Capítulo especial

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Introdução:
Esse capítulo não faz parte da narrativa de Whispering Secrets, ele se passa em uma realidade alternativa em tempos atuais e pós pandemia.
O que acontece nesse capítulo não interfere na história de Whispering Secrets e não é necessária a leitura dele.

Ponto de vista Robin Buckley

  Estávamos no meu quarto, simples mas aconchegante conversando sobre o porquê de Kate ter mudado de escola enquanto ouvíamos músicas da playlist dela no Spotify.

— Tá ligada que eu me descobri na pandemia né? — Ela disse.

  Assenti. Já conversamos sobre isso. Eu por outro lado não falei nada sobre minha sexualidade.

— Só que ocorreu que um carinha lá descobriu, e cê sabe, né, o que mais tem naquela escola é menino padrão, se a situação já não tava legal, piorou. — Enquanto falava, fazia gestos exagerados.

— Puxa, que merda. — Comentei.

— Com certeza! Se um souber cê pode ter certeza que a escola inteira sabe também. Aí eu e meu pai tava conversando, pagar caro em escola que é longe pra ir e ainda sofrer bullying? Mudei pra essa que é bem mais perto, dá até pra ir a pé e não precisa pagar transporte.

— Muito melhor! — Disse atenta.

— Sim!! Até porque nisso de vir pra cá eu conheci você. — Ela disse e eu sorri envergonhada. — Nossa, até hoje eu recebo ataque desse povo no insta. Gente que nunca falou comigo aparece do nada só pra me xingar! — Falou com raiva.

  Me senti por parte indignada com isso. Sei como é, ela só não sabe que eu sei.

— Haja paciência, esse povo não pode ver ninguém sendo feliz! — Digo.

— Né!! Confesso que eu tento não me afetar mas às vezes magoa, sabe? Gente que eu nem sei quem é já me falou tanta coisa horrível. — Ela disse e eu me senti triste por ela.

— Imagino. — Foi só o que eu pude dizer.

— Mas tá tudo bem, na maior parte do tempo eu não ligo. Sabe, chega a ser engraçado esse ódio completamente irracional.

— Nunca vou entender!

  Continuamos a trocar indignações quando uma música que eu reconheço começa a tocar. Nossas feições são substituídas para alegria, arregalei os olhos na mesma hora, aumentei o volume e me levantei puxando-a comigo.

  Dançamos algo parecido com valsa até chegar na parte que sabemos de cor e até ao contrário, então nos separamos e eu comecei a cantar quase gritando:
How could we ever just be friends? — Eu fazia gestos exagerados. — I would rather die than let you go. — Literalmente. — Juliet to your Romeo! How I heard you say...

  E então ela me interrompeu e começou a cantar tão alto quanto eu:
I would never fall in love... — Fazia gestos exagerados também. — ... Again until I found her. — Olhava pra todos os cantos enquanto cantava, mas olhou pra mim enquanto dizia "her" e eu enrusbeci ao perceber. — I said: I would never fall unless it's you... — Ela. Apontou. Pra mim. Enquanto cantava "you" com tudo de si. — I fall into. — Seja verdade, por favor.

  Nos juntamos novamente em nossa valsa estranha no espaço limitado do meu quarto escutando a música e cantarolando sem a letra.

  Quando a música troca, abaixo o volume e nos sentamos na cama novamente.

— O que foi aquilo? — Falei rindo nervosa.

— O que? — Ela perguntou e riu também.

— É que coincidentemente você olhou pra mim justamente quando falou "her" e "you" e ainda apontou pra mim.

— É, né... — Ela riu desajeitada e desviou o olhar.

  Será que significou algo?

  Me deitei na cama sorrindo.

  Ela se deitou ao meu lado sem olhar pra mim e ficamos sem falar por alguns segundos até ela lembrar de algo interessante pra falar, que me trouxe memórias que trouxeram mais memórias pra ela e a conversa durou.

— A gente devia fazer daquela música a nossa música. — Falei.

— A que tá tocando? — Kate perguntou.

  No momento tocava alguma música da playlist de Kate que eu não faço a menor ideia de qual seja mas é boa.

— Não, Until i found you. A que a gente cantou.

— Ah! Sim, eu concordo! — Sorriu de um jeito sincero.

  Naquele momento nós duas estávamos sentadas na cama com as costas escoradas na parede, a cabeça dela deitada no meu ombro e a minha na dela.

  Hora ou outra ela mexia no celular meticulosamente decorado dela, sem se importar se eu tava vendo o que ela tava fazendo, mas sempre que eu falava algo ela apagava a tela e prestava atenção em mim.

  Em um momento, decido mexer no meu celular.

  O ligo sem perceber que ela estava olhando e antes de desbloquear reparo que ela analisa com cuidado meu papel de parede, tal que contém as cores da bandeira lésbica bem explicitamente.

  Desbloqueio meu celular e ela olha pra mim, desacomodando sua cabeça do meu ombro e consequentemente a minha da dela.

  Espero a pergunta mas ela não vem. Ao invés disso ela dá um sorrisinho sem mostrar os dentes, coloca a cabeça de volta e mexe em qualquer coisa no celular que não presto atenção.

  Com toda certeza ela já tinha sacado, então não foi difícil perguntar:
— Você não ta brava por eu não ter te contado?

  Mesmo não tendo exatamente problemas pra falar sobre isso, ainda mais com ela, isso me deixa nervosa porque ela não é qualquer pessoa. Eu gosto dela.

— Claro que não. — Falou óbvia e senti alívio.

  Relaxei e voltei a deitar minha cabeça na dela.

— Você não acha que eu confio menos em você por isso, né? Eu juro que não, é só que o assunto não surgiu e...

— Eu sei. — Interrompeu e riu de leve. — Tá tudo bem.

×××××

Música: Until I Found You (with Em Beihold) - Em Beihold Version

Tradução dos versos citados:

Como poderíamos algum dia ser apenas amigos?
Eu preferiria morrer do que deixar você partir

A Julieta do seu Romeu
Como eu ouvi você dizer
Eu nunca mais me apaixonaria até que a encontrasse

Eu disse: eu nunca me apaixonaria, a menos que seja por você

Tradução daqui:
https://m.letras.mus.br/stephen-sanchez/until-i-found-you-feat-em-beihold/traducao.html

Whispering Secrets - Robin BuckleyOnde histórias criam vida. Descubra agora