Capítulo Onze

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♫ Anna of the North - Lovers ♫

LUCCA

Não sei ao certo porque a beijei mas também não consegui arranjar uma boa razão no momento para não o fazer, quando tinha tanta vontade.

Que se lixe tudo. Já ontem tinha feito um esforço enorme para não a beijar.

Beijei-a porque ela me olha como se me visse realmente. Beijei-a porque ela me dá arrepios na espinha. Beijei-a porque ela esteve sempre presente embora eu quisesse ignorar isso. Beijei-a porque tinha saudades.

As semelhanças físicas são inegáveis, mas não foi por isso que a beijei. A semelhança só está visível à superfície. Se escavarmos fundo o suficiente, vemos o quanto são diferentes. Já o sabia mas dois anos ajudam-nos a ver ainda com mais clareza.

Beijei a Alice por ser a Alice e sinto uma vontade imensa de a beijar até ela perceber isso.

Quis trazê-la à minha praia favorita. Ontem vi com os meus próprios olhos o quanto ainda está embrulhada no luto e prometi a mim mesmo que iria fazer os possíveis para a retirar desses sentimentos negativos. A primeira coisa que quero trabalhar é a relação dela com a água e tive de afastá-la da praia que lhe é tão familiar e trazê-la a outra. Um passo de cada vez.

O Bernardo contou-me como tudo aconteceu. A Alice estava com ela, quando o acidente ocorreu. Estavam a surfar quando uma tempestade começou. Supõe-se que Amélia tenha batido com a cabeça e perdido os sentidos. O mar ficou revolto em poucos segundos e quando Alice olhou para o lado, já não viu a irmã.

Bernardo que estava perto, foi ter com as irmãs para as poder auxiliar se precisassem. Sabia que elas estavam no mar e, preocupado, foi ver se precisavam de si. Chegou mesmo a tempo de salvar Alice que estava prestes a desfalecer, sem forças, de tanto procurar por Amélia.

Alice sempre foi altruísta e sei que estaria disposta a morrer pela própria irmã se fosse preciso. Ficou no mar até quase ser tarde demais e em momento algum pensou em regressar. Sei que se Bernardo não aparecesse, ela nunca iria sair dali viva e isso parte-me o coração.

Amélia morreu naquela praia, então entendo a dor que deve ser todos os dias abrir a porta de casa e olhar para o mar que levou a sua irmã...

Quando Alice percebeu onde a tinha trazido, ficou reticente mas quero acreditar que confia em mim o suficiente para saber que nunca iria fazer algo que ela não quisesse. Não vou fazer nada que quebre essa confiança.

Estamos deitados na areia, a apanhar sol. Ela tem os olhos fechados, portanto aproveito para a olhar enquanto posso. O cabelo brilha intensamente e sinto-me hipnotizado, feliz e tonto. Ainda não sei se é o calor ou se é ela quem me deixa assim atordoado mas estou disposto a descobrir.

Ela parece super confortável mas não suporto mais o silencio que nos separa. Não dissemos mais nada desde que nos beijámos no carro. Aliás, desde que eu a beijei. Ainda não estou certo de que ela me quisesse beijar, apesar de me ter sentido correspondido.

Estico o meu braço o suficiente até conseguir enfiar o dedo indicador na sua bochecha esquerda. Ela solta um risinho e nesse momento parece genuinamente feliz. Não parece magoada, nem chateada, nem transtornada.

Ontem quando a deixei na sua cama, ela estava triste, distante. Mas hoje...Hoje está serena, com um sorriso estampado no rosto. E se neste momento ela olhasse para mim, gostaria de afirmar que iria ver um brilho no seu olhar.

Quando estou prestes a retirar a minha mão, ela agarra-ma. Continua de olhos fechados quando pousa a minha mão sobre a sua barriga. O seu vestido é fino o suficiente para que eu consiga sentir o calor que emana do seu corpo.

Olho para os seus braços dourados pelo sol. Está completamente arrepiada. Estamos arrepiados.

Não percebo o que está a acontecer comigo mas nunca me senti assim na vida. Não sei o que é isto que tanto me sufoca como me dá vida. A Alice pensa que nunca foi suficiente para mim mas o que ela não sabe é que eu nunca me considerei suficiente para ela, por isso é que tantas vezes me afastei.

Isso não vai voltar a acontecer! Passei os últimos dois anos a pensar nela, no que estaria a fazer, em como estaria, sem nunca ter a coragem de lhe mandar uma simples mensagem.

Cheguei pateticamente a ligar de um número de um colega para ouvir simplesmente a sua voz. Isto são coisas que ela não sabe mas que talvez se soubesse pudesse mudar tudo entre nós.

Conheço-a desde os seus doze anos e sinto que não há ninguém que me conheça como ela. Quando a conheci, era apenas uma menina envergonhada que tinha todos os sonhos do mundo. Hoje é uma mulher que não se permite sonhar.

Se tu soubesses o quanto me detesto por te ter feito sofrer.

Quero fazê-la despertar para a vida novamente mas vou fazê-lo da maneira correta. A amizade dela é importante para mim e apesar de tudo nunca a deixei de considerar a minha melhor amiga.

Não posso dizer que não gostaria que fôssemos algo mais. Morro para que possa finalmente torná-la minha mas vou certificar-me de que é ao ritmo dela. Vou levar as coisas com calma. Não vou arriscar a estragar tudo outra vez.

Ela carrega o mundo nos ombros e parece disposta a carregar um bocado do meu mundo também. Há poucas pessoas no mundo assim, acho que é isso que mais me atrai nela. Isso e os seus lábios carnudos, os seus cabelos louros e tudo o resto.

É isso – estou absolutamente tonto.

Necessito de água.
Urgentemente.

O primeiro capítulo narrado pelo Lucca

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