8

133 18 13
                                    

UM POUCO DE FUMAÇA


— Shhhh! — Quackity pede, apesar de ser ele quem estava fazendo barulho.

Ele tinha o braço ao redor do ombro de George e mesmo assim tinha conseguido esbarrar em uma das portas no corredor. Para ser justo, ele estava bêbado e George. George não estava totalmente sóbrio.

Eles tinham ido para o bar do hotel depois do jantar. Uma banda de blues tocava ao vivo e era despedida de solteiro de alguém. Foi divertido — ele e Quackity, e uma dezena de garotas bêbadas e barulhentas pagando rodadas de vodka para todo o bar — o fez esquecer momentaneamente a maioria dos seus problemas.

Quackity, no entanto, tinha se divertido um pouquinho além da conta. George se lembra de um dos pontos altos da noite, quando ele subiu no palco e dedicou um cover de Little Wing a uma das loiras no meio do grupo barulhento. George não lembrava exatamente como isso aconteceu, foi uma sucessão de eventos que escalaram rápido demais, mas Quackity mandou muito bem. Ele teria deixado Jimi Hendrix orgulhoso. Ele deixou George orgulhoso.

E foi isso: Alex tinha enchido a cara e agora George estava servindo de babá. Ele pacientemente espera até Quackity puxar a chave do próprio quarto do bolso e lhe entregar. Ele abre a porta, dois minutos depois Quackity está estirado na cama, os sapatos jogados no chão, e roncando baixinho.

George o deixa e segue seu próprio caminho corredor abaixo. Os números dourados na porta o encaram quando ele para em frente a ela.

Ele hesita. A testa batendo na madeira e ele deixa um suspiro escapar.

Ele só precisava entrar. Só isso.

Não tinha nada demais atrás da porta, só Dream.

Não deveria ser difícil.

Ele pensa na conversa que acabou de ter sobre tentar, e pensa também no banco no Central Park mais cedo, em ontem — da vontade de consertar as coisas emergindo.

Intrusa, a voz de Camille surge na sua cabeça. 'Não ligue mais. Ele não precisa disso'. A lembrança do ano novo e de quando ele tentou. Porque sim, ele tentou, e só fez doer mais, aumentar as rachaduras. 'Por que você só não o deixa em paz?'

Foi o que George fez.

Dream parecia ter deixado também.

George não se deixou pensar nele e nem sentir saudade. Sentir falta.

'Eu tenho certeza que Dream sente a sua. E muito.' Sapnap disse.

E a ideia de Dream sentindo falta dele tanto quando ele tinha sentindo a sua também doía.

E de novo, ele ainda estava com raiva de Dream, mas parte também era raiva de si mesmo. Por ter se deixado levar. Só que, aquele final de semana e a praia e tudo junto, foi demais. E foi culpa de Dream — mas ele não fez nada para impedir, parte dele queria. E foi errado, e teve mais merdas depois, e ele odiava o fato de que Dream estava certo, e ele só saiu correndo e se escondeu.

Tá, ele pode ter tomado alguns drinks com Quackity e por isso (e só por isso) estava pensando naquelas merdas.

Ou porque ele não queria entrar ainda e continuava como um idiota do lado de fora.

Assim como ontem, quando George abriu a porta deu de cara com o escuro e com Dream já dormindo e, como ontem também, as cortinas da varanda estavam abertas.

Ele tirou os sapatos, a bebedeira leve atrapalhava um pouco sua capacidade de andar pelo quarto sem fazer barulho e sem esbarrar em nada, mas ele consegue vitoriosamente chegar até a mala, a salvo e em silêncio. Ele queria um moletom, ele troca a camisa pela primeira coisa que acha pela frente e arrasta os pés até a cama, ainda silencioso, ainda meio tonto, ele subiu no colchão.

George estava sentado, muito perto da beirada, os olhos fixos em Dream e o pensamento no que exatamente a promessa de tentar implicava. Não deveria ser tão difícil assim. Eles deveriam ser capazes de ter se resolvido há muito tempo. Devagar, George se acomoda debaixo das cobertas, a cabeça descansando no travesseiro. Ele ainda observava Dream dormindo e pensava nisso, a mente um pouco nebulosa pelos vestígios do álcool. Uma vida inteira passando atrás dos seus olhos.

E então, simples como quem não quer nada, Dream murmurou:

— Você demorou.

E George congelou.

Porque havia algo emaranhado no tom de voz dele — que o fez se teletransportar para antes e para ligações tarde da noite, e segredos sussurrados, promessas fáceis de esquecer, palavras não ditas. O fez lembrar de proximidade, de como eles passavam horas assim, dizendo coisas para a noite e um pro outro. Quem eram eles agora? George queria muito saber onde ele e o Dream de antes do Natal tinham ido parar. Ele sentia falta deles.

Sem falar que ele também tinha sido pego olhando.

George não sabia qual dos dois era pior nem qual era o responsável pelo arrepio cruzando a sua espinha.

Dream abre os olhos, mas só um pouquinho (mal olhando para ele), ainda sonolento (mal acordado).

— Por que não acendeu a luz?

— Porque — tentar, tentar, tentar, ok — não queria te acordar.

— Foi, é? — Ele vira de lado, de frente para George.

'Eles terminaram?'

'Sim, desde janeiro.'

George tinha perguntado depois do jantar e Sapnap sabia exatamente do que ele estava falando.

Desde janeiro.

Aquelas duas palavrinhas não deveriam ter todo o efeito que tinham sobre ele.

George balança a cabeça devagar.

— Foi.

Isso era estranho. Tudo isso. Muito, muito estranho.

O coração de George não deveria estar correndo uma maratona agora.

Volta a chover, ele conseguia ouvir o barulho d'água e as gotas de chuva manchando o vidro da varanda. E eles continuavam em um silêncio incógnito.

— Desculpa —, depois de muito tempo, Dream diz. — Não queria ter ferrado com tudo.

E, seja lá o que George esperava, com certeza não era aquilo.

O silêncio aumenta, o peito dele se aperta, as palavras dando voltas na sua caixa torácica e esmagando o seu peito. Parecia que o seu coração tinha parado e ao mesmo tempo começado a operar em força total.

George não estava pronto para receber um pedido de desculpas, pois ele ainda não estava pronto para dar um.

Por isso ele não diz nada.

Mas Dream sabia, ele deveria saber. Apesar de tudo, ele ainda era a pessoa no mundo que o conhecia melhor — de todas as outras.

George sentiu vontade de chorar naquela hora, deixar as lágrimas se misturarem com a chuva que caía, ainda mais quando Dream estendeu a mão e pegou a sua.

Ele odiava isso e odiava estar aqui, porque ele ainda não estava pronto.

Ele se deixa afundar no sentimento que pesava no seu peito, no pedido de desculpa, na mão que segurava a sua, mas não chora.

Eles continuam em silêncio.

Demora, mas ele acaba dormindo.

A ideia de que eles poderiam sim botar as peças de volta no lugar surgindo, achando um lugar dentro dele e se acomodando aos poucos.

Ele permite que ela fique.



---
Não consegui dormir direito nem ontem nem hoje, então eu escrevi. Espero que você goste.

Até a próxima, yele.

Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora