Precipício da insônia

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Perspicaz é aquele que repara que madrugadas não são sinônimo de solidão. A companhia é a mais perigosa que se pode ter: você mesmo. Poetas sábios já alertaram que somos nossos maiores vilões; não lhes tiro a razão. Afinal, o rancor que guardo da minha parceira de insônia é a prova cabal de que eles estão certos. 

Repare bem na balbúrdia dentro da sua mente quando você passa longas horas descansando a cabeça no travesseiro, com os olhos estatelados a fitar escuras tentativas de sono. Você não está sozinho. Suas angústias, medos, arrependimentos, o prazo para entregar o relatório, o carro que precisa ir à manutenção e o vazamento da torneira do banheiro estão com você. 

O travesseiro desafia a composição química da matéria e se torna um compacto tijolo. O que podemos construir com ele? Haveria meio de construir muros que nos dividissem pela metade, exilando tudo aquilo que nos faz perder o sono? Ou o tijolo só serve para metê-lo contra a nossa própria cabeça e, enfim, dormir eternamente? 

Perguntas. Também são minha fiel companhia nas madrugadas. Trágico como dificilmente terei a oportunidade de saber as respostas. 

Ainda é madrugada. Uma resposta eu tenho: meu tijolo não serve para construir muros.

 Uma resposta eu tenho: meu tijolo não serve para construir muros

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