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Eu tô pensando em você, fumando um cigarro

Numa banheira vazia, em um hotel caro

Sinceramente, eu tô cansado

Se foi você que errou, por que que eu me sinto culpado?

-- CAI FORA! – gritei irritado de dentro da banheira do hotel, sem querer me mover do lugar de onde eu estava tentando dissolver todos os pensamentos que andava tendo e Ollo abriu a porta no momento em que eu estava soltando a fumaça para cima – Ok, o que você quer que eu não posso nem mais tomar banho em paz?

-- Você está há 4h dentro dessa banheira e já foram bem mais cigarros que o normal – meu amigo me encarou, sentado no parapeito da janela – Fora o último mês você não gasta tanto tempo no banho desde que estávamos no ensino médio... – revirei os olhos, escorregando mais para dentro da agua e soltando a fumaça mais uma vez – É por causa do que aconteceu, não é?

-- Não, não tem nada a ver com o que aconteceu – talhei bruscamente, me sentindo um pouco mal depois porque era um dos meus melhores amigos – Só... Precisava descansar.

-- Não me ofendeu, pode ficar tranquilo – ele riu, fazendo-me rir junto antes de dar outro trago – Mas você precisa mandar mensagem. Ela com certeza viu suas últimas aparições nos tabloides, ainda mais com o tanto que a mãe dela te adorava – a facada de lembrar da minha sogra querendo me matar não era uma sensação muito agradável, me fazendo tragar a fumaça com mais força ainda, me gerando uma tosse – Suicídio por cigarro não é uma boa ideia, você sabe né?

-- Não é uma tentativa de suicídio por cigarro. – soltei a fumaça lentamente – Só tentando carbonizar meu pulmão mesmo. É mais fácil do que lidar com certas coisas...

-- Doze garotas no último mês Quinn – ele disse ainda tranquilo, mas com aquele fundo de preocupação – Você costumava ser mais cuidadoso e não beijar tantas bocas diferentes na mesma noite. Nós perdemos a conta de quantas foram, sabe disso não é?

-- Umas 25 na ultima noite, acho – suspirei, soltando a fumaça para cima, percebendo que meu amigo estava certo ao dizer que estava a caminho de suicidar meu pulmão – Doze no mês seria uma por evento!

-- Amigo, você nem gosta desses eventos e não para de ir neles – rimos porque inegavelmente era verdade – Fora os que sua agente manda, você não quer ir, e agora não sai das baladas. O que diabos está acontecendo com o Francis que gosta de cozinhar na sexta a noite enquanto está todo mundo virando de bêbado?

-- Tirou umas férias temporárias – soprei a fumaça novamente rindo, fazendo meu amigo rir um pouco também – Só decidi experimentar novas coisas...

-- Está tentando esquecer ela – meu amigo talhou e involuntariamente traguei a fumaça mais profundamente, gerando outra tosse – E carbonizar o próprio pulmão! Não desvia do assunto, sou seu melhor amigo! Você precisa conversar com ela ao invés de ficar com comemorações pessoais de como definitivamente ela quer te assassinar em um livro dela. E Grover falou que viu que você escondeu todos os livros dela em uma caixa de papelão...

Não ouvia mais, só estava tragando e soprando a fumaça, sentindo como se fosse a água entrar em cada um dos meus poros para limpar toda e qualquer lembrança que eu tinha da nossa curta relação e de todos os sentimentos envolvidos...

Encarei a mulher de cabelos castanhos na mesa ao lado, ela estava sozinha também e apenas aproveitava a comida. Ela tinha aquele ar de quem gostava da própria companhia com um prato de comida italiana bem feita em uma sexta a noite e mesmo que eu não quisesse interromper aquela paz, algo me puxava para conversar com ela.

-- Com licença, senhorita – chamei-a discretamente e a vi olhar-me com aqueles olhos gigantes de vários tons de castanho que pareciam sorrir – Não sei se precisa, mas estou sozinho também e apreciaria uma companhia no jantar...

-- Claro! – ela sorriu concordando, pensei como aquele sorriso era lindo, como ela inteira era linda, e acenei para um garçom, que logo veio ajudá-la a trazer o prato assim que a viu levantar-se para se sentar de frente para mim, recebendo um agradecimento simultâneo nosso – Obrigada! Não que eu não goste de comer sozinha, mas confesso que adoro companhia no jantar!

-- Compartilhamos da sensação – sorri enquanto cortava meu pedaço de carne – E qual o nome da minha companhia de jantar? E o que faz em um restaurante italiano em Londres? Normalmente as pessoas vem para cá comer  fish and chips, não comida italiana!

-- Autumn Yearwood – estendeu a mão por cima dos pratos, tomando o cuidado devido para que a manga de seu vestido não encostasse em nenhum molho enquanto apertávamos as mãos– E você é Joseph Quinn, não é?

-- Andou me pesquisando senhora "autora de Best Sellers de terror e suspense"? – ela me encarou indignada, me fazendo rir – Você é famosa...

-- Sua cara está estampada em metade dos lugares por onde passei, é claro que eu reconheceria! – ela exclamou rindo – A minha não, então quem andou stalkeando quem senhor "ator superfamoso embaixador de perfumes"?

-- Golpe baixo – levantei as duas mãos em rendição – Mas culpado. Tenho todos os seus livros. Por isso conheço o nome e não tinha certeza do rosto.

-- Seu caso é pior, meu caro – ela sorriu mais e confesso que seu humor estava me encantando – Meus livros estão por todos os lados, mas não meu rosto e geralmente as pessoas não prestam tanta atenção na foto do infeliz na orelha!

-- Culpado – sorri, ainda encarando-a e quase tinha certeza de que ela tinha uma certa heterocromia, mas seria indelicado perguntar – Mas o que te trouxe a pacata Londres em uma sexta a noite para comer comida italiana, Yearwood?

-- Primeira folga de uma tour europeia de divulgação da minha coleção mais recente e amanhã é o lançamento do penúltimo livro dela. E você?

-- Estou em casa, não queria cozinhar e pensei "Por que não?" – sorrimos porque ambos compreendíamos a sensação – E onde será o grande lançamento?

-- Hatchards – sorriu orgulhosa e fiz palmas admiradas, era a mais tradicional da cidade – Meu editor pediu um favor e conseguiu essa pra mim e pro meu agente, então amanhã estarei lá mas vou ter que passar o dia autografando alguns exemplares e querem que eu esteja incrível, aquela burocracia toda...

-- Com senhas esgotadas – sorri, fazendo-a a levantar a sobrancelha e involuntariamente passei a língua nos lábios – Eu disse, gosto bastante dos seus livros...

-- Obrigada Quinn – sorriu pacata, rindo em seguida por ter conseguido se sujar no queixo com o molho e automaticamente peguei o guardanapo de tecido para limpar, com um toque suave, que a fez retrair-se em um primeiro instante, mas logo em seguida relaxar com a sensação, sem tirar os olhos de mim até que eu me afastasse – Obrigada Quinn. Mas agora lhe pergunto, como um dos solteiros mais cobiçados da Grã-Bretanha está apenas comendo um macarrão com uma escritora americana em uma sexta feira a noite e não curtindo todos os benefícios de seu status?

-- Talvez eu não goste tanto assim da maior parte dos programas que se tem disponíveis nas sextas a noite e uma boa conversa com comida italiana com uma das minhas autoras favoritas seja mais agradável...

Nuncaa conversa com uma mulher havia fluido tão tranquilamente, tão sem problemas,tão fácil... Autumn era um verão em pleno inverno..

HOTEL CARO || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora