Língua materna

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Eles são todos iguais. Não, não os homens. Os outros. Carrego comigo um amargo sentimento de anomalia. 

Mãe, a senhora me pôs no mundo com defeito. Olha para mim, mãe, estou toda vestida de tolice.

Quero descobrir a origem do universo, mas o máximo que consigo fazer é perceber a origem das minhas palavras bêbadas - o despertencimento. Veja o cúmulo da minha incompetência: eu sequer consigo escrever textos sem fazer uso abusivo de adjetivos. Maldita seja essa minha mania ordinária de adjetivar as coisas.

Mas é que eu deliro e, nos meus delírios, o mundo tem adjetivos que anulam minhas angústias. Acontece que não estou lembrando de nenhum deles... 

Essa insuficiência vocabular é culpa dos outros. Eles falam uma língua que não sou fluente. A língua deles é estruturada por uma gramática truncada que, em vez de formar sílabas, forma ruídos nos meus ouvidos. E, afinal, mãe, de que adianta eu dizer essas coisas?

Eu não falo a sua língua.

Eu não falo a sua língua

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