Cap. 32

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  Quando chegamos em casa, fui para o meu quarto, inicialmente com o objetivo de ler um livro, mas me sentei na cama e comecei a pensar.

  Revisitei memórias. Me lembro de chegar um dia na locadora e ouvir Robin falando de alguém, elogiando o cabelo de alguém, os olhos.

  Tenho quase certeza que ela não falava do jeito que se fala de uma celebridade muito bonita. Não, ela falava com sentimento.

  Mas principalmente: quando ela me viu, ficou constrangida e praticamente se escondeu debaixo do balcão.

  Faria sentido ela fazer isso por achar que eu ouvi algum nome ou só por ter descoberto que ela gosta de alguém, apesar de eu nem ter pensado nisso na hora com o meu raciocínio tão rápido quanto o de uma porta.

  Mas e se o nome fosse o meu? Ela disse que gosta de meninas, mas não me lembro de ela ter citado nenhuma outra com quem ela converse exceto Nancy, mas elas nem tem conversado tanto assim que eu saiba.

  Lembro dos olhares. Na minha cabeça se forma uma galeria de todos os olhares que pareciam pelo menos um pouco ter "algo a mais".

  As vezes que ela corou e que havia qualquer chance da razão estar relacionada a mim.

  Fico ansiosa, me levanto e ando de um lado para o outro pelo quarto pensando nos vários "e se?".

  Eu não devia ficar tão presa aos "e se?" porque no final pode ser que eu esteja enganada, mas é impossível ignorar essa possibilidade.

  Provavelmente meu rosto se assemelha a um tomate agora.

  Ouço uma batida na porta e meu pai a abre, se deparando comigo agitada, andando pra lá e pra cá. Paro segundos depois de o ver.

— Tá tudo bem? — Ele pergunta.

— É... Eu tava pensando numas coisas... — Digo pausadamente. — E eu acho que é possível...

— Larga de suspense! — Interrompe meu pai, ansioso. — O que foi?

— Eu acho que a Robin gosta de mim. — Digo em um só fôlego.

— Mentira! — Diz arregalando os olhos. — Sabia!

  Franzo o cenho enquanto olho pra ele.

— Como assim sabia? — Pergunto surpresa.

— Não sabia exatamente, suspeitava. E talvez torcia. É, torcia. — Arqueio as sobrancelhas ouvindo. — E aí, o que te fez pensar isso?

— Diversos fatores. — Simplifico. — Foram muitos olhares que eu não dei muita atenção...

— Só? Isso eu também reparei. — Ele diz.

— Reparou antes de mim? — Digo indignada comigo mesma. — Ela só esteve aqui algumas vezes!! Como assim? — Digo forçando uma voz chorosa.

  Meu pai ri.

— Tenta falar com ela, sabe, depois da conversa que vocês tiveram e vendo como vocês tavam depois dela, mesmo se ela não gostar de verdade, aposto que ela vai ser compreensiva.

— É, talvez eu deva. — Me sento na cama. — Mas ainda é difícil. Mudando de assunto, por que você veio aqui no quarto?

— Tava torcendo pra você lembrar onde eu deixei meus óculos.

  Eu rio.

— Procurou perto do telefone? — Sugiro.

— Tô indo lá agora. — Disse, em seguida se retirando do quarto.

Ponto de vista Robin Buckley

  Domingo.

— Se eu deixar meus impulsos dominarem, eu beijo ela, cê sabe, né? E eu tô pensando em deixar isso acontecer. — Digo em tom de piada, mas com uma pitada de seriedade.

  Estou em uma ligação com Steve que a princípio consistia em meus surtos sem contexto e Harrington se esforçando muito pra me aturar.

— Vai fundo. — Encorajou.

  Já dei praticamente uma palestra falando sobre como eu acho que mesmo se ela me rejeitar eu não vou cair na boca da cidade e talvez continuemos amigas, mas isso tudo sem citar os motivos.

  Mesmo confiando em Steve, depois de ouvir a história de Kate, principalmente, me sentiria uma traidora por revelar o fato de ela ser lésbica ou qualquer fato ocorrido enquanto ela estava na Califórnia.

  Tudo aquilo começou quando alguém contou, sem a autorização dela, aquele segredo pra outras pessoas, o que ela pensaria de mim se eu fizesse o mesmo? Não importa se ele é confiável, ela contou pra mim.

— Mas como é que eu faço isso? — Pergunto a Steve.

— Sei lá, chama ela pra sua casa, conversa normal, se aproxima e quanto parecer que tem um "clima", beija.

— Mas e se ela me rejeitar?

— Você literalmente passou os últimos 20 minutos só falando sobre isso, Robin. — Suspira.

— Tá, é verdade, mas não significa que eu queira ser rejeitada! Eu ainda tô com medo disso.

— E prefere passar a vida inteira em dúvida ou arriscar e descobrir mesmo que isso signifique ser rejeitada?

— Ah, sabe, o benefício da dúvida pode não ser tão ruim... — Digo brincando.

  Steve ri.

— Ah, mas é sim! — Responde. — Fala com ela. Se der certo, que bom, se não der, eu tô aqui. — Diz, compreensivo.

  Suspiro.

— Eu vou tentar! — Digo sentindo uma mistura de desânimo e esperança ao mesmo tempo que não sei explicar. — Talvez não agora, mas eu vou tentar.

Whispering Secrets - Robin BuckleyOnde histórias criam vida. Descubra agora