— Sobre o que o meu pai e você conversaram? — Eu disse enquanto íamos para a festa da prima dele.
— Coisas de homem.
— E eu sou um assunto de homem?
— Como assim?
— Eu escutei meu pai falando alguma coisa sobre mim.
— Ah, não é nada demais.
— É sim, vocês estavam morrendo de rir. Eu lembro que meu disse: "A Alicia chorou tanto aquele dia". Que dia foi esse do qual estavam conversando?
— Foi um dia lá — O Marcelo disse tentando me enrolar.
— Assim você me mata de curiosidade, Marcelo. Me conta pra eu saber se eu estou passando muita vergonha ou não.
— Não irei falar, senhorita Alicia
— Então posso ao menos saber como se deram tão bem?
— Isso eu posso lhe dizer: No começo da conversa, seu pai estava todo rígido comigo e eu sempre o respondia e dizia um "senhor" no final. Acho que ele deve ter visto que eu tenho boas intenções com você. Então ele se soltou mais e começamos a conversar sobre assuntos variados. Descobri que seu pai e eu temos muitos assuntos em comum.
— Devem ter mesmo, porque ele até te convidou pra conversar novamente e te deu o número dele, certo?
— Sim, ele me deu o número dele para você não ter que ficar se lembrando de me mandar mensagem sempre que estivesse por aqui.
— Eu não me incomodaria de te mandar mensagem sempre que ele estivesse aqui. Seria mais um motivo pra te mandar mensagem.
— Bom, eu também não. Mas eu acho que, mesmo permitindo você vir comigo, ele ainda tá com um pé atrás.
— Eu acho também. Bem, que bom que deu tudo certo e que ele me deixou vir com você, porque por um momento eu pensei que ele não ia deixar. Eu ia ficar muito chateada, porque eu já estava prontinha.
— Então você estava preocupada se o seu pai ia deixar você ir comigo, porque você já estava arrumada? — Ele fez uma cara de indignação muito engraçada. Não aguentei e comecei a rir. — Ri mesmo, senhorita Alicia. Vejo que não tenho importância pra você. Vai me dizer que você só está indo pra comer?
— É o meu motivo número um. Você acha que eu perderia a oportunidade de comer bolo? Jamais! — Ele começou a fazer cosquinha em mim. — Para, Marcelo!! Para!!
— Só vou parar, porque estou dirigindo.
— Tu é maluco, garoto. Mas, falando sério agora, eu estou muito surpresa pela atitude do meu pai. Não que eu tenha tido alguém que se interessou por mim, mas por conta disso, eu pensei que ele seria mais rígido.
— Não sei como algum ser humano na face da Terra não possa se interessar por você, mas é bom que eu vou ser o primeiro e único — Nem preciso dizer que eu corei, né? Mas ele também não ajuda. O Marcelo olhou pra mim pelo canto do olho e sorriu. — E, convenhamos, eu sou uma ótima pessoa, um cara espetacular, lindo, atraente, inteligente, divertido, engraçado, e várias outras coisas a mais. Mas eu vou parar por aqui pra não te deixar entediada.
— Você pode colocar mais um adjetivo para sua lista
— Mais um. Qual seria o adjetivo?
— Humilde só que não.
— "Humilde só que não" é um adjetivo agora?
— Pra mim é.
— Tenho uma boa notícia pra você, querida.
— Olha virei "querida" agora, mas qual é a boa notícia?
— Você acabou de criar um adjetivo. Meus parabéns!
— Obrigada. Foi muito difícil fazer isso, mas com a sua humildade eu consegui.
— Que bom que pude ajudar.
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Experiências Extraordinárias
RomansaAlicia sofreu um acidente de carro e perdeu o movimento das pernas. Desde então, sua cadeira motorizada tem sido a sua fiel companheira. Ela não gosta de mudanças, só que a mãe dela não entende muito bem isso. Um certo dia, sua mãe decide muda-la d...