O machado.

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Antes que Merlin pudesse falar qualquer coisa, Arthur seguiu os cavaleiros que haviam carregado sir Mordred para trás do tablado. Os aldeões deixaram clara a desaprovação por meio de murmúrios e olhares furiosos enquanto ele passava. Soltando um grande suspiro, o rei saiu do tablado para acompanhar o príncipe.

- Perdoem meu irmão - disse a princesa, sem graça, enquanto também abandonava o tablado. - Ele não está se sentindo bem.

As pessoas encararam em silêncio quando a família real partiu, deixando Merlin encarando a multidão. O clima alegre estava inquestionavelmente morto; o festival havia acabado. Ele ficou sozinho, perplexo, o olho latejando, tudo porque o garoto mais encantador que ele já vira tinha decidido fazer um espetáculo público às suas custas. Mas o que realmente o surpreendeu foi perceber que ele se importava. Viera ao festival para ser cavaleiro, não para ser humilhado por um príncipe mimado.

Mesmo assim sentia-se atraído por ele e queria que ele o tivesse beijado. Merlin desceu do tablado e olhou em volta, procurando o velho que havia iniciado aquele fiasco.

Mas não havia sinal do alfaiate.

- Aonde ele foi?

Gwen correu até Merlin e lhe entregou a camisa sem dizer uma palavra - pela primeira vez na vida. Will também não falou nada. Ele ia abrir a boca, mas Elyan puxou-o de lado para ajudar a limpar a praça. Ninguém pediu a Merlin que fizesse nada, dando-lhe espaço e tentando não piorar a situação.

Uma mercadora ruiva usando uma capa bem-feita se aproximou de repente.

- Você é um tremendo lutador, rapaz - disse ela. - Venha, você merece um prêmio.

Não se sentindo merecedor de prêmio nenhum, Merlin acompanhou a estranha. A mercadora o levou até uma carroça coberta por uma grossa lona listrada de vermelho e lilás. A carroça continha arcos, espadas, adegas e uns poucos machados, mas, por conta do mau estado em que estavam - enferrujados e com furos -, não passavam de lixo inútil, não que Merlin estivesse particularmente fascinado com a oferta da estranha, para começo de conversa.

- Bom - disse a mercadora. - Do que você gosta?

Merlin forçou um sorriso, avaliando as lâminas velhas e com mossas.

- Não tenha pressa. Escolha o que preferir.

Apesar de não estar interessado em remexer uma pilha de armas baratas, Merlin viu um machado sem uso por baixo de um par de maças cheias de crostas de ferrugem. Tinha um braço comprido, bem-acabado, feito de carvalho, e a cabeça forjada brilhava como obsidana. Ele pegou o machado novo e reluzente e avaliou o peso com as mãos. Olhando de novo as espadas decrépitas, a escolha era óbvia. Ele precisava de um machado novo, de qualquer modo.

- Ah - disse a mulher, franzindo a testa. - Eu esqueci que isso estava aí.

Merlin levantou-o de volta para a carroça.

- Se a senhora prefere não...

- Não! - a mercadora ergueu a mão e soltou uma gargalhada espalhafatosa. - Por favor, fique com ele, meu jovem amigo. Assim você vai sempre se lembrar do dia em que o príncipe Arthur lhe deu um be... belo machado!

Merlin inclinou a cabeça e olhou carrancudo para ela. Depois pegou o machado, apertou o cabo com força e se afastou, o maxilar trincando por causa da brincadeira da mercadora. Já era bastante ruim que o príncipe o tivesse humilhado na frente dos aldeões; agora uma completa estranha precisava colocar sal na ferida recente. As emoções de Merlin chegaram ao auge, fazendo seus olhos arderem. A luz forte do sol do fim de tarde não ajudava, nem a dor na lateral do corpo ou a sujeira de terra no rosto.

it's destiny, my love! [merthur]Onde histórias criam vida. Descubra agora