03. A bruxa.

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Alicent afastou o corpo pra trás com tudo, quase caindo da cadeira. os lordes soltaram sons de engasgo.

e para crédito próprio, Daemon, Rhaenyra e Aemond ficaram parados e quietos.

Visenya encarou a rainha nos olhos.

'visitei meu pai ontem. o fiz algumas perguntas, e descobri que você me mandou embora, e, que ele me mandava cartas. as cartas nunca chegaram.'

ela forçou um sorriso.

'não te mandei embora, Visenya, achei que seria bom você crescer com sua família de sangue, só isso.'

Rhaenyra a encarou com certo ódio.

'e quanto as cartas, sinto muito.. alguém deve ter privado você de lê-las.'

'eu pegava as cartas no corval. era uma das minhas tarefas, nada, nunca chegou para mim.' - ela disse, devagar, olhou um dos Lordes - 'você é o responsável pela comunicação, enviou as cartas do meu pai?'

'e as minhas.' - Rhaenyra disse, Visenya a olhou - 'sim ou não?'

o homem as olhou e olhou Alicent.

Visenya fechou a mão em punho e socou a mesa, levantando.

'estou cansada desses joguinhos, me responda.'

o homem se encolheu, diante de uma garota quarenta anos mais nova que ele, tremendo de medo.

'não, alteza.. as cartas todas foram entregues à vossa majestade, a rainha.. a pedido dela.'

'a pedido dela, sim.' - Visenya encarou Alicent - 'onde estão?'

'guardei-as.'

'então vá pegar.'

Alicent a olhou, e com toda a coragem que tinha, bateu as mãos na mesa.

'até sua irmã ser coroada eu sou sua rainha! não tomo ordens de uma pirralha.'

Daemon comprimiu os lábios, segurando uma risada. Visenya não piscou, e Alicent agarrou o próprio pescoço.

sem ar. ela tropeçou na cadeira e caiu no chão, Sor Criston foi o primeiro a ajudá-la, seu pai e o Lorde Larys.

'se você matá-la ela não te dará as cartas..' - Aemond disse e Visenya o olhou, ouviu Alicent engasgando e suspirou, a deixando respirar.

'eu quero as malditas cartas agora.'

Rhaenyra acariciou a própria barriga, suspirou.

'eu vou buscar.' - Alicent disse e foi levantada pelo guarda.

Criston olhou Visenya com uma expressão fechada, a encarou até sair da sala com a rainha.

'podem sair.' - Rhaenyra disse e os lordes correram para fora, um atrás do outro.

'vão te acusar de matar Viserys.' - Daemon disse, a olhando.

'ah, por favor, oque matar um velho com o pé na cova adiantaria pra mim?' - ela perguntou.

'poderia começar uma guerra fazendo isso. ainda há pessoas querendo Aegon no trono.' - Daemon respondeu, Aemond soltou um som de riso.

os três o olharam.

'oque é engraçado?' - Rhaenyra perguntou.

'Aegon não quer ser rei. nunca quis. ele fala sobre fugir para o oceano com Sunfyre.'

Visenya o encarou, o braço latejou onde ela havia cortado.

não havia comido, e nem dormido.

'seria tão conveniente para você que seu irmão sumisse, deixando o espaço livre.' - Visenya disse, abaixando os braços até a madeira.

'oque quer dizer com isso?'

'nós dois sabemos oque eu quero dizer.'

Alicent entrou com uma caixa enorme nas mãos.

ela deixou a caixa na mesa, em frente à Visenya.

'quantas são?' - a princesa perguntou, cruzando uma perna em cima da outra, a expressão impassível, os olhos brilhando.

'eu não sei, Visenya.' - ela respondeu.

'vamos lá, Alicent, respondeu a todas elas e não sabe quantas são? um ano, tem.. cinquenta e duas semanas. eu fiquei lá por dezesseis anos. quantas são?'

Alicent negou, puxando as cutículas do dedo indicador esquerdo.

'oitocentas, e trinta e duas cartas, Alicent. eu devia deixar você sem ar por oitocentos e trinta e dois minutos, ou mandar Dreadmare mastigar você por oitocentos e trinta e dois minutos.' - ela disse, passando um dedo pela caixa.

Alicent olhou o filho, então Rhaenyra.

'reconheço meu erro, não vai se repetir.' - ela disse, e a voz saiu baixa.

Visenya levantou.

'como se repetiria? meu pai está morto. ele não vai me escrever mais cartas. agora, você me deve oitocentos e trinta e dois favores. e vai obedecer toda vez que eu pedir um.' - Alicent soltou o ar quando os olhos da princesa brilharam outra vez - 'ou eu mato você.'

ela dispensou a rainha com a mão, como uma criada, e a esperou sair antes de sentar.

'vai tratar minha mãe como um cachorro?' - Aemond perguntou e Visenya o olhou.

'eu fui tratada como um cachorro, e passei por todo tipo de humilhação, oque estou fazendo com sua mãe é pouco, perto do que eu devia.' - ela respondeu - 'agora saia. sua presença me irrita.'

ele levantou, empurrando a cadeira com força e saiu, o jeito de andar dele era meio hipnotizante. Visenya achava irritante. ou ela achava que a irritava. certamente a causava algum sentimento.

'quer que saiamos também?' - Daemon perguntou.

'façam oque quiserem, eu vou demorar aqui.' - ela disse baixo, Daemon assentiu, beijou a cabeça de Rhaenyra e saiu.

Visenya pediu uma pena e um tinteiro, folhas, e um copo de vinho.

ela começou a ler as cartas, lia, respondia, as colocava devolta na caixa, tomava um gole de vinho.

Rhaenyra foi embora depois da quarta hora, e Visenya passou o dia ali, passou a noite ali.

ao terminar todas as cartas, a lua estava começando a descer para dar lugar ao sol.

ela descobriu que Viserys e Rhaenyra se importavam muito consigo, e não deixaram de mandar as cartas uma semana sequer.

a chamaram para os aniversários, para os bailes, para visitar cada um dos sobrinhos quando nasceram. e Alicent a tirara esse conforto. a deixara na escuridão.

ela saiu da sala do conselho com a caixa em mãos, andou pelos corredores até sair no pátio, pediu que abrissem os portões laterais, e caminhou pelo cais.

ela assobiou, e Dreadmare rugiu, batendo as enormes asas.

ela observou enquanto ele vinha, três batidas de asa e ele estava ali. pousou na beira da água, aproximando a cabeça dela.

Visenya o fez um carinho entre os olhos.

'rytsas, Dreadmare.' - ela disse, encostando a cabeça nas escamas acinzentadas.

ele soltou o ar pelas narinas, a aquecendo, Visenya percebeu o quão geladas suas mãos estavam.

ela suspirou e colocou a caixa na areia.

'Dracarys, Dreadmare.' - ela pediu e o dragão incinerou a caixa, o fogo vermelho consumindo os papéis sem deixar um sequer vestígio.

ela olhou para o mar, o vento balançando seus cabelos.

'urnen, Alicent drějī morghulis, issa.' - ela disse, Dreadmare rosnou.

The Targaryen Witch || Visenya TargaryenOnde histórias criam vida. Descubra agora