1- O personagem enfim conversa com seu autor

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Era apenas uma pessoa feita de papel, e por não saber o que papel era, acreditou ser feita de nada.

Eis um segredo: na verdade todas as pessoas são feitas de papel, só não sabem disso.

Algumas acham que são feitas de manteiga, e por isso derretem de amores.

Outras já de rocha, apavorando-se por romperem-nas com facilidade banal.

Há quem tema ser de vidro, esses embrulham-se para jamais cair um caco que seja.

Mas… a verdade escancarada, tão óbvia quanto o dia é dia e igualmente difícil de ser aceita, é que…

Vazio, rabiscado, liso, amassado, inteiro, apagado, rasgado, picotado, colado, preenchido.

Todas
as
pessoas
são
feitas
de
Papel!

Foi você quem me mostrou isso, por qualquer que seja a razão, você, somente você, sabia.

E você me rabiscou, amassou, apagou, rasgou, picotou, colou… e preencheu.

E, no fim, antes de desistir, tocou-me mais uma vez e percebeu que me amava.

E você me amava porque me fez amar, sofrer, sorrir, chorar, perder, partir, voltar.

E eu amei ter sido a pessoa de papel que você escreveu.

Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escrevaOnde histórias criam vida. Descubra agora