♫ Foreign Fields - Terrible times (reprise) ♫
— Amélia? — Lucca recua no banco e vejo como fica pálido — A menina chama-se Amélia?
— Sim...
O meu olhar foca-se na casa de Amélia, do outro lado da rua. Está a escurecer e as luzes estão acesas. Vejo aquilo que parecem os pais dela dentro de casa. Parecem... felizes?
— Isto tem alguma coisa haver com o facto dela ter o nome da t...
Interrompo-o.
— Se vais a insinuar que isto tem alguma coisa que ver com a minha irmã, não o faças.
— Desculpa, eu só... Apanhou-me de surpresa.
— A mim também, mas já consegui ultrapassar isso. Tu também deverias... — olho para a ficha da inscrição da Amélia na minha mão — Quero ajudá-la porque sinto que precisa de mim. Isto não tem nada a ver com a minha irmã.
— Desculpa... — diz-me sinceramente
— Não era capaz de usar a dor dos outros para diminuir a minha. Isso é doentio.
— Ei! — puxa-me o meu rosto para si, acariciando-me — Eu sei disso. Fiquei apenas preocupado com que pudesse estar relacionado. Não quero que te magoes mais.
Ele encosta a sua testa à minha e eu respiro fundo. Compreendo o medo do Lucca, eu própria o senti. Quando comecei a ficar demasiado envolvida na história da Amélia, pensei que pudesse estar relacionado com a minha irmã.
Cheguei a pensar que era o meu cérebro a inventar tudo. Até meti em causa se a Amélia existia mesmo ou se tinha sido fruto da minha imaginação. O estranho não era alguém mostrar que precisava de ajuda. Não conseguia compreender porque é que esta menina que se tinha cruzado no meu caminho, tinha de se chamar Amélia. Achei que o meu próprio sofrimento me estava a pegar uma partida.
Tentei ajudar a minha irmã Amélia. Falhei. Ela morreu.
E agora aparecia uma menina com mesmo nome dela, visivelmente a sofrer e a precisar da minha ajuda. Era como se me estivessem a dar uma segunda oportunidade de ajudar alguém para conseguir parar de me culpar por não ter conseguido salvar a minha própria irmã.
Durante varios dias envolvi-me neste tipo de pensamentos. Tentei afastar-me da história da Amélia, não fosse o caso de estar a misturar tudo.
A verdade é que não estou. Aos poucos fui-me mentalizando de que só quero ajudar alguém que está mal. Estou aqui porque quero ajudar, não para me fazer sentir melhor a mim mesma. Não se trata do meu próprio sofrimento.
— Apesar de ainda sofrer com a morte da minha irmã, isto não tem nada a ver com ela. Esta Amélia, que está sentada naquele baloiço, é a única que existe neste momento e é a única que quero ajudar.
Ele afasta a sua testa da minha, olha-me nos olhos e sorri-me. Parece...orgulhoso?
— Vamos ajudá-la. Prometo-te!
Baixamo-nos ainda mais no banco, prontos para observar o que possa ou não possa vir a acontecer. Eu acredito nele. Vamos conseguir ajudá-la.
***
Após vários minutos tudo nos parece estranho. Amélia continua sentada no seu balouço, enquanto os seus pais continuam dentro de casa, a conversar e a rir.
Vemos Amélia levantar-se e os nossos olhares atentos seguem todos os seus passos. Não é completamente visível do ponto em que estamos mas conseguimos observar perfeitamente o momento em que Amélia entra dentro de casa. Os seus pais param automaticamente de sorrir. A mãe vira-lhe costas e o pai diz qualquer coisa a Amélia antes de ir atrás da mãe.
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O Verão Mais Quente
Roman d'amourUm acidente trágico muda o rumo da vida de Alice. Depois daquele verão fatídico, tudo mudou. Quando Lucca reaparece na sua vida, ela sente que talvez este possa ser o verão em que tudo volta a mudar. Conseguirá Alice superar os traumas do passado?