Eu peco e choro e peco outra vez
Eu inspiro, sinto, expiro, arfo
E me entrego de vez
O que era verde, faz-se vermelho
E o que era santo, vira profano
E eu, que nunca vivi, devaneio o viver
E nos panos me derramo
E de mim sinto asco
Como vinho no estofado
Eu só quero ser amado
Se amar é errado
Eu aguardo o carrascoAi
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nósO que é preciso
'Pra amar e viver
Leva um condenado a sofrer
E eu que nunca vivi, sofro de risos
E grito o silêncio, e bebo o seco, e nado à nada
E adocico o amargo
E falho o fato e morro da vida
Pois doa a doer ou "haja o hajar"
De ter e fazer,
Amar, errar, cansar, furtar
É tudo pecarAi
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nósE a hipocrisia do mundo
De tu faz o que faço
Mas não vê o que vejo
O amargo o amargo
De arrancar o desejo
E jogá-lo no poço
Caindo caindo
Até chegar ao fundoAi
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nósNão disse uma vez um sábio?
Penso, longo peco
Tudo bem, não foi assim
Mas algo no existir é sincero?
Me condena que é fácil
Não errar custa esmeroAi
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai, ai, ai, ai, ai, ai
Ai de mim, ai de tu
Ai de vós, ai de nós
Ai d'eu, ai d'ocê
Ai de todos nósE eu, que nunca vivi, devaneio o viver
De ter e fazer
De amar e morrer
O amargo o amargo
Como vinho no estofado
Se amar é errado
Eu aguardo o carrasco
VOCÊ ESTÁ LENDO
Carta aberta para toda história que talvez eu nunca escreva
PoesiePalavras são peças de um dos jogos mais elegantes e excitantes que há. Quantas frases posso formar? Quantas subversões sou capaz de criar? Palavras são um vício, e vício leva à perdição, e perdição leva à catástrofe, e catástrofe só pode acabar em t...