10- caprichos

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Não foi paixão o que eu senti naquele momento, não de verdade, mas não pude evitar me sentir curioso.

Era o que pensava naquele momento, imerso nos próprios devaneios enquanto sentia a fumaça escapar de seus lábios e ouvia a chuva torrencial cair por todos os lados sem alcançá-lo, já que o teto da parada de ônibus protegia sua cabeça.

Nunca foi inconsequente, muito menos irracional, então como pôde deixar que sua vida se tornasse um trem descarrilhado? Repassava os últimos meses e só conseguia rir de si mesmo, rir da própria desgraça ao ver que se converteu em um jovem imoral e ingênuo.

Enquanto tragava seu cigarro mentolado, lembrava-se de como aquele ano começou, em como suas contas não conseguiam ser pagas com a fracassada carreira de modelo.

O rostinho lindo que herdou de sua mãe não sustentava seus caprichos, por isso recorreu ao esbelto corpo conquistado através do esforço físico, esse sim não lhe deixava na mão.

Foi assim que conheceu o excêntrico milionário cuja empresa estava a um fio de fechar.

Ah… Eu não devia ter lhe dado ouvidos e você… Não devia ter posto os olhos em mim, pensou.

Sem dúvida, a primeira noite ao lado do empresário deveria ter sido a última, não deveria ter aceitado sua ousada proposta, não deveria ter se envolvido.

Culpava o capitalismo. Se não tivesse tantas dívidas absurdas, não estaria agora abandonado naquela parada de ônibus fumando e esperando a chuva passar, sentindo-se humilhado e usado, descartado como suas roupas em noites devassas.

Sim, culpava o capitalismo, pois certamente se não fosse pelo capitalismo não teria se fascinado pela personalidade tão única do milionário e não estaria agora sofrendo a consequência de sua atrevida curiosidade e dos estúpidos batimentos cardíacos acelerados.

Era tudo culpa do dinheiro, se meteu naquilo pelo dinheiro e ainda estava ali pelo dinheiro… Não estava?

Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escrevaOnde histórias criam vida. Descubra agora