A incumbência do rei.

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— Seu idiota descuidado! — gritou Arthur da ravina sob o salgueiro. — Pare de assustar Brooklet!

O homem transparente se virou para Merlin, curvando-se.

— Espero que seja paciente com meu neto precioso. Ele tem um bom coração, mesmo que prefira não mostrá-lo. — O fantasma se aproximou da margem e jogou o manto para trás antes de sentar-se; uma expressão empolgada brotava em seus olhos. — Você encontra consolo na água, não é?

Merlin o encarou enquanto os grilos retomavam sua cantiga.

— Eu também. — O fantasma fez um gesto indicando o espaço ao seu lado. — Sente-se comigo. Não converso há anos. Que lugar melhor para isso do que este aqui?

Sem saber como se comportar, Merlin obedeceu e segurou uma risada. Nada poderia ser mais idiota do que um fantasma ficar sem jeito perto de outro.

— O senhor é mesmo avô de Arthur?

— Eu era o avô dele, a quinze anos. Dói-me ver você assim, Emrys.

Esse nome de novo.

Merlin sentiu-se grato à mãe por ter mudado seu nome depois de fugirem do castelo. Esse homem - esse fantasma - era o rei assassinado que Merlin tinha visto no tear, o fantasma do rei Constantino II. Portanto, no fim das contas, havia mesmo outros fantasmas. Isso fez Merlin pensar em quais outras lendas seriam verdadeiras.

— Me chame de Merlin — disse. — É uma honra conhecê-lo, Vossa Majestade.

— A honra é minha, Merlin. — Constantino se virou para a água. — É bom ser visto.

Merlin virou o olhar para a água também.

— O senhor veio para ver como ele estava?

— O reino acredita que Arthur foi sequestrado pelos druidas.

Por que eles chegariam a essa conclusão?

— Ele não foi sequestrado.

— Dá para ver, mas foi o que os soldados contaram. Está claro que as coisas não aconteceram como sir Morrer contou, mas ele de fato desapareceu. — O rei virou seus olhos claros, esperando que Merlin o encarasse. — A escolta não permitiria que ele partisse sozinho a cavalo. Como ele escapou, então?

— Arthur ordenou que todos se afastassem. — Merlin sorriu. — E eu dei uma paulada no Mordred.

A sombrancelha grossa de Constantino subiu.

— Deu? Eu não sabia que um fantasma podia fazer isso.

— Não sou como os outros fantasmas. — Pegando uma pedra, Merlin jogou-a sobre o rio. Ela quicou na superfície, chegou à margem oposta e parou na grama. — Está vendo?

Constantino pigarreou.

— Acho que não é o mesmo. — Havia inveja na voz dele. Isso confirma que a história de Mordred sobre os druidas é falsa, e com toda a razão. Eles são um povo pacífico.

Uma onda de culpa atravessou Merlin enquanto seus pensamentos retornavam ao jovem misterioso de olhos azuis. Agora Mordred acreditava que os druidas tinham levado Arthur. Merlin jamais pretenderia envolvê-los nisso. Deveria ter batido com mais força.

— Quando o senhor soube disso?

— Ouvi um soldado enquanto estava espionando a guarda.

— A guarda? Por que o senhor faria isso?

— Porque foi ela quem me matou.

Merlin olhou boquiaberto o fantasma.

— Morgause?

it's destiny, my love! [merthur]Onde histórias criam vida. Descubra agora