♫ Sabrina Claudio - Better version ♫
Estou em frente ao espelho do meu estúdio. Estudo os meus movimentos minuciosamente, certificando-me de que os sei de cor e que estou pronta para os ensinar. Os passos fluem tão naturalmente que fico menos nervosa a cada passo que dou.
Durante anos pensei que só me sentia eu mesma enquanto dançava. Acreditava que o único momento em que me distinguia era quando estava em cima de um palco, com as luzes apontadas a mim.
Demorei para perceber que o brilho está na pessoa, independentemente da circunstância e que, para quem amamos, vamos ser sempre o centro das atenções. Não precisamos de estar em cima de um palco para isso.
De qualquer das formas, sabe-me bem voltar a dançar. É através da dança que consigo expressar muitas das coisas que sempre tive dificuldade em demonstrar que sentia. Sou o mais transparente possível quando falo através dos meus movimentos. E, enquanto mulher, sinto-me confiante e sensual na minha própria pele.
A música termina e começa novamente em replay. Cansada e suada, dirijo-me à minha água de sabor e dou um gole. De seguida estou a limpar o suor à minha toalha quando vejo Lucca a olhar-me do canto da sala. Está sentado num sítio estratégico onde poderia facilmente ver tudo sem ser visto. Pergunto-me há quanto tempo estará ele a observar-me.
Recordo-me do dia de ontem e sinto arrepios na nuca. Fico subitamente sem palavras, o que acontece muito atualmente e sempre pelo mesmo motivo - Lucca.
Ontem, depois da praia, levei Lucca até casa dele. Fui eu a conduzir porque ele me desafiou.
Aconchegou-me a perna todo o caminho, encorajando-me e quando estávamos quase a chegar a sua casa, entrelaçou seus dedos nos meus e convidou-me para jantar lá. Isso significou mais para mim do que qualquer outra coisa.Neguei o seu convite para jantar e sei que ele percebeu o porquê sem eu o ter de dizer. Para mim, voltar a entrar naquela casa tem um significado muito importante. Só quero voltar a entrar quando tiver a certeza que consigo aguentar com o que isso me possa voltar a sentir.
Gostaria de admitir que é uma surpresa para mim ver Lucca aqui mas não o é. Quando ontem o deixei por fim em casa, ele fez questão de mencionar que não iria desistir disto, de nós.
— Olá. — aproxima-se de mim, sorrindo-me.
Malditas covinhas.
— Olá... — engulo em seco.
Ele passa suavemente o seu dedo indicador pela minha testa, retirando-me um cabelo que ficara preso pelo suor.
— Só queria desejar-te boa sorte para o teu primeiro dia como professora. És ótima nisto, vai correr bem.
Dá-me um beijo na testa e sai, sem me dar hipótese de dizer algo. Fico simplesmente parada no meio do estúdio, maravilhada com isto que acabou de acontecer. Só não me derreto no chão porque entretanto entram os meus primeiros alunos, nos seus fatos de treinos, prontos para a sua primeira aula de hip-hop.
São eles que me tiram do meu transe e, depois de lhes começar a ensinar os primeiros passos, o Lucca quase desparece dos meus pensamentos.
Curiosamente todos os meus alunos apanham os passos na perfeição. Têm entre seis e nove anos e é incrível que, apesar da diferença de idades, encaixem tão bem.
A nossa aula acaba entre brincadeiras e risos e sinto-me mesmo feliz por estar rodeada de crianças que, visivelmente, amam dançar tanto quanto eu. É marcante para mim impactar a vida de outras crianças. Sei o quanto isso pode mudar tanta coisa.
Estamos a arrumar as toalhas quando entra uma menina loira, de olhos marejados de lágrimas, olhando muito séria para mim. Dispenso os restantes meninos, antes de me aproximar dela. Baixo-me para ficar ao seu nível e agarro as suas mãozinhas quando a noto nervosa.
— Alô pequenina. Está tudo bem contigo?
— Os meus pais, eles... — funga — Eles estavam muito zangados um com o outro. E eu não consegui chegar a tempo da aula. Peço desculpa professora, posso vir amanhã?
— Claro que sim! Achas que consegues aparecer um pouco mais cedo? Assim ensino-te todos os passos que os teus colegas aprenderam hoje. Se quiseres posso falar com os teus pais...
— Não, não! Eu venho mais cedo ter consigo. Obrigada professora.
Ela dá-me o seu melhor sorriso e tenho vontade de a abraçar e protegê-la de todo o mal do mundo. Sei que não tenho esse poder mas abraço-a à mesma.
— Podes tratar-me por tu. Chamo-me Alice. — sorrio-lhe, alisando um dos seus caracóis — Como te chamas tu?
— Amélia.
O meu coração parte-se mais um pouco.
Que estão a achar da história até agora?
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O Verão Mais Quente
RomansaUm acidente trágico muda o rumo da vida de Alice. Depois daquele verão fatídico, tudo mudou. Quando Lucca reaparece na sua vida, ela sente que talvez este possa ser o verão em que tudo volta a mudar. Conseguirá Alice superar os traumas do passado?