Tudo pareceu mudar quando percebi que sou um grande mártir, obcecado pela ideia de sê-lo.Não do sentido de que morro por algo, mas do sentido que me morro a cada respirar, e cada vez eu morro mais, e morro a mim por pura vontade de morrer, não que eu queira morrer, mas vicio-me com a sensação que acompanha a velha senhora da foice e encapuzada, de preto, sempre preparada para um exímio velório, quiçá ao seu próprio.
Conheço-a, de velha data, pois recordo-me perfeitamente de tantas vezes que a chamei e apenas brevemente nos comunicamos, em virtude de que logo em seguida a mandei partir.
De que, no entanto, vale um mártir se a nada defende? Pois, não faço-me valer, faço-me apenas sentir.
Em breve reflexão, tomo como conclusão a existência desses dois mártires, e garanto ser o segundo. Torturado nos próprios versos a cada sentir.
Se, por ventura, houvesse alguém cogitado desatar-me os nós, quiçá-me-ei de nunca haver sido mártir, já que minha qualidade depende de todos os meus breves dolorosos tormentos. Nessa condição, portanto, haveria de ser apenas irascível, e, por vez, descartável.
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Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escreva
PoesiePalavras são peças de um dos jogos mais elegantes e excitantes que há. Quantas frases posso formar? Quantas subversões sou capaz de criar? Palavras são um vício, e vício leva à perdição, e perdição leva à catástrofe, e catástrofe só pode acabar em t...