Capítulo 12

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Laura

Não havia dor. Não havia nada. Tudo o que havia era um profundo silêncio na minha cabeça. Um silêncio acompanhado de um peso enorme e sufocante. A culpa estava me consumindo de dentro pra fora. Eu havia perdido meu bebê. E não era isso o que queria? Eu não havia pensado nisso tantas vezes? Ainda consigo sentir seu pequeno corpinho quente em minhas mãos. Ainda vejo o sangue quando olho pra baixo. Me ferir é buscar o caminho para sentir alguma coisa. Mais não havia nada. Além do vazio e do silêncio.

Eu não ouvia o que Jin falava comigo. Eu não ouvia ninguém. Eram bocas se mexendo diante dos meus olhos e eu não ouvia sequer uma palavra. Parecia que eu estava assistindo um filme no mudo. Um looping eterno. Eu vi os pais do Jin chegando em casa, eu senti seus abraços, mais não havia som.

Eu via os meninos, eles conversavam comigo, tentavam me animar, eu via o mundo se movendo diante dos meus olhos mais para mim aquilo não fazia mais sentido. Não havia mais direção. O sentimento era que um enorme pedaço de mim havia sido arrancado e a culpa era todo minha.

Eu não era boa bastante pra crescer com a minha mãe do meu lado. Era um estorvo, um peso e um gasto a mais na vida do meu pai. Era incapaz e insuficiente segundo ele. Eu era um monstro. Que pensava em acabar com a vida de um bebê toda vez que me lembrava quem era o pai dele. Eu era uma pessoa amarga, infeliz e sem luz.

Jin não merecia aquilo. Não merecia essa vida. Não merecia viver em função de um peso morto ali parado na sala vendo o mundo girar enquanto eu estava petrificada.

A dor da lâmina no meu pulso atingiu meu cérebro com a lembrança. O sangue que jorrou fazendo a visão escurecer e toda a dor desaparecer.

Meus olhos acompanharam Jin enquanto ele se movia pela cozinha. O aperto em minha garganta me fez tremer. Ele não merecia essa vida. Eu apareci só pra estragar tudo o que ele tinha e o que ele era. Eu não deveria ter saído do Brasil. Eu sinto muito Jin...

Me levantei e caminhei até o banheiro trancando a porta. Encarei novamente minha cicatriz no pulso e passei a unha sobre ela. E de novo... De novo.. E de novo. Peguei o barbeador dentro do espelho e encarei a lâmina. Desmontei para tirar a Gillette e cortei o dedo na lâmina. Olá dor. Sorri com aquela sensação. Eu estava sentindo. Não era o bastante. Sentei no chão e posicionei a lâmina sobre o pulso.

_ Laura abre a porta - ouvi a voz de Jin - Laura abre essa porta!

_ Jin... - falei - você me deu uma luz que eu tinha perdido, eu realmente acredito que eu te amo...

_ Laura... Abre a porta por favor - ele mexeu na maçaneta.

_ vai ficar tudo bem - falei - você não merece isso, não merece essa escuridão que paira sobre minha cabeça, você merece viver feliz tudo bem? Me promete que vai viver feliz...

_ do que você está falando?? Abra essa porta!!

Forcei a Gillette contra a pele e senti a dor e o sangue sair. A dor que eu senti não era nada comparado com a dor interna e sentimental. O sangue pingou no piso do chão e forcei mais a Gillette. A voz de Jin foi ficando longe. Por favor me perdoa... Mais não posso mais continuar com isso.

Meu corpo tombou no chão e a última coisa que eu vi foi uma luz. Não havia mais nada ali.

Jin

Laura estava internada. A tentativa de suicídio tinha sido o estopim pra me convencer de que eu jamais conseguiria fazer aquilo sozinho.

No centro de reabilitação ela ficaria protegida e pessoas mais capacitadas do que eu cuidariam dela.

Ela voltou. Seu pulso enfaixado e seu silêncio pairando sobre o local. Eu a visitava todo o santo dia. Sentava ao seu lado e a abraçava. Ela estava magra, seus olhos fundos pois não dormia. E as enfermeiras falaram que ela não tomava os remédios. Ela cuspia e começou a se tornar agressiva quando insistiam em medica-la. Eu nunca imaginei que a veria dessa forma. Eu nunca imaginei quão fundo alguém pode mergulhar.

Ela andava de um lado pro outro dentro do quarto quando eu cheguei. Estava agitada, tentei abraçá-la mais fui empurrado. Tentei novamente quando ela tacou um copo em mim.

_ me deixa morrer!!! - ela gritou - me deixa morrer por favor!!!!

Ela não aceitava minha aproximação, encostei na parede e deslizei sentando no chão chorando. Eu não suportava mais vê ela daquela maneira.

Ela me olhou daquela forma. Suas mãos começaram a bater na sua cabeça. Era uma batalha interna eu não conseguia protegê-la.

_ Laura por favor - caminhei até ela e a segurei em seus ombros - não desista de você Laura... Por favor olhe pra mim! LAURA!!! - a sacudi fazendo ela olhar pra mim - não desista de você... Eu preciso de você... Por favor lute...

_ não há mais nada aqui dentro de mim.... - a voz era seca. Morta. Uma morta viva. Ela havia desistido.

Não Desista de Você. || Kim Seokjin || Onde histórias criam vida. Descubra agora