O tear.

196 25 24
                                    

As palavras do alfaiate atraíram Merlin.

— A verdade... sobre meu pai?

— Aproxime-se — convidou Gaius. — Quando meu fio estiver exaurido eu explicarei mais.

Merlin foi para perto do alfaiate e os dois olharam para a tecitura do tear - o espaço onde os fios passam para um lado e para outro pelo pente de tecelão. Esse tear  não tinha um pente assim. Nem liços nem ganchos se alinhavam no topo nem na base. Os componentes necessários para tecer estavam faltando. O tear era inútil, não passava de uma estrutura com uma centena de tarugos ao redor, cada um deles sustentando um carretel de fio. Havia um brilho nos tarugos, que reluziam como pedras preciosas. Merlin olhou mais de perto. Eram pedras preciosas.

Gaius remexeu numa gaveta e pegou uma lançadeira, o instrumento usado para passar os fios através da tecitura de forma que não embolem uns com os outros. Não havia nenhum fio na lançadeira, mas mesmo assim Gaius mexeu com ela. Ele beliscou e puxou algo invisível pelo buraco da lançadeira.

— Prepare-se — alertou ele. — Você nunca viu nada assim.

O velho jogou a lançadeira no centro do tear. Ela se imobolizou no meio da tecitura e flutuou como uma pena. Merlin olhou para instrumento, pasmo ao ver que não havia caído. Mais espantoso ainda foi o desenrolar dos carretéis nos tarugos. Cada fio se estendeu para dentro do tear. Eles se trançaram, através e ao redor uns dos outros até que a lançadeira estivesse escondida das vistas. Um padrão colorido emergiu - em azuis, verdes, vermelhos e várias outras cores.

Merlin ficou hipnotizado olhando os fios se moverem sozinhos. Eles criavam um tecido que revelava lentamente a imagem de um lugar que Merlin já tinha visto: o terraço onde ele e Arthur haviam conversado - e de onde ele caíra de manhã cedo. Agora, porém, o padrão era bem diferente. Estava escuro e vários guardas cercavam um homem no meio do terraço. Como se olhasse o desenrolar de uma cena através de uma janela feita de tecido, Merlin esperou para ver o que aconteceria naquela tapeçaria animada.

Um Uther jovem apareceu no patamar. O homem cercado levantou uma faca ensanguentada. Chovia no terraço. Gotas pesadas caíam em linhas tremeluzentes através do tear enquanto vozes saltavam do tecido, surpreendendo Merlin ainda mais.

— O que você fez, Morgause? — perguntou Uther.

Essa mulher — Morgause, aparentemente — se deslocou de lado enquanto estremecia com um sorriso. Como um fio puxado, sua aparência se desenrolou... e se teceu de novo formando uma mulher diferente, de cabelos e olhos claros. Morgause usava uma túnica violeta com uma capa forrada da mesma cor e luvas pretas, tudo isso encharcada no aguaceiro que caía.

Merlin reconheceu Morgause imediatamente como a mulher que o havia matado.

Dois guardas olharam por cima da treliça. No pátio embaixo estava um sujeito com uma coroa quebrada junto ao corpo.

— Ele está morto — gritou um dos guardas. — O rei está morto!

Os outros guardas se aproximaram de Morgause, com as lanças apontadas para o coração dele.

— M... Morgause! — gaguejou Uther. — O que você fez?

— Fiz por você — respondeu ela. — Você merece ser rei.

— Ele era meu pai! — gritou o jovem. — Como você pôde?!

— Os pais ficam no caminho. Ele está morto e agora você está livre!

— Chega! — Uma voz nova soou no tear. Os fios farfalharam e uma nova figura apareceu: um cavaleiro alto e bonito com os cabelos escuros e os olhos de um verde profundo. Merlin nunca tinha visto seu pai, mas soube de imediato que era ele. — Entregue-se Morgause — ordenou o pai de Merlin, destemido. — Acabou. Sua traição termina aqui!

it's destiny, my love! [merthur]Onde histórias criam vida. Descubra agora