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George tinha trazido duas bagagens, a mala e uma mochila, que estavam paradas perto da porta, onde provavelmente Harry havia as deixado. Do outro lado do quarto, repousando solitária havia outra mala, verde escura e pequena.

George observa o quarto. As paredes azuis, os quadros pendurados nelas, os móveis de madeira clara, a pequena mesa com duas cadeiras num canto perto das portas de correr que levavam a varanda. Havia uma TV pendurada na parede em frente à cama. E talvez essa fosse a pior parte: a cama. No singular. Só havia uma grande cama de casal ocupando quase todo o espaço no quarto, duas mesinhas de cabeceira de cada lado, cada uma com um abajur em cima, mas só uma cama.

Talvez ainda desse tempo dele pegar um táxi e ir atrás de outro hotel. Mas George estava tão cansado e era mais que provável que aquilo demoraria e ele estava quase se arrastando por aí. Ele precisava dormir.

Dream sai da porta do que George assume ser o banheiro e vai até a varanda. Ele puxa as cortinas da porta de correr e um céu cinza e gotas de chuva surgem contra o vidro, de plano de fundo os outros prédios se expandiam, perdidos em meio à neblina e água. A chuvinha de mais cedo ainda não havia ido embora.

Dream lança um olhar rápido a George que tinha botado a sua mala em cima da cama e estava revirando as suas roupas procurando algo para usar. Além de dormir, ele precisava também de um banho.

Aquilo ainda era estranho.

Tudo aquilo.

Aquela aproximação forçada depois dos meses de total ausência estava fazendo a cabeça de George doer.

Ele tinha desaprendido a como conviver com Dream, como iniciar um diálogo para começar. (Não que ele estivesse planejando nenhum diálogo no momento.)

Depois da pequena discussão no almoço, Hazel os arrastou até os elevadores, depois até os quartos, ela entregou uma chave para George antes de ir embora largando os dois no corredor.

A família de Karl tinha algo planejado em algum lugar da cidade, então eles sairiam munidos de guarda-chuvas, levando junto a mãe e a madrasta de Sapnap com eles.

Quackity falou algo sobre o serviço de quarto e desapareceu.

E Nick e Karl estavam sendo eles, seja lá Deus onde ou fazendo o quê.

Assim, só ficaram os dois, Dream e George.

Parecia até que eles estavam fazendo aquilo de propósito. George tinha medo que eles estivessem fazendo, mas não duvidava nada. Conhecia os amigos, era por isso que ele tinha medo.

Em silêncio Dream também procura alguma coisa na própria mala, George não fica lá para descobrir o que era. Passa por ele até o banheiro.

A porta se fecha atrás dele e ele deixa um suspiro cansado escapar, os ombros caindo. George fita a própria imagem no espelho. O cabelo escuro bagunçado, a roupa amassada do avião, as olheiras contra a carranca na sua cara. Ele parecia ranzinza, era culpa da falta de sono, do jet lag e provavelmente de Dream.

Ele tira a roupa e entra no box. A água quente caia fazendo vapor subir.

Ele aproveita para relaxar um pouco.

Tudo bem. Ainda foda-se, certo?

Ele sai do banheiro vestido e as roupas sujas emboladas nas mãos.

— Eu vou sair... — ele olha para Dream que tinha trocado de camisa e estava plantado perto da porta — ...vou lá embaixo. — Ele coça a nuca. — Tem uma lojinha do lado do restaurante, Hazel disse que eles vendem café lá e também chá. Quer que eu traga alguma coisa para você?

Er...

— Não, — estranho, só isso — obrigado.

— Okay — ele põe a mão na maçaneta. — Se alguém procurar por mim...

— Certo... — George observa a sua mala ainda jogada na cama. Ele planejava dormir pelas próximas cinco horas pelo menos, então era bom que Dream estivesse saindo.

— Tá bem — abre a porta — OK.

E George podia jurar que tinha visto uma sombra de um sorriso surgindo no rosto dele antes da porta se fechar.

Okay.

Certo.

Certo, né?

Puta merda, o que ele estava fazendo?!

E ele não estava falando dessa conversa estranha ou do silêncio se arrastando dolorosamente enquanto ele se lembrava da conversa estranha e jogava sua mala de volta pro chão.

Não.

Ele estava falando daquela situação toda em geral.

O que ele estava fazendo naquela maldita cama, na merda daquele quarto ou porquê ele ainda estava no Ian Paul d'Claire?

Sinceramente, sinceramente, foda-se!

Ele puxa os lençóis sobre a cabeça, fecha os olhos e tenta dormir.

Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora