Hybrid Love

Frio

Scott se aproximou da namorada, a cheirando no pescoço em um ato de carinho. Allison permitiu o a carícia do namorado, antes de permanecer imóvel, sem reação, completamente concentrada no livro em sua mão.

Ele estranhou a atitude da namorada e repetiu a carícia.

Allison permaneceu sem reação.

Scott franziu o cenho.

Ela não era o tipo de namorada que deixava uma carícia passar despercebida. Quem dirá duas. A Argent sempre reagia de alguma forma. Seja com sorrisos, um toque ou retribuição das carícias. Mas, ali, ela estava quieta. Imóvel.

- está tudo bem? –

- está. Por que não estaria? – respondeu, desinteressada, passando a página do livro.

Na mente de Scott, o mundo piscava em vermelho e um alarme de bomba atômica estava soando. Letras garrafais piscavam junto em seu campo de visão. Allison estava irritada consigo. Ele estava nervoso. Havia parado para pensar, enquanto se afastava um pouco da garota, lhe dando o seu espaço. Não se lembrava de ter feito nenhuma mancada com a namorada. Muito menos com os amigos que achava que poderia irritar a Argent.

Será que ela estava realmente brava consigo, ou com outra coisa? Ele não sabia dizer.

Passado alguns minutos, a morena voltou a folhear o livro. Ele a analisou minuciosamente. O lamber de lábios durante o ato de folhear o livro fora o ponto crucial. Allison sempre dava aquela leve lambida no lábio inferior quando sentia a língua coçar para falar algo, mas ela se continha. Scott não iria descobrir se ficasse apenas pensando. Então resolveu fazer uso do diálogo. Sua mãe sempre dizia que o diálogo era um elemento crucialmente importante em uma relação.

- ok Você está chateada. Eu... Fiz alguma coisa? Está chateada comigo? –

Ela apenas trocou o olhar de página no livro e cruzou as pernas.

- depende. Você fez algo para me deixar chateada? Se sim, eu estou. Se não, eu não estou – a morena respondeu antes de ajustar o cabelo atrás da orelha.

Scott paralisou. Ele passou a refletir o que fizera do dia anterior até aquele para que pudesse chatear a sua namorada. Nada vinha em sua mente. Não fora algo com os amigos. As poucas vezes em que eles se destratavam era única e exclusivamente uma brincadeira interna da qual todos eles tinham conhecimento e  por vezes entravam na onda. Teria sido algo na internet? Ele estava mexendo no Instagram, na noite anterior.  Não, não poderia. Allison não é do tipo ciumenta que ficaria irritada consigo por ele ter curtido alguma foto de alguma garota da escola ou de alguma influencer.

O moreno seguia quebrando a cabeça enquanto a morena apenas lia ao seu lado. Ele sabia que não havia esquecido o aniversário de namoro. Havia passado meses do evento e eles haviam passado o dia inteiro juntos no shopping, com a autorização de suas famílias. Não era o aniversário dela, também. Não haviam marcado nada para ontem, muito menos para hoje.

Ele há ia se convencido.

- olha, eu não fiz nada – comentou, por fim, com a voz suave e apreensiva.

- então eu não estou chateada – respondei voltando a passar a página do seu livro.

- Alli... Não mente para mim – pediu o moreno colocando a mão sobre o joelho da namorada.

A humana se virou em sua direção.

- mentir, Scott? Mentir?! – Allison estava indignada – eu que estou mentindo?! –

O moreno retraiu as orelhas, confuso e preocupado. A sua namorada não era uma mulher que perdia a postura com facilidade. E ele sabia disso. O trio de melhor amigas era como uma escala. Erica era a mais volátil. Allison era a equilibrada. Ela não tinha a facilidade para perder a linha, mas quando a linha era ultrapassada, era melhor sair de perto. E Lydia era a fria. A Martin não perdia a compostura para nada. Ela preferia matar na unha, como dizia a sua mãe. Em uma discussão, a ruiva era calma, centrada, e indiferente, o que era mil vezes pior de se receber do que gritos e acusações agressivas.

- mas eu não fiz nada, amor! – o rapaz se defendeu rapidamente.

- exatamente, Scott. Você não fez nada! – protestou fechando o livro e se erguendo.

Ele se ergueu também, rapidamente.

- aí fudeu! Ali, o que foi que eu não fiz? –

- não me falou a verdade, Scott. Você mentiu para mim! – alegou já se dirigindo para o seu dormitório.

- com o quê?! – inquiriu, igualmente indignado, antes de a namorada se virar para si.

- Scott, eu te perguntei a classe do irmão dos gêmeos e você me disse que não sabia -

- mas eu não sabia! – ele exclamou dando de ombros.

- então você sabe, agora? –

A morena deu um passo a frente e o rapaz retesou. Scott lambeu os lábios e desviou o olhar, antes de se contorcer, flexionando os joelhos e jogando a cabeça para cima. Ele estava encurralado. Havia jurado para os gêmeos Stilinski que não abriria o bico. E, apesar de ter quase aberto o mesmo no dia do shopping, ele conseguiu se manter fiel a sua palavra até aquele momento. Mas, agora, Allison sabia que ele sabia. E, o pior, os seus pontos com sua namorada estavam em risco ali. E os seus pontos com Allison eram tão importantes para si quanto os pontos de ranqueada dos jogos eram para Lydia.

O McCall grunhiu, abaixando as orelhas e exibindo os caninos.

- eu sei. Mas quando você me perguntou eu não sabia – ele argumentou, tentando, sem sucesso algum, tirar o foco da namorada para o passado

- Scott, eu te perguntei o que você achava no primeiro dia deles aqui, e você disse que não fazia ideia. Depois, antes de ontem, para ser mais exata, eu te perguntei e você me falou que não sabia – ela pontuou com o livro embaixo do braço, erguendo os dedos em riste par ao namorado enquanto contava os pontos de seu argumento nos dedos.

- eles me fizeram jurar que não contaria para ninguém –

- mas eu não sou ninguém, Scott! – ela ficou mais revoltada.

- mas eu não sabia a sua opinião sobre esse assunto –

- SCOTT! Você sabe que o meu único preconceito é contra extrema religião – a garota pontuou, indignada – eu pensei que você confiasse em mim! Eu pensei que todo mundo confiava em mim! – a morena se virou para continuar o seu caminho até o dormitório feminino em que ficava o seu quarto.

- ah, qual é, gata? Você sabe que eu confio em você – o McCall passou o braço sobre o ombro da garota, tentando abraçá-la.

- não. Não encosta em mim. Eu estou... Muito... chateada, agora. Eu preciso de espaço –

O rapaz suspirou enquanto observava a namorada se afastar com o livro numa mão.  Allison realmente estava chateada. Poucas eram as vezes em que ela se afastava ao invés de dialogar sobre o assunto que a incomodava. Aquilo era preocupante. O moreno se jogou de costas no banco, perdendo a postura ereta. Com uma das mãos ele cobriu os olhos, impedindo que a luz do dia os atingisse diretamente. Ele respirou fundo, antes de morder o lábio inferior, irritado.

- eu vacilei, cara. Eu devia ter falado para ela! – exclamou, irritado consigo mesmo.

“eu e a minha mania de tomar péssimas decisões”.

Pensou o rapaz de queixo torto, antes de voltar a sua postura normal, olhando ao redor. Queria algo para lhe distrair daquilo  é lato que ele iria pensar num jeito de conquistar o perdão de Allison mais tarde. No entanto, agora ele estava frustrado demais consigo mesmo e com a sua situação para conseguir pensar em algo. Scott não era o tipo que fazia boas escolhas sobre pressão. Então, ele precisava espairecer, assim como a namorada.

Sem conseguir identificar nada que pudesse lhe entreter com os olhos, o McCall puxou o celular do bolso e mandou mensagem para os amigos, questionando o que estavam fazendo. O primeiro a responder fora Isaac, informando estar implorando pela morte ao invés de ter que responder o seu dever de história. O moreno riu. O segundo a responder fora Liam, dizendo estar planejando um homicídio. Quando questionado o motivo, o baixinho disse ter tido a sua cauda puxada, o que gerou uma indignação coletiva no grupo de amigos.

Todos ficaram indignados com a agressão sofrida pelo amigo. Erica, com as letras todas em Caps look, exigiu explicações e detalhes. E quando Liam as forneceu, a loura permaneceu alterada, bem como os amigos. Mas havia um indivíduo rindo como se não houvesse amanhã. Thomaz gargalhava sem preocupação, enviando áudios de sua gargalhada, acompanhada pelo som de sua mão batendo na mesa de escrivaninha.

“Eu sei quem foi o cara que te puxou a cauda”

Fora tudo o que Thomas dissera antes de desaparecer do grupo, deixando os amigos curioso repletos de raiva devido ao seu sumiço.