CAPÍTULO II

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Como eu odeio esse uniforme!!! Minha mãe fez o favor de estacionar o carro bem na frente da escola, mesmo eu implorando pra não colocar lá. Mas eu preferi ficar quieta, porque ela não estava muito feliz.

Minha mãe me tirou do carro e eu entrei na escola. Eu passava e todos olhavam para mim. Uma mulher, muito jovem e bonita aliás, que trabalha na coordenação me ajudou a achar meu armário e a minha sala.

Quando entrei na sala, a aula já tinha começado. Cheguei atrasada, porque, aquela mulher que eu falei, estava me mostrando a escola. A professora de Matemática, eu acho, me cumprimentou e apresentou-me a turma:

— Turma, essa aqui é a Alicia. Ela vai ficar aqui com a gente neste ano. Sente. Não, desculpa. "Estacione" a sua cadeira na segunda mesa da fileira do meio.

Percebi que ela ficou meio sem graça em dizer "sente". Então pra tranquiliza-la falei:

— Não precisa se desculpar. Todo mundo se atrapalha um pouco. Por conta disso, digamos que eu me acostumei já.

Dei um sorriso pra ela pra deixar claro que não fiquei abalada, e ela retribuiu o sorriso.

Guiei minha cadeira até a mesa que a professora falou. Na mesa, uma menina sentada na cadeira que ficou ao lado da minha deu um sorriso pra mim. Retribui o sorriso. Ela é o tipo de garota perfeita. Tem o cabelo loiro mesclado com castanho, liso com as pontas enroladas. A pele branca como a neve, mas os olhos bem escuros. Um leve roseado nos lábios. Um sorriso lindíssimo.

A professora fez logo a chamada, então já deu pra ter uma noção dos nomes. Esse primeiro tempo de aula foi mais pra gente se conhecer mesmo. Tivemos três tempos de Matemática, então até a hora do recreio a professora não saiu da sala.

***


A hora passou em passos de tartaruga. Mas, admito que eu não estava tão animada assim para o recreio. Eu sabia que ia ficar sozinha. Não que me incomode. Jamais. Gosto de ficar sozinha, principalmente se tenho um livro. Quando estou só consigo pensar melhor na minha situação. E eu precisava pensar melhor.

Tocou o sinal e a professora liberou a turma. A maioria dos alunos correram para a fila da cantina. Sinceramente, prefiro trazer lanche de casa mesmo.

O pátio era imenso. Procurei um lugar pra eu ficar, de modo que ninguém me incomodasse. Estava comendo e, ao mesmo tempo, pensando sobre o nada quando de repente escutei alguém falando "oi" pra mim. Olhei pra cima e lá estava aquela garota que senta junto comigo. Ela falou:

— Seu nome é Alicia, certo? Meu nome é Lívia. Só queria te dar as boas-vindas e dizer que se você precisar de alguma ajuda, estou a sua disposição

— Muito obrigada, Lívia!!

— Você é uma menina bem sonhadora. Te chamei duas vezes e não me respondeu.

— Desculpe. Estava pensando sobre nada e ao mesmo tempo tudo.

— Além de sonhadora é filósofa. Temos uma garota de muitas qualidades na nossa turma. Finalmente! — Eu ri com a fala. Gostei dela.

— Que nada. Primeiramente, eu sou única — Joguei os cabelos para trás, o que a fez sorrir e revirar os olhos. — Segundo, não é possível que não tenha alguém com uma personalidade peculiar.

— Sonhadora, filósofa e sem humildade... Gostei de você. E, bom, não me lembro de ninguém com uma personalidade tão peculiar quanto a sua. Temos o Marcelo que também é peculiar, mas você é mais.

— Também gostei de você e o Marcelo é quem?

— É um garoto da nossa turma.

— Nossa, obrigada pela informação.

— Ah, que nada. Tô aqui pra ajudar.

— Percebi. E como é ser aluna daqui? Nunca tinha nem ouvido falar dessa escola.

— Estou impressionada por você nunca ter ouvido falar. A escola é bem famosa.

— Eu não sou uma pessoa muito... Atualizada. Acho que eu vivo mais no mundo dos meus livros que na vida real. Tanto que se você me perguntar alguma coisa sobre Orgulho e Preconceito, eu saberei.

— Eu tento entender como uma pessoa consegue gostar de livros — Ela não falou isso, né?

— Você não gosta de livros?! — Perguntei embasbacada.

— Claro que não! Ficar lendo é muito chato. Não consigo ver o que os leitores veem em livros. Por exemplo A Menina que Roubava Livros, não consigo entender o livro — Se ela continuar falando essas coisas irei perder a empatia que adquiri por ela.

— A Menina que Roubava Livros é maravilhoso, mas não é um livro pra se usar como referência de um livro simples. Ele tem uma temática muito forte e uma narradora que ninguém contava.

— Sempre quis saber quem narra aquela história.

— Quem narra o livro é a Morte.

— Deus me livre! Agora que eu não vou ler mesmo! — Eu ri, porque eu tive a mesma reação quando descobri isso, mas li o livro todo mesmo assim.

— É... Olhando por esse lado realmente não é algo que se mostre bom. Mas eu ainda amo aquele livro!! Me identifico muito com a personagem principal. "O único dom que me salva é a distração. Ela preserva minha sanidade".

— Viu!! Não tem lógica!! Como alguém gosta desse...

Para sorte dela o sinal tocou, senão eu ia começar a discutir de verdade. Vou defender A Menina que Roubava Livros até o fim dos meus dias!

****

Eu ainda tô tentando entender o porquê que temos que estudar Física. Tem Matemática no meio? Sim, mas ainda é chato!! Até que eu gostei do professor, mas ainda não gosto de Física e não gostarei. Eu só queria estar lendo, mas tenho que estudar, né?

Quando minha mãe chegou na escola estava mais calma. Graças a Deus. Mal cheguei perto dela e já começou a indagar:

— Como foi o primeiro dia de aula?

— Não foi tão ruim assim.

— Eu falei que ia ser uma boa experiência, mas ninguém me escuta — Fomos para dentro do carro e minha mãe falou tanto pra mim quanto pro Samuel, meu irmão. — Vocês deveriam me escutar mais. Eu falo que vai ser de um jeito e vocês não conseguem acreditar em mim.

— Mamãe, eu escuto — O Samuel disse como o bom puxa saco que ele é.

— Eu sei, meu amor. É só a sua irmã que não me escuta esses adolescentes de hoje em dia não escutam mais os pais.

— Mãe, é claro que eu te escuto e levo em consideração o que a senhora diz, só que a senhora exagera um pouco de vez em quando — Eu disse.

— Tá vendo, Samuel, como as coisas são? Ela não leva a sério o que eu falo — Ela disse como se eu não estivesse no carro.

— Mamãe, o que é "leva a sério"? — O Samuel perguntou.

— É acreditar no que a pessoa diz.

— Espera aí. Não é bem assim... — Eu disse.

— Se a mamãe disse que é assim, então é.

— Isso aí, meu filho! Confia na mamãe.

— Ai, meu Pai do céu... — Eu não acreditava que o Samuel poderia ser tão puxa saco assim. 

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