Eva

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SEM REVISÃO

***

Mamãe costumava dizer que o papai tinha vindo do céu. Até uma certa época, imaginei que fosse alguma metáfora idiota de uma mulher apaixonada perante seu amado. Pensei que era apenas uma forma de demonstrar o quão ela o amava.

Eu sequer sabia do que se tratava ter vindo do céu. Mas deveria ser algo bom, quando todos da nossa tribo respeitavam ele e tratavam ele como um deus. Costumava sentir que todos os espíritos da floresta sentiam ciúmes dele. Era um homem sendo tratado como uma divindade. Mas porquê? Ninguém nunca tinha me dito.

Até que eles chegaram.

Eu tinha dezenove anos na época, Sofia tinha dezessete. Pegávamos algumas laranjas para levar a tribo quando ouvimos passos. Não eram passos de animais, saberíamos se fosse.

Quando eu o vi, não sei como descrever a sensação que me ocorreu. Seus olhos eram muito claros, de uma cor que eu nunca tinha visto antes. Parecia-se com o verde das folhas mas era muito mais intenso que isso, a pele de seu rosto era pálida, a não ser pelos lábios róseos e as bochechas poucos coradas.

Sofia estava atrás de mim, então ele me viu primeiro.

— Não te preocupas! Nada a ti farei. De muito pouco me importa. — ele falava rápido e suas mãos se moviam nervosas no ar. Eu não entendia o que ele dizia, mas sabia que, pelo seu comportamento, não era ameaça.

Sofia tocou meu pulso, certamente amedrontada. Eu olhei para ela por cima do ombro, e ela o encarava desconfiada. Eu quis rir. Soltei-a com cuidado.

Ele continuava falando, então eu me aproximei, muito rápido, e tapei sua boca. Acho que exagerei na força quando ele segurou meu braço com certo desespero.

— Eu não- Eu- — seu rosto pálido começou a tomar uma coloração arroxeada, e então eu o deixei.

Ele caiu de joelhos, respirando com dificuldade.

— Me chamo- Me chamo Louis. — ele disse, olhando para mim. — Por Cristo, sua força...

E foi assim que tudo começou.

***

A respiração dela batia em meu pescoço, seu rosto repousando em meu peito. Meus dedos se perdiam entre os cabelos escuros dela. Eu sequer sabia o que fazer enquanto sentia seu coração bater.

Lauren havia pego no sono algumas horas antes. Trocamos alguns beijos e conversamos bastante. Eu quem disse que já estava tarde e era melhor nós descansarmos, foi uma surpresa para mim quando ela se aconchegou no meu corpo.

Agora estávamos aqui em silêncio, enquanto ela adormecia profundamente e eu observava tudo ao meu redor. Era tão prazeroso e ao mesmo tempo tão desesperador ter o calor do corpo dela tocando o meu, que eu só conseguia ficar estática.

Lauren é a maior novidade da minha vida ultimamente. É realmente de se impressionar encontrar uma garota depois de tanto tempo me apaixando pelo mesmo garoto em versões e épocas diferentes. Eu nunca estive tão animada com algo quanto agora, não que das outras vezes não estive contente, mas é diferente. Eu estou ansiosa para aprender com ela.

Veja, não estou menosprezando as outras encarnações do meu amor, mas nenhum deles segurou minha mão tão firmemente mesmo adormecido como Lauren está fazendo agora. São diferenças notáveis para alguém que espera 100 anos toda vez que perde quem ama.

Eu sei que devo ser cautelosa e que muita gente não quer nos ver juntas, mas eu quero estar aqui. Ela logo vai achar impossível partir também, porque vai além do que podemos fazer.

Mistérios em PensilvâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora