11- Amargo

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Eu peco e choro e peco outra vez
Eu inspiro, sinto, expiro, arfo
E me entrego de vez
O que era verde, faz-se vermelho
E o que era santo, vira profano
E eu, que nunca vivi, devaneio o viver
E nos panos me derramo
E de mim sinto asco
Como vinho no estofado
Eu só quero ser amado
Se amar é errado
Eu aguardo o carrasco

Ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nós

O que é preciso
'Pra amar e viver
Leva um condenado a sofrer
E eu que nunca vivi, sofro de risos
E grito o silêncio, e bebo o seco, e nado à nada
E adocico o amargo
E falho o fato e morro da vida
Pois doa a doer ou "haja o hajar"
De ter e fazer,
Amar, errar, cansar, furtar
É tudo pecar

Ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nós

E a hipocrisia do mundo
De tu faz o que faço
Mas não vê o que vejo
O amargo o amargo
De arrancar o desejo
E jogá-lo no poço
Caindo caindo
Até chegar ao fundo

Ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nós

Não disse uma vez um sábio?
Penso, longo peco
Tudo bem, não foi assim
Mas algo no existir é sincero?
Me condena que é fácil
Não errar custa esmero

Ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nós

E eu, que nunca vivi, devaneio o viver
De ter e fazer
De amar e morrer
O amargo o amargo
Como vinho no estofado
Se amar é errado
Eu aguardo o carrasco

Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escrevaOnde histórias criam vida. Descubra agora