Capítulo Nove

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Miguel - Sure thing

Lucca não quis conduzir por ter bebido então deixou o carro no hotel. Sugeri-lhe que chamássemos um táxi para minha casa mas ele insistiu que o caminho se fazia bem a pé e que depois apanharia um táxi de minha casa para a dele, visto ainda ficar um pouco longe.

A noite estava bastante agradável pelo que aceitei de bom agrado. A quem é que eu quero enganar? Mesmo que estivesse a chover, eu teria aceite. Porém, não demoro a perceber que caminhar longas distâncias de saltos é mesmo difícil.

— Doí-me os pés. — queixo-me, fazendo beicinho. — Necessito mesmo de fazer uma pausa.

— Senta-te naquele muro para que eu possa descalçar-te os sapatos. — toca no muro e, reparando que ele está sujo e molhado, acaba por sentar-se ele e indica-me o seu colo — Senta-te ao meu colo, não quero que apanhes frio.

— Isto é algum tipo de conquista? Teres duas raparigas no teu colo na mesma noite?

— É uma conquista ter-te ao meu colo, mas não por esses motivos. — olha-me intensamente, levanta-se e aproxima-se de mim — Não deveria tê-la deixado sentar ao meu colo, ok? Acredita que me arrependi no momento exato em que te vi.

Fico sem palavras e o meu coração começa a bater desenfreadamente. Sinto-me novamente com 16 anos em cima da prancha de surf dele pela primeira vez, quando se ofereceu para ser meu professor.

A verdade é que me derreto completamente com o que me diz mas não quero entregar-me a ele numa bandeja. Não depois de tudo. Cruzo os braços sobre o peito.

— Alice... — olha para o meu decote. — Podes por favor descruzar os braços? Estou a tentar agir corretamente esta noite e esse movimento só está a salientar ainda mais as tuas mamas.

— Não gostas do que vês? — junto ainda mais os braços ao meu peito, tentando provocar-lhe alguma reação

— Gosto demasiado... — despe o seu casaco e coloca-o em cima dos meus ombros, olhando uma última vez para o meu peito —Mas estás bêbeda e não quero que faças ou digas nada que te vás arrepender.

— Possivelmente amanhã não me vou lembrar de metade do que disse e fiz. Devias aproveitar.

— Nunca. — aproxima-se do meu ouvido — Quando eu fizer algo contigo, quero isso fique na tua memória para sempre.

Juro que naquele momento as minhas pernas começam a tremer. Este homem deixa-me fraca. Desde o primeiro momento em que lhe meti a vista em cima, soube que ele seria o meu desastre.

Oh Deus das margaritas diz-me por favor que isto é real e que amanhã vai continuar a ser real.

Lucca senta-se novamente no muro, deliciosamente bonito a olhar para mim. A minha vontade é despentear-lhe aquele cabelo louro e beijar-lhe aquele sorriso presunçoso, mas não o faço.

—  Anda cá... — bate com a mão ao de leve na sua perna.

Sento-me ao colo do Lucca e ele ajeita-me o corpo de forma a conseguir baixar-se até aos meus pés, sem me magoar.  Quando se debruça para me desapertar os sapatos, o seu polegar roça ao longo do comprimento da minha perna e sei que foi intencional. Gosto do seu toque e ele gosta daquilo que o seu toque provoca em mim.

Ele retira os meus sapatos e faz-me massagens na palma do pé, retirando-me a dor. Acabo por me debruçar em cima das suas costas e quando a minha bochecha fica em contacto com a sua camisa branca, fico mais bêbeda do que o álcool alguma vez me poderia deixar. O Lucca é mais viciante que margaritas e os seus músculos fortes a mexerem-se debaixo daquela camisa são demasiado para aguentar.

Depois de vários minutos a massajar-me e a certificar-se de que estou bem, endireita-se. Os nossos lábios ficam perigosamente perto quando ele me encara.

Lucca aproxima-se ainda mais e, para meu desgosto, dá-me um beijo na ponta do meu nariz. Bufo de descontentamento e ele ri-se.

Levanta-se e leva-me agarrada ao seu peito, colocando as mãos debaixo do meu corpo - uma nas minhas costas nuas e outra nas minhas coxas, segurando os meus sapatos.

Ainda penso em dizer-lhe que sou bem capaz de caminhar até casa mas quando me aproximo do seu peito e inalo o seu perfume, deixo-me envolver por aquele momento. Coloco os meus braços à volta do seu pescoço, fecho os olhos e deixo que me leve até casa.

***

Dou conta de que adormeci quando sou acordada pelo barulho das ondas do mar. Abro os olhos e apercebo-me que estamos a subir as escadas de minha casa. Lucca baixa-se cuidadosamente, apoiando-me nas suas pernas, sem nunca me largar. Vejo-o a vasculhar num dos vasos e retirar a chave. O facto de ainda se lembrar do meu hábito de deixar a chave escondida no vaso deixa-me completamente arrasada.

Abre a porta com a maior agilidade possível e entra em minha casa, reconhecendo aquele sitio mesmo às escuras. Transporta-me até ao meu quarto sem sequer necessitar de acender a luz. Quando me pousa na cama, liga o meu candeeiro.

Olho-o e ele olha-me com a mesma intensidade. Coloca uma mecha do meu cabelo detrás da minha orelha.

— Ainda te lembravas que deixo sempre a chave no vaso...

— Há coisas que não mudam.

Sei que aquela frase tem duplo significado e sinto uma sabor amargo a correr pela minha garganta. Quero dizer-lhe algo mas fico com as palavras presas.

O seu olhar percorre o meu quarto mal iluminado. Quarto que dividia com a minha irmã e que ainda tem tanto dela - a sua cama desfeita como ela a deixou, o piano branco ao pé da janela, as pranchas.

Vejo como fica triste ao observar tudo aquilo e algo dentro de mim se parte mais um pouco.

Sei porque sofre e por mais que gostasse de negar que sinto raiva desse sentimento, não consigo. Depois da noite que passámos, eu não merecia isto.

— Não deverias ter entrado. Não deverias estar aqui.

— Alice...

— Deverias ir, Lucas. Quero descansar.

Viro-me para o outro lado e ele nem sequer se opõe à minha decisão. Vira as costas com a mesma facilidade com que fugiu há dois anos atrás, sem olhar para trás.

Quando ouço a porta da entrada bater, dirijo-me à casa de banho e vomito todas as margaritas que bebi juntamente com as expectativas que criei.

As circunstâncias afinal não são diferentes entre nós. Continuarei a ser sempre a segunda escolha mesmo quando nem sequer há duas opções.

Digam-me que o final deste capítulo não me magoou só a mim por favoooor

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Digam-me que o final deste capítulo não me magoou só a mim por favoooor.
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