A história.

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26•
A história

JEON JUNGKOOK

Faço cara de nojo quando Jimin vomita. Seguro sua cabeça, porque pelo visto ele já não consegue se manter de pé, sentado ou de qualquer outra forma. Seguro o rosto dele
com as mãos e assopro para refrescá-lo. Seus olhos estão
quase fechando, e ele me dá um sorriso bobo.

— Seu hálito tem cheiro de cigarro e chiclete de menta — diz, soltando uma risadinha. — Tão você…

Tiro algumas mechas de cabelo que grudaram no seu rosto com o suor. Ele tenta bater na minha mão, mas seus braços não respondem.

— Não precisa me ajudar, deus grego, estou bem.

Ergo a sobrancelha.
— Ah, é? Então fica de pé.

— Só vai embora e me deixa aqui, vou ficar bem.

Não posso deixá-lo aqui, ainda que ele não seja minha pessoa favorita no momento, depois que a vi beijando
aquele nerd.
Não pense nisso, Jungkook.
Soltando um suspiro de cansaço, eu o ajudo a se levantar
e, quando ele já está de pé, me agacho um pouco e apoio seu braço no meu ombro para carregá-lo. Quando saímos da varanda, ele não consegue fazer nada além de soltar
sussurros.
Carregá-lo pelo corredor não é difícil, ele não é pesado e estou acostumado a levantar mais peso nos treinos do time.
Entro no único quarto que não foi usado como motel hoje.
Como sei disso? Porque meus amigos estão lá dentro, jogando videogame e bebendo. O primeiro que me vê é
Marco.

— Deixa eu adivinhar — diz ele, e finge estar pensando. — Jimin?

O garoto de cabelos escuros que eu trouxe há pouco está sentado no colo de Gregory e indaga:

— Quem é ele?
Luis levanta as mãos, mostrando não saber.

— Pergunte ao Jungkook. Eu ainda não entendi qual é a desses dois.

Dando uma olhada séria em todos, respondo:

— Todo mundo para fora, já.

Depois que todos saem, levo Jimin ao banheiro, coloco-o na banheira e ele fica ali sentado, com a cabeça recostada na lateral.

— Você vomitou na sua roupa — aviso, começando a levantar sua camiseta branca florida.

Tiro sua camisa.
Depois baixo o short dele até os calcanhares. Engulo em seco,
tentando me concentrar. Abro a torneira, e ele dá um grito com o jato de água fria na cabeça.

— F-friiiiiiiiio — gagueja ele, os cabelos molhados grudando no rosto.

Sem encará-lo, ensaboo seu corpo, fitando a parede. A carne é fraca, e eu sempre desejei Jimin mais do que me
permito admitir. Depois de deixá-lo escovar os dentes ainda meio desajeitado, eu o enrolo na toalha e o coloco sentado na cama.

— Jungkook…

— Hmm?

— Estou com frio.

Deve estar mesmo, porque o ar-condicionado está ligado
na menor temperatura para manter a casa fresca com tanta gente. Jimin parece ter recuperado um pouco mais de força depois do banho, pelo menos já consegue ficar sentado sozinho. Eu o ajudo a se enxugar e jogo a toalha
molhada no chão.
Meus olhos viajam por seu corpo despido, e eu preciso de todo meu autocontrole para não abraçá-lo. Senti tanto a falta dele…
Ele está bêbado, Jungkook.
Tenho que me forçar a lembrar disso. Desabotoo a camisa rapidamente. Jimin ri.

— O que você está fazendo?

Tiro-a e a coloco em Jimin, abotoando-a e afastando a tentação de seu corpo diante dos meus olhos. Minha camisa fica bem nele.

— Deita, vai se sentir melhor depois de dormir um pouco.

— Não, estou sem sono — responde ele, e cruza os braços como um menino malcriado. — Me conta uma história.

— Deita logo.

— Não.

Ele está determinado, então eu a obrigo a se deitar e me sento a seu lado, me recostando na cabeceira da cama.

— Me conta uma história — insiste ele, virando para mim e abraçando minha barriga.

Eu deixo, porque é bom demais tê-lo junto de mim depois de sentir tanta saudade. Faço cafuné, pensando no que dizer.
Jimin não vai se lembrar disso amanhã; a liberdade de poder lhe falar qualquer coisa me motiva, então começo:

— Era uma vez um menino que acreditava que seus pais fossem o casal perfeito, que sua casa era o melhor lar do mundo. — Sorrio. — Um garoto muito ingênuo.

O que estou dizendo? Por que é tão fácil me abrir com ele?
Jimin se aproxima, roçando o nariz nas minhas costelas.

— E o que aconteceu com ele?

— O menino admirava o pai. Ele era seu pilar, seu maior exemplo. Um homem forte, bem-sucedido. Tudo era perfeito, talvez até demais. O pai viajava muito a trabalho, deixando os filhos e a esposa sozinhos com frequência. — Fecho os olhos, respirando fundo. — Um dia, o garoto voltou mais cedo da escola, depois de tirar uma excelente nota numa prova difícil de matemática. Subiu correndo à procura da mãe, queria que ela ficasse orgulhosa dele, mas quando
entrou no quarto dela…
Lençóis brancos, corpos nus.
Afasto essas imagens da mente.
— A mãe estava na cama com outro homem. Depois disso, tudo virou explicações sem sentido, súplicas e lágrimas, mas para o menino tudo soava muito distante; sua mente estava em outro lugar, a imagem do seu lar, da família perfeita, desvaneceu-se diante de seus olhos,
independentemente do que a mãe lhe dissesse.

Eu me detenho, com esperança de que Jimin já tenha adormecido, mas não.

— Continue, quero saber o que aconteceu depois.

— Ele contou o que viu a seu irmão mais velho, e os dois esperaram que o pai chegasse para lhe contar. Depois de muitas discussões e ameaças vazias, o pai perdoou a esposa. Os dois meninos viram o pai ceder, esquecer o orgulho, chorar desiludido na escuridão de seu escritório.
Aquele homem tão forte, um herói para seus filhos, estava
ali tão frágil e ferido. Desde aquele dia, o pai os fez lembrar
incansavelmente de que a paixão os torna fracos. O menino aprendeu a não confiar em ninguém, a não se apegar, a não dar a ninguém o poder de fragilizá-lo, e assim cresceu e
espera ficar sozinho para sempre. Fim.

Olho para o garoto ao meu lado, e seus olhos estão fechados. Ainda assim, ele responde:

— Que final triste.

— A vida pode ser mais triste do que parece.

— Não gostei desse final — diz ele, grunhindo. — No meu final, vou imaginar que ele conheceu alguém, se apaixonou e viveu feliz para sempre.

Caio na risada.
— Lógico que você ia imaginar isso, bruxo.

— Estou com sono.

— Durma.

— Jungkook?

— Quê?

— Você acha que o amor é uma fraqueza?

Sua pergunta não me surpreende.
— Tenho certeza.

— É por isso que nunca se apaixonou?

— Quem disse que nunca me apaixonei?

— Já se apaixonou?

Suspiro e olho para ele.
— Acho que sim.

A respiração dele fica mais fraca, os olhos se fecham.
Jimin adormece, e eu sorrio feito um idiota, observando-o.
Vê-lo dormir me enche de paz.

O que você está fazendo comigo, bruxo obcecado?

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Oii,
Não esqueça de deixar sua 🌟
.
Obrigada e até o próximo capítulo.

Através da minha janela (jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora