Encarei a carta mais uma vez em minhas mãos, uma fisgada em meu íntimo assim que, novamente, passei o polegar por sua caligrafia delicada.

Aquele pedaço de papel fora entregado à mim semanas antes de encontrarem o corpo de Iorran Prescott esfaqueado e roupas de Camila rasgadas e sangrentas ao seu redor.

Fazia alguns meses, três, para ser exata, que eu não a via. Três meses que não fazia minha corrida matinal e passava frente a casa esquisita da garota de laços infantis.

Não teria coragem de fazê-lo, não depois do que Sinuhe me disse, quando nos encontramos em um mercado. Fora a primeira vez que eu vi a mulher, e os olhos opacos e os arrocheados nas bochechas e têmporas não me pareciam atrativos.

"Se afaste dela, Lauren! Você não sabe os malditos riscos que está correndo, menina! Não volte lá novamente!"

Fui no dia seguinte, por minha teimosia, mas naquele dia, justo naquele dia, Camila não estava lá, sentada na grama, com a cabeça abaixada e vidrada em livros.

E desde então, ela desapareceu, e no mês posterior, eu fui abordada pela carta tão escrota que fora entregue à mim.

Nas semanas seguintes, lá estava, guardas florestais encontravam o corpo de um rapaz loiro, com seus vinte e poucos anos, morto no meio da mata, com vestes femininas em suas mãos e sapatos simples e pretos jogados perto de cordas e facas.

Tudo indicava que Iorran Prescott era um psicopata apaixonado e havia matado a garota que amava, não aguentando a dor por seus atos e usando de uma lâmina para saciar seus arrependimentos.

Entretanto, não encontraram o corpo de Camila, e o incinerador e o galão de gasolina deixados ali perto, davam a entender que a moça havia sido encinerada. Os policiais já não ligavam e deram o caso por encerrado um mês após o ocorrido. Porém, eu não havia dado por encerrado. Aquilo estava errado demais. Eram provas muito visíveis e pistas conexas demais para se obter sentido.

Oh, céus, desculpe-me. Você não sabe a história, não é? Deixe-me contá-la.

Tudo começou quando me mudei para Pensilvânia, à pedido de Taylor, minha irmã mais velha que sairia em turnê pelo mundo. Ela era escritora, e sua nova obra tinha sido sucesso em tudo quanto era canto. Eu estava feliz por ela, por isso não pestanejei na tarefa de ficar de olho em Dominic, seu filho de treze anos. Ficando assim, alojada em sua casa até que ela retornasse.

Taylor não tinha marido, e sua relação com o pai de Dominic era extremamente profissional. Trocavam palavras apenas para falar sobre a vida da criança e se ela estava bem, isso não queria dizer que não tinham empatia um pelo outro, eles tinham! Tanto que eram capazes de trocarem sorrisos e olhares de conforto com a ligação que ambos tinham com o filho.

Mas, Jake não morava em Pensilvânia, e muito menos morava perto, além de estar bastante ocupado em um projeto na usina em que trabalhava. Ele não poderia ficar com Dominic, de qualquer forma.

Fora dada à mim, uma mera e desconfortável moradora de Miami, a missão de cuidar de um pré-adolescente um tanto quanto explosivo, mas carinhoso para equilibrar.

E, bom, eu tinha sido despedida da cafeteira onde trabalhava e estava cansada do meu apartamento. Foi uma boa ideia na hora.

Observei curiosa o quarto que, de acordo com a minha irmã, seria meu por certo período. A acompanhei até a porta, onde um táxi a esperava. A abracei, dizendo-lhe palavras de animação e desejando-lhe muita sorte em sua turnê. Ela me pediu para que a ligasse caso qualquer coisa saísse do controle. Eu assenti, dizendo para ela e me convencendo internamente de que tudo ficaria bem.

Quando estava prestes a adentrar o carro amarelo, Taylor correu em seus saltos até mim, colocando sua mão em meu ombro e respirando fundo antes de dizer:

- Não se engane. Pensilvânia pode parecer acolhedora e gentil, mas se fosse uma cidade tão boa, não deixariam as portas trancadas após às sete da noite. E acredite, não é de ladrões que o povo tem medo.

E agora eu pergunto: do que tanto os moradores de Pensilvânia deveriam ter medo?

Mistérios em PensilvâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora