12- Um Amar Por Ano: Martírio

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Tudo pareceu mudar quando percebi que sou um grande mártir, obcecado pela ideia de sê-lo.

Não do sentido de que morro por algo, mas do sentido que me morro a cada respirar, e cada vez eu morro mais, e morro a mim por pura vontade de morrer, não que eu queira morrer, mas vicio-me com a sensação que acompanha a velha senhora da foice e encapuzada, de preto, sempre preparada para um exímio velório, quiçá ao seu próprio.

Conheço-a, de velha data, pois recordo-me perfeitamente de tantas vezes que a chamei e apenas brevemente nos comunicamos, em virtude de que logo em seguida a mandei partir.

De que, no entanto, vale um mártir se a nada defende? Pois, não faço-me valer, faço-me apenas sentir.

Em breve reflexão, tomo como conclusão a existência desses dois mártires, e garanto ser o segundo. Torturado nos próprios versos a cada sentir.

Se, por ventura, houvesse alguém cogitado desatar-me os nós, quiçá-me-ei de nunca haver sido mártir, já que minha qualidade depende de todos os meus breves dolorosos tormentos. Nessa condição, portanto, haveria de ser apenas irascível, e, por vez, descartável.

Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escrevaOnde histórias criam vida. Descubra agora