Uma choupana graciosa ficava no centro de uma clareira com a terra arada, a fachada à sombra da lua cheia. Uma suave luz de vela dançava nos parapeitos de duas janelas. Também havia um celeiro à esquerda e várias galinhas andavam livremente, mas não havia sinal de Mordred.
Arthur não podia acreditar que estava ajudando um fantasma - e ainda por cima o de um camponês que tivera a audácia de humilhá-lo. Cutucou-o nas costas, só para garantir, de novo, que ele era mesmo um fantasma. E mais uma vez não sentiu nada. A presença dele ia contra tudo o que ele já ouvira falar sobre fantasmas. Ele não reluzia nem era transparente. Parecia normal, como qualquer pessoa viva e saudável. Apesar da ilusão, estava morto. Não que isso fosse uma grande perda, em sua opinião. Ele não tinha ouvido falar na morte dele, algo que o escriba real teria mencionado na refeição de manhã. Morgana gostava de saber sobre os nascimentos de Camelot; seu pai, por outro lado, preferia as notícias dos falecidos.
Afastando o pensamento mórbido, Arthur examinou a clareira e sentiu um leve cheiro de fumaça. O chão era macio, também, mas livre de umidade, já que não chovia fazia uma semana. Passaram por uma sepultura, não muito longe da estrada.
- Foi aqui que me enterraram - disse o fantasma.
Na cabeceira da sepultura havia uma pedra com a inscrição: Merlin: o cavaleiro de Ealdor. Flores e guirlandas adornavam os dois lados do túmulo, junto com alguns restos de velas. A quantidade de flores era a maior que Arthur já vira para um plebeu falecido.
- Assim que falar com sua mãe eu vou para casa.
- Você vai querer colocar o capuz - alertou ele.
Arthur o fez antes mesmo de saber o motivo.
- Por quê?
- Minha mãe odeia a família real. Se souber que você é um príncipe...
- Por que alguém odiaria a família real?
O camponês levantou a sobrancelha. O príncipe o encarou de volta exasperada, enquanto os olhos dele se viravam na direção da choupana. Apesar da insolência do camponês, Arthur estava intrigado e curioso com ele, ao menos um pouquinho. Ele o irritava, sem dúvida, mas além disso o príncipe se lembrava de como havia sido ágil na luta com Mordred - até mesmo fascinante - e ele costumava achar atraentes os homens altos. Mas não este. Não, não suportava aquele camponês.
Mas, afinal de contas, um dia ele teria o dever de cuidar das questões do reino, resolver disputas e ajudar o povo. Realizar o pedido de um camponês morto era um modo memorável de começar.
- Fico feliz por você ter me encontrado. Não faz ideia de como é não ser notado.
Arthur suspirou.
- Na verdade eu sei como é.
- Ignorar um príncipe não é uma grande ofensa?
- Não se você for o pai do príncipe.
Merlin ficou em silêncio, com uma expressão curiosa no rosto.
- Olhe - disse Arthur. - Eu só quero falar com sua mãe e acabar logo com isso.
- Então você não veio para se desculpar? Por que está aqui?
- Vim praticar feitiços de bruxo. Quer que eu fale com sua mãe ou não?
De novo o camponês não disse nada. Apenas sorriu, assentindo, e foi em direção à choupana.
Quando chegaram à porta, Arthur bateu. Não houve resposta.
- Ela está em casa?
- Aguarde um momento - disse ele.
- Espere - disse Arthur, entrando em pânico. - O que devo dizer a ela?
VOCÊ ESTÁ LENDO
it's destiny, my love! [merthur]
CasualeO sonho de Merlin era ser Cavaleiro do Reino de Camelot. Filho obediente, ajudava como podia os moradores de sua pequena e tranquila aldeia. Querido por todos e tratado como herói, acreditava que logo seria selecionado como escudeiro da cavalaria. M...