Destecido.

180 31 28
                                    

Merlin não se movia, nem conseguia falar. Fitava a si mesmo enquanto Arthur recuperava o fôlego.

O que meu corpo está fazendo aqui?

Com surpresa ainda maior, Merlin viu uma sugestão de cor nas bochechas cobertas de âmbar, como se o sangue ainda corresse sob a pele. Muitos de seus hematomas e arranhões pareciam curados, e a testa brilhava com suor recente. A substância pegajosa que cobria os poros o deixou ainda mais perplexo.

- Espere um segundo - Merlin ergueu a mão para Arthur. - Talvez Gaius não tenha me matado.

O príncipe pôs a mão no peito, olhando do fantasma de Merlin para o corpo dele, e de volta. Seus lábios tremiam, inquietos.

- Então por que você me mandou correr?

- Foi uma tremenda insensatez da minha parte. - O velho baixou o machado de Merlin e encostou-o na parede. - Perdão.

- Explique-se, alfaiate - disse ele. - Por que veio atrás de mim com isso?

- Eu só pretendia mostrar essa ferramenta, que foi marcada com Urdidura pela mesma mulher que tentou matar Merlin. - Gaius se afastou do machado e cruzou os dedos. - Ela colocou um ponto de costura neste machado, de modo a usá-lo para seguir Merlin até em casa e esperá-lo.

- De que ele está falando? - perguntou o fantasma. - Que negócio é esse de ponto de costura? - Ele tinha uma ideia do que o velho estava falando, e obviamente sabia da existência de algo sobrenatural em sua morte. A voz que escutara, o modo como o assassino o imobilizara e o tronco da árvore explodindo: a única explicação era magia. Tudo o que Gaius dizia estava relacionado com o trabalho de tecer e costurar, de um jeito ou de outro. - Urdidura é algum tipo de magia?

- Não faço a menor ideia - respondeu Arthur, enquanto cruzava os braços. - Foi assim que você me puxou para esta sala? - perguntou a Gaius. - Com algum tipo de magia?

- Você é um rapaz muito observador - retrucou o velho. - Eu queria impedir que você fosse embora, por isso peço desculpas. O gancho que apliquei em seu fio foi mais forte do que eu pretendia.

- Em meu o quê? - Arthur se virou para Merlin. - Meu fio? O que ele quer dizer com isso?

O fantasma deu de ombros.

- Não sei - disse ele. - Mas quero saber como meu corpo chegou aqui. Os aldeões me enterraram.

- Você roubou o corpo dele? - perguntou o príncipe a Gaius. - Por que fez uma coisa dessas?

O alfaiate cruzou os braços e permaneceu firme junto à porta.

- Eu não roubei o corpo dele, príncipe, eu o substituí. Não por outro corpo humano, claro, mas por algo que eu alterei de modo a parecer o corpo dele. Se não tivesse feito isso, Merlin estaria agora embaixo da terra, sepultado vivo.

- Vivo? - Arthur encarou o outro rapaz outra vez. - Quer dizer que ele está...

- Ligeiramente - acrescentou Gaius. - Eu implementei algumas alterações que vão adiar a decomposição. Esta cera de abelha, por exemplo, está preservando o corpo.

- Cera de abelha? - O fantasma pensou no odor estranho. - Então é esse o cheiro que estou sentindo.

Arthur tremeu enquanto esfregava os braços.

- Está dizendo que ele não está morto?

- Toque o rosto dele - instigou Gaius. - Sinta a verdade.

- Tocar o rosto dele? - A princípio Arthur recuou, mas depois foi na direção do corpo, estendeu um dedo e, hesitante, cutucou a bochecha. Afastou-se com um susto. - A pele está quente!

it's destiny, my love! [merthur]Onde histórias criam vida. Descubra agora