Perseguidora

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Observei atentamente cada passo de Celeste naquelas duas semanas. Eu sei que isso me faz parecer uma stalker, psicopata e maluca, mas juro que às intenções eram boas.

Ela realmente ficava na biblioteca a maior parte do tempo, como Cláudia disse. Se sentava no chão, em um canto distante da porta principal e de onde geralmente os alunos ficavam.

Era um ótimo esconderijo, visto que mais da metade das pessoas da nossa idade estavam mais interessadas em seus celulares modernos do que em livros velhos e empoeirados. Se não fossemos obrigados a ler pelo menos um livro por bimestre, tenho certeza de que a biblioteca seria fechada.

Celeste tomava seu café sempre sozinha, isso quando o fazia, e provavelmente tinha algum esconderijo que eu não conseguia identificar onde era, já que muitas vezes ao longo das semanas eu não conseguia achá-la por mais que eu revirasse todo o lugar de cima a baixo.

Ela também passava muito tempo em nosso dormitório, sempre com um livro em mãos ou seu celular e os fones de ouvido. Ela não conversava com qualquer pessoa fora da sala de aula, e só conversava quando era extremamente necessário, eu não conheci uma pessoa tão solitária como Celeste em toda a minha vida.

Por mais que eu tentasse estar por perto e buscasse entender como me aproximar dessa garota, às informações que eu tinha eram às mesmas de qualquer pessoa que a observasse com um pouco mais de atenção, e no fim perseguir Celeste durante duas semanas foi em vão.

Decidi então permanecer na escola ao invés de ir para casa no fim de semana, e tentar conversar com ela com calma e esclarecer às coisas entre nós.

Assim eu o fiz e, na sexta-feira à noite já liguei para papai e avisei que ficaria na escola para estudar e tentar melhorar minha média em algumas matérias e ele consentiu sem problema algum.

No sábado de manhã quando eu acordei, algumas garotas já haviam arrumado suas coisas e outras já tinham ido para suas casas. As camas de Celeste e Catarina estavam vazias, minha amiga já havia ido para casa e mal falou comigo nos últimos dias. Por mais que eu estivesse sentindo falta de Catarina, eu sabia que eu era a pessoa sensata dessa discussão, e me resolveria com ela depois, a minha prioridade no momento era a saúde de uma outra pessoa e, isso era muito maior que nós duas para que eu simplesmente tentasse reconquistá-la se eu nem fiz nada de errado.

Me levantei já trocando de roupas e fui direto para a cantina tomar café da manhã, ainda sem nenhum sinal de Celeste. Depois do desjejum caminho pela escola, procurando por ela nos lugares que ela costuma ficar. Nada na biblioteca, ninguém na sala do coral, nem sinal de Celeste no quarto. Olhei nas salas que estavam destrancadas, e a garota simplesmente sumiu.

Cheguei a pensar que talvez, por algum motivo, os pais dela finalmente a haviam buscado, mas, quando saí do nosso prédio em direção ao jardim eu a vi sentada em um cantinho ensolarado lendo um livro. Estava completamente imersa na leitura, os olhos perdidos entre as páginas, um sorriso genuíno surgiu em seu rosto depois de ler algo. Ela não sentiu a minha presença até eu estar perto o suficiente para minha sombra aparecer ao seu lado.

Celeste se virou para mim, o brilho deixando o seu rosto, o sorriso se desfazendo.

— O que você tá fazendo aqui? Pensei que já tinha deixado claro que era pra você me deixar em paz.

— Eu estava procurando você

— Já achou, e já pode ir embora, não tenho nada pra falar com você.

— Você não acha meio solitário? Passar os fins de semana aqui sozinha?

— O que você sabe sobre isso? Tá sempre com as outras garotas, sua mãe vem te buscar sempre que pode, muito me admira que esteja aqui hoje.

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