CAPÍTULO VI

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Hoje eu fui ao cinema com o meu tio. Ele é uma das melhores pessoas do mundo! Eu consigo falar sobre tudo com ele. Vimos um filme de comédia e, após o término do filme, fomos a praça de alimentação do shopping para comer algo.

— E como minha sobrinha está se saindo em colégio de rico? — Meu tio perguntou enquanto esperávamos o lanche ficar pronto.

— Não é colégio de rico.

— Claro que é. Só gente inteligente que estuda lá.

— E só porque a pessoa é inteligente ela automaticamente é rica?

— Óbvio!! Você está muito desatualizada dos estudos — Ele disse e deu um peteleco na minha testa.

— Que estudos são esses, tio? — Eu disse rindo. Eu já falei que meu tio não bate muito bem da cabeça?

— Viu? Desatualizada — Ele revirou os olhos, o que me fez revirar os olhos também. — Você não me respondeu: Como está sendo o colégio de rico?

— Está sendo muito bom. De verdade. Acho que eu subestimei a minha capacidade de fazer amizade, sabia? Em duas semanas de aula eu já tenho uma melhor amiga.

— E algum garoto já alcançou esse seu coraçãozinho?

— Por que tá todo mundo achando que eu tenho algum garoto que gosto? Eu hein. Foi a minha mãe que te mandou mensagem pedindo pro senhor me perguntar isso, né? Ela sabe que eu conto tudo pro senhor.

— Claro que não! Eu só quero saber mesmo. Por livre e espontânea vontade — Ele disse batucando os dedos na mesa que estávamos sentados esperando a bendita comida que estava demorando muito! Meu estomago está começando a reclamar.

— O senhor tá mentindo.

— Como você pode me acusar de algo assim? Cadê esse lanche que não fica pronto? — Ele começou a olhar em volta para não me encarar, porque sabe que não consegue me esconder nada se olhar nos meus olhos.

— Não desvie do assunto, tio! Eu sei que o senhor tá mentindo, porque tá batucando os dedos na mesa.

— E o que tem eu batucar os dedos na mesa?

— O senhor sempre faz isso quando está mentindo.

— Tá legal. Sua mãe me pediu pra perguntar, mas não fala nada pra ela! Você não sabe de nada. Se ela descobrir... Vai falar no meu ouvido pela eternidade. "AINDA BEM QUE EU VOU MORAR NO CÉU! AINDA BEM QUE EU VOU MORAR COM O REEIIII" — Ele começou a cantar/gritar alto chamando a atenção de todos.

— O senhor pode parar com isso?! Todos estão olhando!! — Escondi o rosto corado nas mãos. Meu tio só me faz passar vergonha, mas eu ainda insisto em sair com ele!

— Ué, não é você que fala que devemos cantar a todo momento da nossa vida. Então, "EU VOU SUBIR, EU VOU SUBIR, EU VOU SUBIIIIIIRRRRR!!"

— Meu Deus do céu. Para com isso!! Parece uma criança!! Já tá um adulto de 40 anos.

— Tá bom — Ele disse rindo porque eu estava corada de vergonha. – Vou parar. Só queria te fazer passar vergonha mesmo.

— Eu nem percebi isso...

— Gente, cadê esse lanche?!

— Número 240, por favor comparecer ao balcão — Escutamos a voz da caixa em um alto falante.

— O poder da reclamação é forte. Vou lá pegar o lanche — Meu tio disse e saiu da cadeira.

Como sempre eu estava com um livro em mãos. Eu acho que deu pra perceber que eu gosto de ler, certo? Eu estava distraída lendo a discursão da Elisa e do Benjamim do livro A Princesa Escondida. Por que o casal principal não se manca e percebe que gostam um do outro? Seria tão mais simples. Eu leitora fico aqui surtando, porque os bonitinhos não podem se entender. Pelo amor de Deus!!

— Bu! — Escuto alguém falar perto do meu ouvido e me assusto.

— Deus Pai misericordioso!! Que susto!!

— Tô gostando de te assustar. A cada vez você tem uma reação diferente — O abençoado do ser humano que me assustou disse. Tente adivinhar quem é ele... Se pensou no Marcelo você acertou!!

— Que bom que você está gostando, Marcelo. Deixa-me engolir meu coração de volta — Eu fingi engolir algo. — Pronto. Tô bem agora. O que você tá fazendo aqui?

— Eu acho que você é uma pessoa um tiquinho sarcástica. E eu vim ver um filme. Ah, nós vimos o mesmo filme.

— E por que você não falou comigo?

— Eu te vi no meio do filme. Você queria que eu gritasse "ALICIA, OIIII!!! TUDO BEM COM VOCÊ? QUE COINCIDÊNCIA NÓS NA MESMA SALA DE CINEMA. QUE LEGAL" — Ele disse literalmente gritando e chamando a atenção de todos. Jesus, eu só ando com maluco!

— Pode parar de gritar?! — Ele começou a rir da minha cara. — Gente, meu tio sumiu. Cadê ele?

— Poxa, já quer que seu tio volte pra se livrar de mim? Tô ficando triste — Ele fez uma carinha de cachorro abandonado.

— Para de ser dramático, garoto. É que ele sumiu. Não consigo acha-lo.

— "A minha vida é do Mestre! Meu coração é do meu Mestre" — Meu tio chegou por trás de mim cantando no meu ouvido, o que me fez levar um susto.

— Meu Deus do céu! Vocês querem que eu morra do coração, né? — Ele e o Marcelo começaram a rir. — Eu sinceramente estou tentando entender qual é a graça de quase me matar do coração.

— Minha linda, suas caras e bocas são maravilhosas — Meu tio disse. Ele se deu conta da presença do Marcelo e o olhou de cima a baixo. — Quem é você e por que estava conversando com a minha sobrinha?

— Eu sou o Marcelo e estudo com a Alicia. Eu a vi e pensei em vir dar um oi — Ele estendeu a mão para o meu tio e o mesmo retribuiu o cumprimento com mais força do que o necessário.

— Então você que é o Marcelo de que tanto a Alicia fala? — Meu tio deu um sorriso debochado pra mim. Hoje ele tirou o dia pra me perturbar, cara!!

— Tio!! Desde quando eu falo do Marcelo?!

— Você tá me magoando, Alicia. Não fala nem do seu amigo ao qual você tanto ama para o seu lindo tio? — O Marcelo colocou a mão no ombro do meu tio.

— Você o ama é, Alicia?

— Eu nem vou falar nada. Vou pegar meu lanche e ir embora antes que eu me estresse com vocês — Peguei meu lanche e já fui pra ligar a minha cadeira, mas o meu tio e o Marcelo começaram a rir igual doidos.

— Gostei de você, Marcelo! Quer sentar com a gente? — Meu tio perguntou.

— Que "gente"? Eu vou sair dessa mesa. Só tem doido aqui! Tchauzinho pra vocês — Comecei a dar ré na minha cadeira e meu tio entrou na minha frente.

— Fica aqui, meu amor!! Desculpa, mas eu amo te perturbar. Por isso que você é minha sobrinha favorita! — Ele deu um beijo na minha bochecha.

— Vou ficar aqui só porque o senhor falou que eu sou sua sobrinha favorita e eu preciso do apoio da mesa. Vai ficar aqui, Marcelo?

— Não, a minha mãe tá me esperando. Eu falei pra ela que só ia vir dizer um oi pra uma amiga. Ela já tá me olhando torto. Tenho que ir. Foi um prazer conhecê-lo, senhor...?

— Eduardo, mas me chama apenas de Edu ou tio Edu. Me sinto velho quando me chamam de senhor.

— Ok. Então foi um prazer, tio Edu. Até amanhã, Alicia — Ele olhou pra mim e me deu um sorriso, o que me deixou um pouco abobada. O que tá acontecendo comigo?

— Até, Marcelo.

— Eu senti um clima — Meu tio disse assim que o Marcelo se afastou.

— Eu hein. Acho que a fome tá te alterando, tio. Come um pouquinho pra melhorar a cabeça.

— Tá, eu estou com bastante fome mesmo, mas ainda não estou delirando!! — Ele começou a comer e eu também. Prefiro me manter quieta pra não falar besteira...

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