Um cavaleiro na floresta.

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Os fios de cabelos dourados de Arthur balançavam ao vento enquanto ele guiava a égua por um caminho ladeado de altos carvalhos-brancos. Estava cavalgando na floresta sozinho, no meio da noite. Mas estar a sós com Mordred valia o risco.

Por que ele mandou o velho alfaiate me chamar?

Arthur não havia planejado passar a noite de verão cavalgando por um bosque sombreado. Sua caminhada secreta fora da cidade havia sido interrompida quando ele encontrou o alfaiate perto da ponte, segurando as rédeas de sua égua na mão velha. Arthur o censurou por selar Brooklet - ninguém podia encostar a mão na égua sem seu consentimento -, mas quando ele lhe disse que sir Mordred o esperava numa clareira entre os carvalhos-brancos, ele montou no animal e partiu pela noite.

Um encontro na floresta era uma ideia muito romântica e espontânea, ainda que o local fosse bastante inconveniente. Por que ele escolheria um lugar tão longínquo? Arthur ouvira boatos sobre uma pergunta que o cavaleiro desejava fazer e tinha uma boa ideia de qual poderia ser. Uma noite de verão, uma lua cheia, um encontro na floresta. Sentia-se empolgado com a possibilidade de acontecer algo que ele esperava - e desejava - desde o fim do verão passado.

Ele iria pedi-lo em casamento.

Como ele obteve a aprovação de meu pai?

Não fazia ideia. Seu pai, o rei, não demonstrava praticamente nenhum interesse por nada - a não ser para se opor ao seu desejo de estar com Mordred.

Mesmo assim o príncipe continuou cavalgando, espiando por entre as árvores em busca de seu amor. O comportamento de Mordred havia mudado um pouco desde o festival, graças àquele camponês arrogante que tinha machucado mais do que o rosto de seu querido cavaleiro. Ele estremeceu quando pensou que quase beijara aquele atrevido.

Centenas de árvores grossas o cercavam à medida que ele penetrava na floresta. A lua cheia lançava luz suficiente entre os galhos altos para guiar Brooklet pela estrada. Alguns plebeus falavam da lua cheia como se fosse um presságio terrível, mas isso era bobagem. Não havia tempo melhor para sair à noite - e nada era mais romântico do que um pedido de casamento sob uma lua cheia.

Mesmo assim, Arthur não entendia por que Mordred havia mandado o alfaiate chamá-lo.

Ele precisava admitir que a capacidade do alfaiate era digna de louvor. Suas mãos hábeis lhe forneciam roupas confortáveis, extravagantes. Algumas pessoas no castelo diziam que ele podia fazer mais do que tecidos lindos, que tinha dons de natureza mágica e que sabia de coisas que mais ninguém sabia. E o mais curioso sobre ele, era que jamais tirava medida.

Com um suspiro profundo, Arthur abandonou os pensamentos sobre o alfaiate.

Como filho de Camelot, tinha tudo o que desejava.

Bom... quase tudo.

O que desejava mesmo, mais ainda do que a mão de sir Mordred, era a liberdade.

Sem dúvida era afortunado. Tinha uma vida boa, com serviçais obedientes para realizar todos os seus caprichos. Para além disso, só podia imaginar como seria quando seu pai partisse deste mundo, deixando-o para governar o reino. Governar as pessoas sozinho? Não conseguia suportar esse pensamento. Nenhum tutor tinha competência suficiente para lhe dar o conhecimento - ou a coragem - de que ele necessitava. E a melancolia constante de seu pai fazia com que ele não percebesse sua preocupação. A atenção da irmã às angústias dele também não ajudava. Para a corte não era surpresa que Arthur tivesse procurado um homem forte, digno, para ficar ao seu lado, admirá-lo e amá-lo.

Se não fosse por Mordred, Arthur estaria perdido.

Mas Brooklet, sua égua fiel, era a única criatura que parecia entender de verdade a situação. Quando, na infância, o príncipe foi escolher uma montaria, encontrou a menor potra parada perto de um córrego. A criatura trotou até ele e encostou o focinho em seu braço, cutucando-o gentilmente. Ele se ligou instantaneamente ao animalzinho, ambos menores e mais vulneráveis do que desejariam admitir. Desde então, ele e Brooklet estavam juntos. Se ao menos o pai de Arthur tivesse um sentimento tão forte pelo filho! Outra memória invadiu seus pensamentos enquanto o príncipe lembrava do sorriso mais genuíno que jamais enfeitara o rosto de seu pai, tudo por causa daquele camponês insolente.

it's destiny, my love! [merthur]Onde histórias criam vida. Descubra agora